XI Domingo do Tempo Comum (PDF)  TEXTO

Ercole de’ Roberti, a instituição da Eucaristia

Cristo presente no meio de nós, no sinal do pão e do vinho, exige que a força do amor ultrapasse todas as dilacerações e, ao mesmo tempo, que se torne comunhão inclusive com o mais pobre, sustentáculo para quem é frágil, atenção fraterna a quantos têm dificuldade de carregar o peso da vida quotidiana, e correm o perigo de perder a própria fé.

A Eucaristia é o sacramento da unidade. Quem a recebe não pode deixar de ser artífice de unidade, porque nasce nele, no seu «DNA espiritual», a construção da unidade.
Que este Pão de unidade nos cure da ambição de prevalecer sobre os outros, da ganância de entesourar para nós mesmos, de fomentar discórdias e disseminar críticas; que desperte a alegria de nos amarmos sem rivalidades, nem invejas, nem murmurações maldizentes.
Papa Francisco, Corpus Christi, 2015

 

 

Abraçar o «Deus concreto», dar a vida

Papa Francisco, 2017

Vincent van Gogh, O Bom Samaritano

Recusar a multiplicidade de imagens de Deus que se formam a nível pessoal e na sociedade, amar as feridas de Cristo e da humanidade e estar disposto a perder a vida constituem as coordenadas da «bússola do cristão».

Não há Deus sem Cristo, porque um deus sem Cristo, desencarnado, é um deus não real. A realidade de Deus é Deus feito Cristo, por nós. Para salvar-nos. E quando nos afastamos disto, desta realidade, e nos afastamos da Cruz de Cristo, da verdade das chagas do Senhor, afastamo-nos também do amor, da caridade de Deus, da salvação, e percorremos uma estrada ideológica de Deus, distante: não é Deus que vem a nós e se fez próximo para nos salvar, e que morreu por nós. Esta é a realidade de Deus.

Num diálogo entre um agnóstico e um crente, narrado por um escritor francês do século passado: O agnóstico de boa vontade perguntava ao crente: “Mas como posso… Para mim, o problema é como Cristo é Deus, não posso compreender isso. Como é que Cristo é Deus?”. E o crente responde: “Para mim, isso não é um problema. O problema seria se Deus não se tivesse feito Cristo”. Esta é a realidade de Deus, Deus feito Cristo, Deus feito carne, e este é o fundamento das obras de misericórdia. As chagas dos nossos irmãos são as chagas de Cristo, são as chagas de Deus, porque Deus se fez Cristo.

Depois de Deus e do homem, o mapa cristão aponta para uma terceira coordenada, segundo as palavras de Cristo proclamadas nas missas desta quinta-feira: “Se alguém quiser vir após mim, renegue-se a si próprio, tome a sua cruz a cada dia e siga-Me”.

A realidade do caminho é a de Cristo: seguir Cristo, fazer a vontade do Pai, como Ele, tomar as cruzes de cada dia e renegar-se a si próprio para seguir Cristo. Não fazer aquilo que quero, mas aquilo que quer Jesus; seguir Jesus. E Ele diz que nesta estrada nós perdemos a vida, para a ganhar depois.

Trata-se de um contínuo perder a vida, perder fazer aquilo que eu quero, perder a comodidade, estar sempre na estrada de Jesus que estava ao serviço dos outros, à adoração de Deus. Esta é estrada justa, porque o único caminho seguro é seguir Cristo crucificado, o escândalo da Cruz.

 

JESUS ENSINAVA COM PERGUNTAS

Ermes Ronchi, in Avvenire

Joriskerk, Sermão de Jesus

Jesus não pede uma definição abstracta, mas o envolvimento pessoal de cada um: «E vós…». Como se dissesse: não quero coisas que tenham ouvido dizer, mas uma experiência de vida; o que é que te aconteceu quando Me encontraste?

E aqui cada um é chamado a dar a sua resposta. Cada um deve fechar todos os livros e catecismos, e abrir a vida.

Jesus ensinava com as perguntas, com elas educava para a fé, desde as suas primeiras palavras: “que procurais?”. As perguntas, palavras tão humanas, que abrem caminhos e não encerram em espaços fechados, palavras de crianças, talvez as nossas primeiras palavras, são a boca sequiosa e esfomeada através da qual as nossas vidas exprimem desejos, respiram, comem, beijam.

E vós, quem dizeis que Eu sou? Jesus estimulava a mente das pessoas para as impelir a caminhar dentro de si e a transformar a sua vida. Era um mestre da existência e queria que os seus fossem pensadores e poetas da vida. Pedro responde: Tu és o Cristo. E aqui é o ponto de reviravolta da narrativa: ordena-lhes que não falem d’Ele a ninguém. Porque ainda não viram o definitivo. Com efeito: começou a ensinar-lhes que o Filho do homem tinha de sofrer muito, ser morto e, três dias depois, ressuscitar.

Quereis saber verdadeiramente alguma coisa de Mim e de vós? Dou-vos um encontro: um homem na cruz. Antes, ainda, o encontro de Cristo será outro: alguém que se inclina a lavar os pés aos seus.

Quem é Cristo? O meu “lava-pés”. De joelhos, à minha frente. As suas mãos nos meus pés. Verdadeiramente, como Pedro, dizemos: um messias não pode fazer assim. E Ele: sou como o escravo que te espera e te lava os pés quando regressas. Tem razão Paulo: o cristianismo é escândalo e loucura.

Agora percebemos quem é Jesus: é beijo a quem O trai; não despreza ninguém, despreza-Se a si mesmo; não derrama o sangue de ninguém, derrama o próprio sangue. E depois, o encontro da Páscoa. Quando nos captura a todos dentro da sua ressurreição, arrastando-nos para o alto.

Tu, que dizes de Mim? Também eu faço a minha profissão de fé, com as palavras mais belas que tenho: Tu és o melhor da minha vida. És para mim o que a Primavera é para as flores, o que o vento é para a borrasca. Vieste e fizeste resplandecer a vida. Impossível amar-Te e não tentar assemelhar-Te, em Ti mudado/ como semente em flor (G. Centore).

 

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