Domingo VI do Tempo Comum (PDF)     TEXTO

A PORTA DA FELICIDADE ABRE-SE PARA FORA

Sermão da Montanha, Fra Angelico

Para ser feliz, não é solução repetir-se constantemente: “Tenho de ser feliz”.

Tenho, isso sim, de encontrar um motivo que me faça feliz, que me ajude a manter
a serenidade diante das inevitáveis contrariedades.

E esse motivo encontra-se para lá da própria felicidade. Por isso, devemos procurar metas fora de nós mesmos, pondo em movimento uma das maiores capacidades que temos pelo facto de sermos seres espirituais: a capacidade de nos auto-transcendermos.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria

 

AS BEM-AVENTURANÇAS, CHAMAMENTO EXISTENCIAL

Pe. Tolentino de Mendonça

Anunciação, Piermatteo d’Amelia

As bem-aventuranças são mais do que uma lei, representando uma configuração da vida, um verdadeiro chamamento existencial.
Elas traçam a arte de ser aqui e agora, ao mesmo tempo que apontam para o horizonte da plenitude escatológica, ou seja, o tempo eterno após a morte, para o qual convergimos.
Por outro lado, as bem-aventuranças são igualmente o auto-retrato de Jesus mais exacto e fascinante, a chave da sua vida, pobre em espírito, manso e misericordioso, sedento e homem de paz, com fome de justiça e com a capacidade de acolher todos.

As bem-aventuranças são a imagem de Si próprio que Ele incessantemente nos revela e imprime nos nossos corações.

Mas são também o seu retrato que nos deve servir de modelo no processo de transformação do nosso próprio rosto, no qual devemos aprofundar a imagem e semelhança espirituais que liga cada dia o nosso destino ao destino de Jesus.

Não a um cristianismo de sobrevivência A sede de Deus é fazer com que a vida das suas criaturas seja uma vida de bem-aventurança. Como? Resgatando as nossas vidas com um amor e uma confiança incondicionais. É este o seu método, é esta a bem-aventurança que nos salva. É este espanto do amor que nos faz começar de novo, esta sede que nos consegue arrancar do exílio a que fizemos aportara nossa vida.

Por isso não nos basta um cristianismo de sobrevivência, nem um catolicismo de manutenção. Um verdadeiro crente, uma comunidade crente, não pode viver só de manutenção: precisa de uma alma jovem e enamorada, que se alimenta da alegria da procura e da descoberta, que arrisca a hospitalidade da Palavra de Deus na vida concreta, que parte ao encontro dos irmãos no presente e no futuro, que vive no diálogo confiante e oculto da oração.

É urgente redescobrir a bem-aventurança da sede: a pior coisa para um crente é estar saciado de Deus. Pelo contrário, felizes aqueles que têm fome e sede de Deus: a experiência da fé, com efeito, não serve para resolver a sede, mas para dilatar o nosso desejo de Deus, para intensificar a nossa procura. Precisamos, talvez, de nos reconciliar mais vezes com a nossa sede, repetindo a nós próprios: A minha sede é a minha bem-aventurança.

A Igreja como Maria. É importante não olhar para a bem-aventurança de Maria em chave abstracta, mas real e concreta. O seu diálogo com Deus, no momento em que o anjo lhe anuncia que Deus lhe propõe ser mãe do seu Filho, é franco, não deixa de fora emoções, surpresas e dúvidas, até à confiança incondicional e ao seu sim.

Deus salva-nos não apesar de nós, mas com tudo aquilo que nós somos, e isso faz-nos enfrentar a vida com renovada confiança. O estilo mariano deve ser o modelo inspirador do viver: Maria acolhedora, que escuta e está aberta à vida; Maria honesta na sua relação com Deus; Maria ao serviço de um projecto maior. Sem Maria, a Igreja arrisca desumanizar-se, tornar-se funcionalista, uma fábrica febril incapaz de parar.

 

AS BEM-AVENTURANÇAS DO PAPA FRANCISCO

Papa Francisco, 1 Novembro de 2015

O caminho para alcançar a verdadeira bem–aventurança, o caminho que conduz ao Céu, é difícil de compreender porque vai contra-corrente, mas o Senhor diz-nos que quem vai por este caminho é feliz.

Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Tendo o coração despojado e livre de tantas coisas mundanas, uma pessoa pobre de coração está à espera do Reino dos Céus.

Felizes aqueles que choram, porque serão consolados. Quem na vida nunca experimentou a tristeza, a angústia, a dor, nunca conhecerá a força da consolação.

Felizes podem ser quantos têm a capacidade de se comoverem, de sentirem no coração a dor que está na sua vida e na dos outros. A terna mão de Deus consolá-los-á e acariciá-los-á.

Felizes os mansos. Quantas vezes somos impacientes, nervosos, sempre prontos a lamentar-nos! Para os outros temos muitas reivindicações, mas quando nos tocam, reagimos levantando a voz, quando na realidade somos todos filhos de Deus. Jesus suportou a perseguição e o exílio; as calúnias, armadilhas, falsas acusações em tribunal; e tudo suportou com mansidão. Até a cruz.

Felizes aqueles que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Aqueles que têm um forte sentido da justiça, para com os outros, e para consigo próprios, serão saciados porque estão prontos a acolher a maior justiça, aquela que só Deus pode dar.

Felizes os misericordiosos, porque encontrarão misericórdia. Aqueles que sabem perdoar, que não julgam tudo e todos, mas procuram meter-se na pele dos outros. O perdão é a coisa de que todos temos necessidade.

Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Aqueles que cada dia, com paciência, procuram semear paz, reconciliação, estes sim, são felizes porque são verdadeiros filhos do nosso Pai do Céu, que semeia sempre e só paz, ao ponto de ter enviado o seu Filho ao mundo como semente de paz para a humanidade.