Domingo II do Tempo Comum (PDF)  TEXTO

Eugène Burnand, Pedro e João

O chamamento é sempre uma iniciativa de Deus, que vem ao encontro do homem e o chama pelo nome.

Ao homem é pedido que se coloque numa atitude de total disponibilidade para escutar a voz e os desafios de Deus.

O discípulo é aquele que é capaz de reconhecer no Cristo que passa o Messias libertador, que está disponível para seguir Jesus no caminho do amor e da entrega, que aceita o convite de Jesus para entrar na sua casa e para viver em comunhão com Ele, que é capaz de testemunhar Jesus e de anunciá-l’O aos outros irmãos.

Dehonianos

 

 

Que procurais?

Ermes Ronchi, in Avvenire

Sir John Millais, À procura da moeda perdida

Um vizinho encontrou o Sr. Simão de gatas, em plena rua, à procura de alguma coisa no chão.

«Que procuras, amigo?» Simão, erguendo o olhar como quem pede ajuda, respondeu: «A minha chave. Perdi-a». Por isso o bom vizinho ajoelhou-se ali mesmo e os dois puseram-se à procura da chave perdida. Passado largo tempo, o vizinho perguntou-lhe: «Onde a perdeste?».

Simão, quase como se se desculpasse, com uma voz que saía para dentro, respondeu: «Dentro de casa». «Santo Deus! Então porque é que andamos à procura no meio da rua?» «Porque aqui há mais luz» (tomado com alguma liberdade criativa de Anthony de Mello, “O canto do passáro”).

É uma verdade bastante óbvia, mas estou convencido de que não só é importante saber o que estamos à procura, como também ter claro onde o fazer; quando queremos aproximar-nos de Deus temos de clarificar primeiro o que é que procuramos, o que é que queremos d’Ele; por que O invocamos, o que Lhe pedimos… Mas isto não basta.

Também é importante definir muito bem onde O vamos procurar; porque pode ser que haja lugares aparentemente iluminados que nos parecem mais próprios para encontrar Deus; e, todavia, Ele pode estar à nossa espera noutro lugar menos luminoso, como a nossa vida normal e quotidiana.

Costumo começar a experiência dos Exercícios Espirituais perguntando às pessoas «o que procuram?», porque me parece fundamental que cada uma estabeleça o seu próprio encontro com o Senhor esclarecendo, para si mesma, o que a leva a procurá-l’O. As motivações que se desvelam diante de nós são muito variadas e, muitas vezes, contraditórias. O milagre que essa experiência realiza é muito simples: quando aclaramos o que procuramos, quando dizemos que procuramos Deus, então começa a concretizar-se o lugar onde O devemos procurar.

Uma pergunta como esta foi a que Jesus lançou um dia a dois dos discípulos de João Baptista, que o seguiam pelo caminho: «Que procurais?» Eles disseram: «Mestre, onde vives?». A resposta foi: «Venham e vejam». A Igreja propõe-nos este texto do Evangelho porque quer suscitar em nós a fome do encontro com Deus e o desejo de saber mais d’Ele.

Peçamos-Lhe, neste início do tempo comum litúrgico, que Ele nos mostre onde vive, para que O conheçamos cada vez mais, para que mais O amemos e O sigamos nas nossas vidas. O importante é não acabarmos como o protagonista da história, procurando onde Ele não está.

A cada qual o seu encontro

Papa Francisco, Abril 2015

Cada homem tem um encontro pessoal com o Senhor. Um encontro verdadeiro, concreto, que pode mudar radicalmente a vida. O segredo não consiste só em aperceber-se dele, mas também em nunca dele perder a memória, para preservar o seu vigor e beleza.

Duas sugestões práticas: rezar para pedir a graça de recordar e reler o Evangelho para se reconhecer nos tantos encontros de Jesus.

