XXV Domingo do Tempo Comum (PDF) TEXTO
Jesus não teme as perguntas dos homens; não tem medo da humanidade, nem das várias questões que a mesma coloca.
Pelo contrário, Ele conhece os «recônditos» do coração humano e, como bom pedagogo, está sempre disposto a acompanhar-nos. Fiel ao seu estilo, assume as nossas interrogações, as nossas aspirações, conferindo-lhes um novo horizonte.
Fiel ao seu estilo, consegue dar uma resposta capaz de propor novos desafios, descartando «as respostas esperadas» ou aquilo que aparentemente já estava estabelecido.
Fiel ao seu estilo, Jesus sempre propõe a lógica do amor; uma lógica capaz de ser vivida por todos, porque é para todos.
Papa Francisco, Setembro 2015
Deus quer que sejamos
Pe. António Borges da Silva, Setembro 2021
Deus quer que sejamos. É o Seu maior dom.
Para que sejamos dá-nos o tempo, cria o espaço, interpela ao crescimento, abre horizontes, ensina a mergulhar nas profundezas do sentido, desvela o mistério, desperta a sensibilidade para a beleza e para a arte, incute o anseio pelo mais, convoca à comunhão, junta em Igreja, faz caminhar…
É no modo como caminhamos que mostramos o estado de desenvolvimento do nosso ser…
É na qualidade que pomos na relação com o sagrado do Outro e dos outros que afirmamos a presença de Deus na história.
É no percurso da fé no Ser de Deus que nos predispomos a acolher os Seus sinais e a desvelar o sentido do “porquê” e do “para quê”.
É na atenção que colocamos em relação às pessoas, à criação e aos contextos que habitamos que encontramos a presença desafiadora do Espírito Santo, reflectida no eco interior.
É na intimidade com o Deus encarnado, que se doa em cada Eucaristia como alimento, que encontramos a força para ser e estar muito para além da física, da gravidade terrena, dos interesses imediatos, da finitude biológica, das imperfeições do mundo e de nós próprios…
Caríssima Comunidade,
Obrigado pelo apoio e caminho feito em conjunto…
Obrigado por tantos testemunhos de fé, de vida, de Igreja…
Obrigado pela paciência e perseverança…
Obrigado pelos gestos de comunhão…
Obrigado pelo diálogo e pelo bem servir…
Obrigado pela celebração continuada da fé…
Obrigado por existirem a caminho do Ser de Deus.
Peço a vossa oração.
A grandeza vem do serviço
Dehonianos
Jesus recebeu do Pai a missão de propor aos homens um caminho de realização plena, de felicidade sem fim; e Ele vai fazê-lo, mesmo que isso passe pela cruz.
A serenidade de Jesus vem-Lhe da total aceitação e da absoluta conformidade com os projectos do Pai.
Os discípulos mantêm-se num estranho silêncio diante deste anúncio.
Não é claro, para a mentalidade desses discípulos, é que o caminho do Messias tenha de passar pela cruz e pelo dom da vida. A morte, na perspectiva dos discípulos, não pode ser caminho para a vitória. O “não entendimento” é, aqui, o mesmo que discordância: intimamente, eles discordam do caminho que Jesus escolheu seguir, pois acham que o caminho da cruz é um caminho de fracasso.
A pergunta de Jesus: “Que discutíeis pelo caminho?” sugere que Jesus sabe claramente qual tinha sido o tema da discussão. Provavelmente, captou qualquer coisa da conversa e ficou à espera da oportunidade certa – na tranquilidade da “casa” – para esclarecer as coisas e para continuar a instrucção dos discípulos.
Apesar do que Jesus lhes tinha dito pouco antes acerca do seu caminho de cruz, os discípulos recusavam-se a abandonar os seus próprios sonhos materiais e a sua lógica humana.
Jesus ataca o problema de frente e com toda a clareza, pois o que está em jogo afecta a essência da sua proposta. Na comunidade de Jesus não há uma cadeia de grandeza, com uns no cimo e outros na base…
Na comunidade de Jesus, só é grande aquele que é capaz de servir e de oferecer a vida aos seus irmãos.
Quando abraçar uma criança é abraçar Deus
Ermes Ronchi, In “Avvenire”

Lucas Cranach, o Velho – Jesus abençoa as crianças
O Evangelho, que nos surpreende com palavras raras, entrega-nos três nomes de Jesus que vão contra-corrente – último, servidor, criança -, muito longe da ideia de um Deus omnipotente e omnisciente que herdámos.
O contexto. Jesus está a falar de coisas absolutas, de vida e de morte, está a contar aos seus melhores amigos que em breve será morto, está com o grupo dos mais confiáveis, e eis que eles não O ouvem, desinteressam-se da tragédia que cai sobre o seu mestre e amigo, todos tomados apenas pela sua competição, pequenos homens na sua carreira: quem é o maior entre nós?
Penso na ferida que se deve ter aberto n’Ele, na desilusão de Jesus. É desencorajador. Entre nós, entre amigos, uma indiferença assim seria uma ofensa imperdoável. Em vez disso, o Mestre dos corações, e isto é algo que nos conforta nas nossas fragilidades, não reprova os apóstolos, não os repudia, não Se afasta deles, e também não Se deprime.
Antes, coloca-os sob o juízo deste claríssimo e revolucionário pensamento: quem quer ser o primeiro seja o último e o servo de todos. O primado, a autoridade segundo o Evangelho deriva apenas do serviço.
Toma uma criança, coloca-a no meio, abraça-a e diz: quem acolhe um destes pequeninos, acolhe-Me.
É o modo magistral de Jesus dizer as relações: não se perde em críticas ou juízos, mas procura um primeiro passo possível, procura gestos e palavras que sabem educar. E inventa alguma coisa de inédito: um abraço e uma criança.
Todo o Evangelho num abraço, um gesto que perfuma de amor e que abre toda uma revelação: Deus é assim.
No centro da fé um abraço. Terno, caloroso. Ao ponto de fazer dizer a um grande homem espiritual: Deus é um beijo (Benedetto Calati).
Depois Jesus vai mais além, identifica-Se com os pequenos: quem acolhe uma criança, acolhe-Me. Acolher, verbo que gera o mundo como Deus o sonha.
O nosso mundo terá um futuro bom quando o acolhimento, tema incandescente hoje em todas as fronteiras da Europa, for o nome novo da civilização; quando acolher ou rejeitar os desesperados, quer estejam à fronteira ou à porta da minha casa, será considerado acolher ou rejeitar próprio Deus.; quando o serviço for o nome novo da civilização (o primeiro se faça servo de todos).
Quando dissermos a alguém, a pelo menos um dos pequenos e dos desesperados: abraço-te, tomo-te na minha vida.
Então, apertando-o a ti, sentirás que estás a apertar entre os teus braços o teu Senhor.