Domingo II da Páscoa (PDF) TEXTO
Enquanto durar a situação de pandemia, fica suspensa a edição da Folha Informativa em papel.
Jesus já é reconhecível não tanto pelo rosto quanto pelas chagas.
Tomé considera que os sinais qualificadores da identidade de Jesus são agora sobretudo as chagas, nas quais se revela até que ponto Ele nos amou.
O caso do Apóstolo Tomé é importante para nós:
porque conforta nas nossas inseguranças; demonstra que qualquer dúvida pode levar a um êxito luminoso; e que as palavras dirigidas a ele por Jesus recordam o verdadeiro sentido da fé madura e encorajam-nos a prosseguir, apesar das dificuldades.
Papa Bento XVI, 2006
Mensagem de Páscoa do Pe. António Borges
A vida não serve se não é usada para servir.
Servimos sempre que vencemos a entropia, o medo, o mal, a preguiça e também este covid-19.
E não basta vencer estes adversários, é necessário afirmar Cristo, a Luz, o Bem, a Alegria, o Amor, a Amizade, o Acreditar.
Servir é, pois, fazer acontecer a Páscoa… vencer os vales de sofrimento e morte passando para a vida em abundância, a vida com qualidade.
Feliz Páscoa da Ressurreição!
Pe. António Borges
O meu Deus é um Deus ferido
Tomás Halik
Jesus, pela sua aparição, livrou de todas as dúvidas o apóstolo céptico, sobre a realidade da sua ressurreição; do incrédulo Tomé fez-se, de súbito, o crente.
A fé cristã consiste em estabelecer uma relação constante entre o Evangelho e a nossa vida; consiste na coragem de entrar nesta história. Trata-se de tentar redescobrir, de forma sempre nova e mais profunda, o sentido das narrativas bíblicas, com base nas próprias experiências de vida, deixar actuar as possantes e fortes imagens do Evangelho para que elas, gradualmente, iluminem, interpretem e transformem o fluxo da nossa vida pessoal.
Muitos acontecimentos, vivências, ideias e intuições do instante precisam do seu tempo para em nós amadurecerem e darem fruto.
(…) Deus, o Senhor da Antiga Aliança, apareceu a Moisés na sarça-ardente; o seu Filho unigénito, nosso Senhor e Deus, aparece no fogo do sofrimento, na cruz; e só entendemos a sua voz, quando tomamos sobre nós a nossa cruz e estamos preparados também para carregar com o fardo dos outros; só então as cicatrizes do mundo – as suas cicatrizes – se tornam para nós uma interpelação.
Jesus aproxima-se de Tomé e mostra-lhe as suas chagas: vê, o sofrimento – seja ele qual for – não se apagou nem foi esquecido! As feridas permanecem feridas. Mas aquele que tomou sobre si as nossas doenças transpôs também, na obediência, as portas do inferno e da morte, e doravante (incompreensivelmente) está aqui connosco. Mostrou-nos assim que «o amor tudo suporta». O amor, à luz deste evento, surge como um valor que não devemos remeter para a esfera do sentimentalismo; indica uma força – a única força que sobrevive à própria morte e que, com as mãos trespassadas, arromba as suas portas.
A ressurreição não é nenhum «happy-end», mas um convite e um desafio: não devemos e não podemos capitular perante o fogo do sofrimento, mesmo se agora não conseguimos extingui-lo. Frente ao mal, não podemos comportar-nos como se a última palavra houvesse de lhe pertencer. Não tenhamos medo de acreditar no amor, mesmo onde, segundo todos os critérios do mundo, ele perde. Tenhamos a coragem de apostar na loucura da cruz contra a sabedoria deste mundo!
Talvez Jesus, ao reacender a fé de Tomé pelo toque nas chagas, tenha querido que ele dissesse: Onde tu tocares no sofrimento humano– e talvez só aí! – ficas a saber que Eu estou vivo, que «Eu sou».