Saulo – Paulo estava convicto da sua doutrina, até zeloso. Este zelo levava-o a perseguir este novo caminho que tinha nascido ali, ou seja os cristãos. Depois, aconteceu o que ouvimos e que todos sabemos: aquela visão, e ele caiu do cavalo. Naquele ponto, o Senhor fala-lhe: “Saulo, Saulo, por que Me persegues?” – “Quem és Senhor?” – “Eu sou Jesus”.

Trata-se do encontro de Paulo com Jesus.
Até àquele momento Paulo pensava que tudo o que os cristãos diziam eram histórias. Mas eis que se encontra com Ele e nunca esquecerá esse encontro: muda a sua vida e fá-lo crescer no amor a este Senhor que antes perseguia e agora ama. Um encontro que leva Paulo a anunciar ao mundo como instrumento de salvação o nome de Jesus. Eis portanto o que aconteceu e o que significou o encontro de Paulo com Jesus.

Na Bíblia há tantos encontros. Também no Evangelho. E são todos diversos entre si. E assim deveras cada qual tem o próprio encontro com Jesus. Pensemos nos primeiros discípulos que seguiam Jesus e permaneceram com Ele toda a noite – João e André, o primeiro encontro – e sentiram-se felizes por isso.
A ponto que André vai ter com seu irmão Pedro – naquele tempo chamava-se Simão – e diz: “Encontrámos o Messias!”. É outro encontro entusiasta, feliz, e conduz Pedro até Jesus. Por conseguinte, segue-se o encontro de Pedro com Jesus que fitou nele o olhar. E Jesus diz-lhe: «Tu és Simão, filho de João. Serás chamado Cefas», isto é, pedra.

Os encontros são deveras muitos. Por exemplo, há o de Nataniel, o céptico. Imediatamente com duas palavras o desmoraliza. A ponto que o intelectual admite: «Mas tu és o Messias!». Há depois o encontro da Samaritana que, num certo momento, se sente em dificuldade e tenta ser teóloga: “Mas este monte, o outro…”. E Jesus responde-lhe: «Mas teu marido, a tua verdade». A mulher no próprio pecado encontra Jesus e vai anunciá-lo à cidade: “Disse-me tudo o que fiz; será porventura o Messias?”.

O encontro daquele leproso, um dos dez curados, que volta para agradecer. E, ainda, o encontro daquela mulher doente havia dezoito anos que pensava: “Mas se conseguisse pelo menos tocar o manto curar-me-ia” e encontra Jesus. E por fim o encontro daquele endemoninhado o qual Jesus liberta de tantos demónios e depois quer segui-l’O e Jesus diz-lhe: “Não, permanece em tua casa, mas diz a todos o que te aconteceu”.

Assim, podemos ver tantos encontros na Bíblia, porque o Senhor nos procura para fazer um encontro connosco e cada um de nós tem o seu encontro com Jesus. Talvez, o esqueçamos, percamos a memória até ao ponto de nos perguntarmos: «Mas quando encontrei Jesus ou quando Jesus me encontrou?».

Todos nós tivemos na nossa vida algum encontro com Ele, um encontro verdadeiro no qual senti que Jesus olhava para mim. Não é uma experiência só para santos. E se não nos recordamos, seria bom recordar e pedir ao Senhor que nos conceda a memória, porque Ele recorda-Se do encontro.
Um bom dever para fazer em casa seria precisamente reconsiderar quando senti deveras o Senhor próximo de mim, em quando senti que tinha que mudar de vida ou ser melhor ou perdoar uma pessoa, em quando encontrei o Senhor.

E assim, se alguém diz a si mesmo “não me recordo do encontro com o Senhor”, é oportuno que peça a graça: «Senhor, quando Te encontrei em consciência? Quando me disseste algo que mudou a minha vida ou me convidaste a dar aquele passo em frente na vida?». Esta é uma bonita oração, fazei-a todos os dias. E depois quando te recordares, rejubila naquela recordação que é uma recordação de amor

 

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