Domingo II do Tempo Comum (PDF) TEXTO
Será que somos capazes de levar a palavra de Deus ao ambiente em que vivemos?
Sabemos como falar de Cristo, do que Ele representa para nós, nas nossas famílias, entre as pessoas que fazem parte de nossa vida diária?
A fé nasce da escuta, e é reforçada pela proclamação.
Não podemos alimentar o rebanho de Deus se não nos deixarmos levar pela vontade de Deus, mesmo quando preferimos não ir, a não ser que estejamos preparados para dar testemunho de Cristo com o dom de nós mesmos, sem reservas, não de forma calculista, às vezes mesmo com o custo de nossas vidas.
Papa Francisco, 2013
Abraçar a pequenez, renunciar à exaltação
Henri Nouwen, In “O esvaziamento de Cristo”
Nunca chegaremos a conhecer a nossa verdadeira vocação na vida, a menos que estejamos dispostos a aceitar o apelo radical que o Evangelho nos faz. Ao longo dos últimos vinte séculos, muitos cristãos ouviram este apelo e responderam-lhe num espírito de verdadeira obediência.
Uns tornaram-se eremitas do deserto, ao passo que outros se tornaram servos na cidade.
Uns partiram para terras distantes como pregadores, professores e médicos, ao passo que outros ficaram onde estavam e formaram a sua família, trabalhando fielmente.
Uns tornaram-se famosos, enquanto outros continuaram a ser desconhecidos.
Embora as suas respostas revelem uma diversidade extraordinária, todos estes cristãos aceitaram o apelo para seguir Cristo sem condescendências.
Independentemente da forma particular que conferimos à nossa vida, a chamada de Jesus ao discipulado é primordial, tudo abrangendo, tudo incluindo, e exigindo um compromisso total.
Não podemos ser apenas um bocadinho a favor de Cristo, dar-Lhe um pouco de atenção, ou fazer d’ Ele apenas uma de entre muitas outras preocupações.
Será possível seguir Cristo ao mesmo tempo que se dá resposta às exigências do mundo, escutar Cristo e prestar igual atenção aos outros, carregar a cruz de Cristo, ao mesmo tempo que se carrega muitos outros fardos?
Jesus estabelece, certamente, uma distinção muito clara. «Ninguém pode servir a dois senhores», insistia Ele, não hesitando em confrontar-nos com as exigências firmes do seu apelo: «Como é estreita a porta e quão apertado é o caminho que conduz à vida (…). Quem amar o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim».
Estas palavras de desafio não são dirigidas apenas a alguns dos discípulos de Jesus que têm aquilo a que se pode chamar «vocação especial». Pelo contrário, dirigem-se a todos os que se consideram cristãos, indicando a natureza radical do apelo. Não existe nenhuma forma fácil de seguir Cristo.
A história da nossa salvação sobrepõe-se e resiste radicalmente à filosofia do movimento ascendente.
O grande paradoxo que nos revela a Escritura é que a verdadeira e total liberdade só se pode encontrar através do movimento descendente.
No centro da nossa fé cristã encontra-se o mistério que Deus escolheu para revelar o mistério divino mediante a submissão sem reservas ao impulso descendente. Deus não só escolheu um povo insignificante para transmitir a Palavra da salvação ao longo dos séculos, não só escolheu um pequeno resto desse povo para cumprir as promessas divinas, não só escolheu uma humilde jovem de uma cidade desconhecida da Galileia para a tornar o templo da Palavra, mas também decidiu manifestar a plenitude do amor divino num homem cuja vida desembocou numa morte humilhante fora das muralhas da cidade.
Com efeito, aquele que estava com Deus desde o princípio e que era Deus revelou-Se como uma criança pequena e indefesa; como refugiado no Egipto; como adolescente obediente e adulto discreto; como discípulo penitente do Baptista; como pregador da Galileia, seguido por alguns simples pescadores; como homem que comia com pecadores e conversava com estranhos; como marginal, como criminoso e como ameaça para o seu povo. Passou do poder para a impotência total, da grandeza para a pequenez, do êxito para o fracasso, da força para a fraqueza, da glória para a ignomínia.
Toda a vida de Jesus de Nazaré resistiu a qualquer movimento ascendente.
O evangelho inverte radicalmente os pressupostos da nossa sociedade em movimento ascendente. É um desafio estranho e perturbador.
Algures, no fundo dos nossos corações, nós já sabemos que o êxito, a fama, a influência, o poder e o dinheiro não nos transmitem a alegria e a paz interiores por que ansiamos.
Algures podemos até sentir uma certa inveja daqueles que se despojaram de todas as falsas ambições e que encontraram uma realização mais profunda na sua relação com Deus.
Vocação é escuta, discernimento e vida
Papa Francisco
Na diversidade e especificidade de cada vocação, pessoal e eclesial, é preciso escutar, discernir e viver a Palavra, que nos chama do Alto e, ao mesmo tempo, nos permite render os talentos, fazendo de nós instrumentos de salvação no mundo e orientando-nos à plenitude da felicidade.
O chamamento do Senhor não é evidente, como tantas coisas que podemos ouvir, ver ou tocar na nossa experiência diária.
Deus vem de forma silenciosa e discreta, sem Se impor à nossa liberdade.
Assim, pode acontecer que a sua voz fique sufocada pelas muitas inquietações e solicitações que ocupam a nossa mente e o nosso coração.
Ler os sinais dos tempos com os olhos da fé
Por isso, é preciso preparar-se para uma escuta profunda da sua Palavra, prestar atenção aos seus detalhes diários e aprender a ler os sinais dos tempos com os olhos da fé, sempre abertos às surpresas do Espírito.
Porém, cada um de nós pode descobrir a própria vocação através do discernimento espiritual.
Hoje temos grande necessidade do discernimento e da profecia, para superar as tentações da ideologia e do fatalismo.
Todo o cristão deveria desenvolver a capacidade de ler os acontecimentos da vida e identificar o que o Senhor quer de si, para continuar a sua missão.
A vocação realiza-se hoje!
A missão cristã é para o momento presente!
Cada um de nós é chamado – à vida laical no matrimónio, à vida sacerdotal no ministério ordenado, ou à vida de especial consagração – a ser testemunha do Senhor, aqui e agora.
O Senhor continua a chamar-nos a segui-l’O.
Respondamos a Ele com o nosso generoso “sim”: “Eis-me aqui”.