Encontras-Me por toda a parte onde os homens sofrem. Não fujas de Mim em nenhum destes encontros. Não tenhas medo! Não sejas incrédulo, mas crê!
Paz não é tranquilidade
Papa Francisco, 2017
Não vos deixeis enganar por uma paz tranquila, artificial e anestesiada, pendurando um aviso para não ser incomodado, típico do mundo, mas que ninguém pode fabricar para si porque não funciona. A verdadeira essência da paz que Jesus nos oferece é capaz de passar através das muitas tribulações diárias da vida, entre sofrimentos e doenças. Todavia sem nunca cair no estoicismo nem nos tornar faquires.
Jesus deixou-nos a paz, doa a paz aos apóstolos. “Não se turve o vosso coração nem se atemorize”, porque vos dou a minha paz».
O Senhor começa a despedir-Se dos seus com este dom, precisamente a paz. Mas nos Actos dos Apóstolos narra-se a viagem que Paulo e Barnabé fizeram partindo de Antioquia, e regressando de novo ali, e ouvimos tudo o que sofreram.
É esta a paz que Jesus dá? Ou Paulo não recebera a paz?. Os Actos narram como os discípulos o rodearam e ele ergueu-se e voltou para a cidade anunciar o Evangelho. Com o seu estilo, tinha conquistado um número considerável de discípulos e antes de partir ordenou sacerdotes, presbíteros, para que cuidassem daquele povo. Resumindo, Paulo continuava a trabalhar. E não obstante tudo fortalecia a alma dos discípulos, encorajando-os a manterem-se firmes na fé, afirmando: «Temos que sofrer muitas tribulações para entrar no Reino de Deus».
Por conseguinte, é uma paz no meio das tribulações. Por essa razão quando Jesus oferece este dom e diz aos discípulos “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz”, acrescenta “não vo-la dou como o mundo a dá”.
Com efeito, aquela que nos oferece o mundo é uma paz sem tribulações: artificial, mais que paz é tranquilidade. Como se disséssemos «por favor, não me incomodem: quero estar tranquilo».
Poder-se-ia dizer que o mundo nos oferece uma paz que se importa só com as próprias situações, com as próprias seguranças e que nunca falte nada.
A figura do rico Epulão, homem que vivia em paz, feliz, sempre junto com os amigos, que eram interesseiros porque iam ter com ele para comer bem naquela casa, pelas festas. Assim estavam todos tranquilos mas também fechados: não viam além.
O mundo anestesia-nos para que não vejamos outra realidade da vida: a cruz. Por este motivo: Paulo diz que para entrarmos no Reino de Deus temos de sofrer muitas tribulações. Mas podemos ter paz na tribulação? Se depender de nós, não, porque só somos capazes de obter uma paz que seja tranquilidade, uma paz psicológica, contudo as tribulações existem: há quem tem uma dor, quem tenha uma doença, uma morte. Ao contrário a paz que Jesus oferece é um dom: um dom do Espírito Santo.
Uma paz que resiste no meio das tribulações e vai em frente: não é uma espécie de estoicismo. É precisamente outra coisa, é um dom que nos faz ir em frente. A ponto que Jesus, depois de ter proferido isto, foi ao horto das Oliveiras, dizendo-lhes: “Já não falarei muito convosco pois vai chegar o príncipe deste mundo”. E acrescentou “Ele nada pode contra Mim, mas é para que o mundo saiba que Eu amo o Pai, que faço como o Pai Me mandou. Levantai-vos, vamo-nos daqui”. De facto lê-se no Evangelho: “Apareceu-lhe um anjo do céu para O consolar”.
Quando me enraiveço e perco a paz, quando o meu coração se turva, é porque não estou aberto à paz de Jesus; porque não sou capaz de levar a vida como ela se apresenta, com as cruzes e as dores que chegam: porque não sou capaz de rezar: “Senhor, dai-me a vossa paz”». O Senhor nos faça compreender como é esta paz que Ele nos oferece com o Espírito Santo».