Domingo XXVIII do Tempo Comum (PDF) TEXTO
Obrigai-os a entrar!

Eugène Burnand, Convite para a Festa
Muitas vezes os eleitos são figuras secundárias, frágeis, descartadas pela sociedade. Há, depois uma nota à primeira vista desconcertante.
Mesmo alguns destes marginalizados opõem resistência, talvez até por vergonha: «Obrigai-os a entrar», diz ao seu mensageiro o senhor que convida.
Mas na vocação não é sempre necessário o encontro entre o chamamento divino e a liberdade humana?
Que sentido tem, então, este obrigar a entrar, frase que se tornou proverbial e por vezes adoptada para impor uma norma contra a consciência e a liberdade pessoal?
A resposta é bem diferente: a “força” para impelir estes miseráveis a acolher o chamamento é apenas a expressão da graça divina que triunfa sobre as hesitações, as impreparações e os limites das pessoas; não é uma violação da sua consciência, mas um apoio na sua escolha para aderir à vocação.
Card. Gianfranco Ravasi , 2018
Ninguém é excluído da Casa de Deus se aceitar a graça que Ele concede
Papa Francisco, 2020

Banquete nupcial
Com a narração da parábola do banquete nupcial, Jesus delineia o desígnio de Deus para a humanidade. O rei que «preparou um banquete nupcial para o seu filho» é a imagem do Pai que preparou para toda a família humana uma maravilhosa festa de amor e comunhão ao redor do seu Filho unigénito.
Duas vezes o rei envia os seus servos para chamar os convidados mas eles recusam-se, não querem ir ao banquete porque têm outras coisas em que pensar: campos e negócios.
Muitas vezes também nós antepomos os nossos interesses e coisas materiais ao Senhor que nos chama – e chama-nos para uma festa.
Mas o rei da parábola não quer que o salão fique vazio, porque quer doar os tesouros do seu reino. Por isso diz aos servos: «Ide, pois, às saídas dos caminhos e convidai para as bodas todos quantos encontrardes».
É assim que Deus se comporta: quando é rejeitado, em vez de Se render, insiste e convida a chamar todos aqueles que estão nas encruzilhadas, sem excluir ninguém.
Ninguém é excluído da casa de Deus.
O termo original usado pelo evangelista Mateus refere-se aos limites das estradas, ou seja, aqueles pontos onde as ruas da cidade terminam e começam os caminhos que levam à zona rural, fora da cidade, onde a vida é precária.
É a esta encruzilhada da humanidade que o rei da parábola envia os seus servos, na certeza de encontrar pessoas dispostas a sentar-se à mesa. Assim, o salão de banquetes está cheio de “excluídos”, aqueles que estão “fora”, aqueles que nunca tinham sido considerados dignos de participar numa festa, num banquete de núpcias. Pelo contrário: o senhor, o rei, diz aos mensageiros: “Convidai todos, bons e maus. Todos”!
Deus chama até os maus.
E Jesus almoçava com os publicanos, que eram os pecadores públicos, os maus.
Deus não tem medo da nossa alma ferida por tantas maldades, porque nos ama, nos convida.
E a Igreja é chamada a ir às encruzilhadas de hoje, ou seja, às periferias geográficas e existenciais da humanidade, àqueles lugares marginais, àquelas situações em que as pessoas se encontram acampadas e vivem como farrapos de humanidade sem esperança.
Não se trata de nos acomodarmos nas formas confortáveis e habituais de evangelização e de testemunho da caridade, mas de abrir as portas dos nossos corações e das nossas comunidades a todos, pois o Evangelho não é reservado a poucos eleitos.
Até os marginalizados, os rejeitados e desprezados pela sociedade, são considerados por Deus dignos do seu amor.
Ele prepara o seu banquete para todos: justos e pecadores, bons e maus, inteligentes e incultos.
No entanto, o Senhor apresenta uma condição: usar o hábito nupcial.
Quando o salão está cheio, o rei chega e cumprimenta os convidados da última hora, mas vê um deles sem o hábito nupcial, uma espécie de capa que cada convidado recebia de presente à entrada. As pessoas iam como estavam, como podiam vestir-se, sem hábito de festa. Mas à entrada era-lhes dada uma espécie de capa, um presente.
Aquele convidado, ao recusar o presente, auto-excluiu-se: assim o rei mais não pode fazer do que mandá-lo embora.
Este homem aceitou o convite, mas depois decidiu que para ele ele não significava nada: era uma pessoa auto-suficiente, não tinha desejo de mudar ou de deixar que o Senhor o mudasse.
O hábito nupcial – esta capa – simboliza a misericórdia que Deus nos concede gratuitamente, ou seja, a graça.
Sem a graça não se pode dar um passo em frente na vida cristã. Tudo é graça.
Não basta aceitar o convite para seguir o Senhor, é necessário estar aberto a um caminho de conversão que mude o coração.
O hábito da misericórdia, que Deus nos oferece incessantemente, é um dom gratuito do seu amor, é precisamente a graça.
E requer ser recebido com maravilha e alegria: “Obrigado, Senhor, por me teres concedido este dom”.
Que Maria Santíssima nos ajude a imitar os servos da parábola evangélica para sairmos dos nossos esquemas e da nossa mente fechada, anunciando a todos que o Senhor nos convida para o seu banquete, para nos oferecer a graça que salva, para nos dar o seu dom.
O banquete da comunhão
Testemunhos do sínodo, 2023

Foto Ricardo Perna, Agência Ecclesia
Os participantes do Sínodo são convidados a reflectir com os vulneráveis, os que sofrem, os fracos, e sobre a vulnerabilidade na Igreja: noutras palavras, sobre como nos tornarmos mais próximos dos mais pobres, mais capazes de acompanhar todos os baptizados numa variedade de situações humanas.
O drama da condição humana é onde a Igreja nasce e vive. Como num banquete, Deus convida a ‘provar e ver, tomar e comer’, Ele apela aos nossos sentidos: é de facto na Eucaristia que as várias dimensões da comunhão se reúnem.
Num mundo moderno que tende tanto à homogeneidade quanto à fragmentação, a comunhão é uma linguagem de beleza, uma harmonia de unidade e pluralidade.
A descrição bíblica do banquete é uma imagem que subverte o que é percebido como a ordem natural das coisas. No banquete, aqueles que não têm poder, os desprezados e os sofredores serão os primeiros por causa da proximidade de Deus.
Muitos leigos descobriram que são co-responsáveis pela missão da Igreja.
A sinodalidade, a partir de agora não deve ser apenas um momento, mas uma praxis da Igreja.Devemos ser a presença de Jesus, abertos a ouvir e acolher em lugares de dor e sofrimento, mesmo naqueles que não podemos alcançar, entre as pessoas que deixaram a Igreja e têm corações feridos: entre as mulheres vítimas de violência e preconceito, como entre os pobres e indígenas, diz Sónia Gomes de Oliveira, do Conselho Nacional do Laicato do Brasil, que compartilhou com a assembleia a sua experiência como assistente social entre os últimos e a alegria de viver o processo sinodal na Igreja de seu país.