XXV Domingo do Tempo Comum (PDF) TEXTO

Ghirlandaio, Chamamento dos Apóstolos

Misturemo-nos na cidade dos homens, colaboremos activamente para o encontro com as diversas riquezas culturais, empenhando-nos juntos para o bem comum de cada um e de todos.

Caminhar juntos é a via constitutiva da Igreja, e só dessa forma é possível enfrentar a complexidade do mundo actual, decidindo continuar com «parrésia» o percurso feito até agora.

Este caminho é marcado também por fechamentos e resistências: as nossas infidelidades são uma pesada hipoteca colocada sobre a credibilidade do testemunho do depósito da fé, uma ameaça bem pior do que aquela que provém do mundo com as suas perseguições.

Voltemos às coisas que contam verdadeiramente: fé, o amor ao Senhor, o serviço praticado com alegria e gratuidade.

A condenação mais severa abate-se sobre a tepidez do compromisso, a indecisão calculada, a insídia da ambiguidade.

À Igreja é pedida audácia para evitar a habituação a situações que estão de tal forma radicadas que parecem normais ou inultrapassáveis. A profecia não exige rasgões mas escolhas corajosas, que são próprias de uma verdadeira comunidade eclesial.

Papa Francisco, 2017

O cristão existe para servir

Papa Francisco, 2018

Benvenuto Tisi, Cristo lava os pés aos apóstolos

Quanto poderia aprender cada cristão se, com «humildade», se deixasse ver por Jesus «com o mesmo olhar» com o qual o Mestre fitou os seus amigos durante a última Ceia.

Poderia partilhar o privilégio que os apóstolos tiveram de receber e entender o que significa para a sua vida a «herança de Jesus», o «testamento» que Ele confiou com dois gestos: a instituição da Eucaristia e o lava-pés.

Há um momento triste, de angústia: aquele no qual Jesus, que sabe o que acontecerá, faz o longo e bonito discurso contido nos capítulos de João, que precede as horas do Getsémani e da Paixão.

Nesta despedida, o Senhor faz dois gestos que são instituições: dois gestos para os discípulos e para toda a Igreja futura. Dois gestos que são, por assim dizer, o fundamento da sua doutrina: a instituição da Eucaristia e o lava-pés. Destes gestos nascem dois mandamentos: os dois mandamentos que levarão a Igreja a crescer, se formos fiéis.

Antes de tudo há o primeiro mandamento que é o do amor. E é novo pois havia o mandamento do amor — amar o próximo como a si mesmo — mas este dá mais um passo: amar o próximo como Eu vos amei. Portanto: amor ilimitado, sem o qual a Igreja não progride nem respira. Sem o amor, ela não cresce, transforma-se numa instituição vazia, de aparências, de gestos infecundos. Com a Eucaristia, na qual Jesus oferece como alimento o seu Corpo e como bebida o seu Sangue, Ele diz como devemos amar, até ao fim.

Depois há outro gesto, o do lava-pés, em que Jesus nos ensina o serviço, como caminho do cristão. Com efeito, o cristão existe para servir, não para ser servido. E é uma regra válida para a vida inteira. Tudo está contido nela: na história, muitos homens e mulheres que a levaram a sério deixaram vestígios de uma vida verdadeiramente cristã: de amor e de serviço. O Papa resumiu: Eis a herança de Jesus: “Amai-vos como Eu amei” e “servi-vos uns aos outros”. Lavai os pés uns aos outros, como Eu os lavei a vós.

Portanto, na última Ceia o Senhor deixou os dois mandamentos do amor e do serviço, e depois uma admoestação: «Deveis amar-vos como servos, deveis servir porque sois servos». E a explicação destas palavras é também uma regra de vida: “Em verdade, em verdade vos digo: o servo não é maior do que o seu Senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou”.

Isto é: «podeis celebrar a Eucaristia, podeis servir, mas enviados por Mim, mandados por Mim. Não sois maiores do que Eu.
Em síntese, trata-se da atitude da humildade simples, não fingida: da humildade que vem da consciência de que Ele é maior do que todos nós, e nós somos servos, e não podemos ultrapassar Jesus, não O podemos usar. Ele é o Senhor, não nós. Ele é o Senhor.

Portanto, eis o testamento do Senhor. Oferece-Se como alimento e bebida e diz-nos: amai-vos assim. Lava os pés, dizendo-nos: servi-vos assim, mas prestai atenção, o servo nunca é maior do que aquele que o envia.

São palavras e gestos contundentes. Mas se avançarmos com estas três coisas, nunca erraremos. Nunca!. Radical, forte mas «simples».
De resto, os mártires foram em frente assim. E também muitos santos anónimos, na vida da Igreja, fizeram assim – os santos escondidos – com esta consciência de ser servos.

Um programa de vida relativamente ao qual há uma admoestação: “Eu conheço aqueles que escolhi”. Com efeito, o Senhor diz: “Sei que um de vós Me trairá”. Que significa? Significa que Jesus conhece-me. Por isso, acho que nos fará bem a todos, num momento de silêncio, deixar-nos olhar pelo Senhor e fitá-l’O, reconhecer que Jesus nos ensinou o amor com a Eucaristia e o serviço com o lava-pés, entender que ninguém é maior do que aquele que o enviou, conscientes de estar diante de quem nos conhece.

