Domingo VI da Páscoa (PDF)     TEXTO

Enquanto durar a situação de pandemia, fica suspensa a edição da Folha Informativa em papel.

 

A linguagem humana será sempre limitada  para descrever a força do Espírito do Ressuscitado.

Derramado sobre o mundo criado, o Espírito do Senhor é motor de nova criação, ponto culminante da Páscoa de Cristo.

Sem negar a história da antiga aliança, Deus parece ter de novo o barro nas mãos, um novo barro sem as impurezas do passado, para que, a partir do sopro criador, uma humanidade nova se possa desenhar e, com a força do Espírito Santo, chegar à cidade dos santos.

Também em Fátima assistimos à força do Pentecostes, na multiplicidade dos peregrinos que, na oração, formam um grande cenáculo.

Virgem de Fátima, Senhora do Pentecostes, intercedei junto de Cristo a fim de sermos nova criação!

Marco Duarte, Santuário de Fátima

O Espírito está aqui

Papa S. Paulo VI, discurso na inauguração da terceira sessão do Concílio Ecuménico Vaticano ii, 1964

Nossa Senhora e o Espírito Santo, fresco na Galeria Recanati, Itália

Bem sabemos que são dois os elementos que Jesus Cristo prometeu e enviou de maneira diversa, ambos destinados à continuação da sua obra, à extensão no tempo e no espaço do reino por ele fundado. Da humanidade remida farão a sua Igreja, o seu Corpo místico, a sua plenitude, na expectativa do seu regresso definitivo e triunfal na consumação dos séculos: estes elementos são o apostolado e o Espírito.

O apostolado é o agente externo e objectivo, forma o corpo por assim dizer material da Igreja, dá-lhe as suas estruturas visíveis e sociais; o Espírito Santo é o agente interno, que influi no interior de cada pessoa, como influi na comunidade inteira, animando, vivificando e santificando.

Estes dois agentes, o apostolado, hoje exercido pela sagrada Hierarquia, e o Espírito de Jesus, que a torna instrumento ordinário seu no ministério da Palavra e dos Sacramentos, exercem ao mesmo tempo a sua actividade: no Pentecostes viram-se maravilhosamente associados no princípio da grande obra de Jesus, que agora é invisível, mas está sempre presente nos seus apóstolos e nos sucessores deles, «que estabeleceu como pastores, encarregados de perpetuar a sua obra» (6); ambos, de modo diferente sem dúvida, mas convergente, dão testemunho a Cristo Senhor Nosso, aliando-se dum modo que dá virtude sobrenatural à obra apostólica (7).

Será possível crermos que ainda vigora este plano de acção salvífica, que nos aplica e em nós consuma a Redenção de Cristo? Sim, Irmãos; mais, devemos crer mesmo que é por meio de nós que esse plano continua a realizar-se, devido a uma capacidade e suficiência que nos vêm de Deus, «que nos tornou idóneos ministros duma Aliança nova, Aliança não da letra, mas do Espírito… que vivifica» (8).

Duvidar seria ofender a fidelidade de Cristo às suas promessas, seria trair o nosso mandato apostólico, seria privar a Igreja da certeza da sua indefectibilidade, garantida pela divina palavra e comprovada pela experiência histórica. O Espírito está aqui. Não para reforçar com graça sacramental a obra que nós todos, reunidos em Concílio, vamos realizar, mas sim para a iluminar e guiar para bem da Igreja e da humanidade inteira. O Espírito está aqui. Nós invocamo-lo e esperamo-lo, nós seguimo-lo.

O Espírito está aqui. Recordemos esta doutrina e esta realidade presente, primeiro para tomarmos mais uma vez consciência — em plenitude e, se possível, num grau inefável — da nossa comunhão com Cristo vivo: é o Espírito Santo que nos une com Ele. Esta lembrança ajudar-nos-á a colocarmo-nos diante dele numa atitude. ansiosa de completa disponibilidade; far-nos-á sentir dentro de nós o vazio humilhante da nossa miséria e a necessidade de implorar misericórdia e ajuda; e permitirá que ouçamos, como se fossem pronunciadas nos recônditos secretos da nossa alma, as palavras do Apóstolo: «Investidos deste ministério que nos foi conferido por misericórdia, não desanimamos…»
(…)
A Igreja deve definir-se a si mesma, deve haurir, da consciência que tem de si mesma, a doutrina que o Espírito Santo lhe dita, segundo a promessa do Senhor: «O Espírito Santo Paráclito, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse»

 

Invoca o Espírito Santo

Monastero di Bose

Toma a Bíblia, leva-a com reverência porque é corpo de Cristo, faz a invocação do Espírito que presidiu à geração da Palavra, é Ele que a fez falar e escrever através dos profetas, os sábios, Jesus, os apóstolos, os evangelistas, é Ele que a deu à Igreja e a fez migrar intacta até ti.
Ditada pelo Espírito Santo, só pelo Espírito Santo se torna compreensível.

Predispõe tudo para que o Espírito desça – “Vem ó Santo Espírito” – sobre ti e com a sua força remova o véu dos teus olhos, para que vejas o Senhor.
É o Espírito que dá vida, ao passo que só a letra mata. Esse Espírito que desceu sobre a Virgem Maria com a sombra do seu poder e gerando nela o “Lógos”, a Palavra feita carne, esse Espírito que, descido sobre os apóstolos, lhes concedeu chegarem à verdade inteira, deve fazer o mesmo sobre ti: em ti gerar a Palavra, da totalidade da verdade fazer partícipe. Leitura espiritual significa leitura no Espírito Santo e com o Espírito Santo das coisas ditadas pelo Espírito Santo.

Espera-O, porque se tardar Ele não falhará. Fica certo da Palavra de Jesus: «Se vós, sendo maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quando mais o Pai dará o Espírito Santos àqueles que Lho pedirem!».

Ouvirás dentro de ti a sua palavra eficaz: «Abre-te!» e já não te sentirás só, mas acompanhado diante do texto bíblico: como o etíope que lia Isaías mas não compreendia, até que chegou junto dele Filipe, que com o Espírito Santo recebido no Pentecostes lhe abriu o texto e assim lhe mudou o coração, como os discípulos a quem o Senhor ressuscitado abriu a mente à inteligência das Escrituras.

Sem a invocação do Espírito, a “lectio divina” permanece um exercício humano, esforço intelectual, no melhor dos casos apreendimento de sabedoria, e não de sabedoria divina.

Reza como és capaz, como o Senhor te concede, ou então reza também assim:
«Deus nosso, Pai da luz, enviaste ao mundo a tua Palavra, sabedoria saída da tua boca, que dominou todos os povos da Terra. Quiseste que ela tomasse morada em Israel e que através de Moisés, os profetas e os salmos manifestasse a tua vontade e falasse ao teu povo do Messias Jesus.
Por fim quiseste que o teu próprio Filho, Palavra eterna junto de ti, Se tornasse carne e pusesse a sua tenda entre nós, nascido de Maria e concebido pelo Espírito Santo.
Envia agora sobre mim o Espírito Santo, para que me dê um coração capaz da escuta, permita-me encontrá-lo nestas Santas Escrituras e gere o Verbo em mim. Esse teu Espírito Santo tire o véu dos meus olhos, conduza-me a toda a verdade, dê-me inteligência e perseverança.
Peço-to por Cristo, o Senhor nosso, bendito pelos séculos dos séculos. Ámen!».

 

 

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