Nesse momento, é bom deixar que o olhar de Jesus entre em nós. Sentiremos muitas coisas: sentiremos amor, ou talvez fiquemos bloqueados, com vergonha. Contudo deixemo-nos ver sempre pelo olhar de Jesus. O mesmo olhar com o qual, na última Ceia, Ele fitava os seus. É uma meditação em que o homem pode dizer humildemente: «Senhor, Tu conheces, Tu sabes tudo», como Pedro afirmou em Tiberíades: «Tu conheces, Tu sabes tudo. Tu sabes que Te amo». Com efeito, o Senhor sabe o que existe no coração de cada um.

 

Comunidades co-responsáveis e missionárias

Cónego José Manuel dos Santos Ferreira
Prior de São Francisco Xavier

“Iniciamos o ano pastoral 2022-2023 com o horizonte cada vez mais próximo e definido da Jornada Mundial da Juventude, que se realizará entre nós na primeira semana de Agosto de 2023. Com o Papa Francisco, queremos que ela seja para grande número de jovens de todo o mundo uma ocasião por excelência de renovar a esperança e reforçar a solidariedade, após tempos difíceis de pandemia, guerras e dificuldades de subsistência em geral”.

Assim inicia o Senhor Cardeal Patriarca, D. Manuel Clemente, a sua Carta aos diocesanos de Lisboa no início do ano pastoral 2022-2023, publicada no passado dia 1 de Setembro de 2022. Não esconde as dificuldades, mas desafia-nos a uma atitude de esperança, vivida na caridade, na amizade e na solidariedade.

E logo depois salienta a grande oportunidade – a enorme graça! – que esta preparação próxima da JMJ 2023 vai representar para todas as comunidades cristãs, e em particular para as paróquias:

“Tomemo-la como oportunidade para praticarmos aquela “sinodalidade” que hoje é tão requerida na Igreja local e universal. A realização da Jornada só pode acontecer como “caminho conjunto”, em que as capacidades de cada um são reconhecidas e suscitadas, rumo a um objectivo comum e evangelizador”.

É agora que a “sinodalidade” vai mesmo ser posta à prova, isto é, provada, experimentada, confirmada. E vai sê-lo, não na tranquilidade de um encontro à volta de uma mesa, mas no concreto de uma tarefa, ou de inúmeras tarefas, que vão exigir muita dedicação, muito esforço, muita coordenação, muita capacidade de escuta e de obediência, como necessariamente acontece numa peregrinação a pé a um santuário ou na subida a uma alta montanha, em que não há caprichos nem egoísmos, mas uma atenção constante de uns pelos outros, e sobretudo o desejo e o grande empenho por parte de cada um de atingir esse objectivo comum a todos.

Com grande visão de futuro, o Senhor Cardeal Patriarca antevê desde já um dos mais preciosos frutos, que, entre muitos outros, vão ficar para a Igreja de Lisboa e para as diversas comunidades, depois da JMJ 2023:

“Creio mesmo que a actividade dos comités paroquiais, vicariais, diocesanos e outros, em colaboração com o central (COL), incluindo tantos milhares de jovens nas mais diversas tarefas, criará um bom hábito de participação, decisão e iniciativa que permanecerá e revitalizará as nossas comunidades, tornando-as mais co-responsáveis e missionárias. – Poderá ser mesmo esse o principal fruto da JMJ, com largo futuro por diante!”

“Co-responsáveis e missionárias”: assim deverão ser, cada vez mais, as comunidades católicas, e assim desejo que o seja – cada vez mais – a nossa Paróquia. Em São Francisco Xavier, a co-responsabilidade continuará a ter sua expressão privilegiada no exercício das funções e competências próprias do Conselho para os Assuntos Económicos, que as tem exercido com grande empenho e dedicação, e também do Conselho Pastoral Paroquial, com o seu Secretariado Permanente, que em breve voltarão a reunir-se, para perspectivar e lançar o novo ano pastoral. E quanto à dimensão missionária, sabemos que ela é uma dimensão constitutiva da vida da Igreja, mas também é muito pessoal e própria de cada fiel, onde quer que se encontre, mediante o seu apostolado, que pode concretizar-se de muitas formas, no trabalho, na família, entre os amigos, em qualquer ambiente ou lugar.

Entretanto, uma outra preciosa riqueza que a Jornada Mundial da Juventude 2023 vai trazer, será a oportunidade dada a numerosas famílias de acolherem muitos jovens, vindos das mais diversas partes do mundo. Peço que as famílias de Sã Francisco Xavier se disponibilizem e comecem desde já a preparar-se para esse grande dom que será receberem nas suas casas um ou mais jovens, de entre os muitos milhares que virão até nós, proporcionando-lhes esse ambiente caloroso e acolhedor de uma família católica, e partilhando com eles o entusiasmo de celebrar a fé e a comunhão em Cristo, na sua Igreja, que todos, partindo apressadamente com Maria, iremos viver na nossa cidade de Lisboa, na JMJ 2023.

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