Domingo II do Tempo Comum (PDF) TEXTO
Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!
Esta cena é determinante para a nossa fé; e é crucial também para a missão da Igreja.
A Igreja, em todas as épocas, é chamada a fazer aquilo que fez João Baptista, indicar Jesus ao povo dizendo: «Eis o Cordeiro de Deus, Aquele que tira o pecado do mundo!». Ele é o único Salvador, é o Senhor, humilde, no meio dos pecadores, mas é Ele, não é outro, poderoso, que vem; é Ele!
E estas são as palavras que nós sacerdotes repetimos todos os dias, durante a Missa, quando apresentamos ao povo o pão e o vinho que se tornam o Corpo e o Sangue de Cristo.
Este gesto litúrgico representa toda a missão da Igreja, a qual não se anuncia a si mesma. Ai da Igreja quando se anuncia a si mesma; perde a bússola, não sabe para onde vai! A Igreja anuncia Cristo; não se traz a si mesma, mas Cristo. Pois, é só Ele e unicamente Ele que salva o seu povo do pecado, que o liberta e o guia para a terra da verdadeira liberdade.
Papa Francisco, 2017
A tarefa das religiões e da cultura é desenterrar a esperança debaixo dos escombros
Cardeal Ravasi, In Corriere della Sera, 2019
O poeta Mario Luzi falava dos “bolbos de esperança” ocultados debaixo do cúmulo dos escombros do tempo sombrio que estamos a atravessar.
A tarefa da poesia, das religiões e da cultura é precisamente a de descobrir os bolbos escondidos por baixo.
Pense-se na atmosfera tão inquinada, inclusive do ponto de vista físico, e sobretudo do ponto de vista social, espiritual e cultural. Trata-se da destruição dos mitos, a destruição da boa educação, a destruição das elites – ou seja, da nobreza espiritual e do pensamento –, a destruição das relações tornadas artificiais, é uma tentação quase compreensível. A nossa tarefa, ao contrário, é a mais árdua: começar a escavar, como bombeiros, para reencontrar os germes vitais.
A maioria da sociedade não se preocupa em extrair bolbos de valor dos escombros. Isso, então, deveria ser a tarefa das religiões autênticas e da cultura: ser minoria que estimula. Uma minoria “ofensiva”. E dado que uma minoria nunca pode sê-lo com as armas, porque seria sempre perdedora, deve tornar-se uma espécie de pedra no sapato.
O sentido de responsabilidade é uma tarefa de minoria.
É preciso criar consciência. Digo-o também em relação à Igreja, hoje. De onde venho, ao domingo de manhã, muita gente confluía à igreja para a missa. Agora, quando volto ao lugar onde nasci, na igreja não encontro ninguém que não tenha um cabelo grisalho! Todavia, esta minoria pode tornar-se mais eficaz que a grande e imponente maioria.
O papa Francisco compreendeu que para a sociedade a linguagem é fundamental. Se falo uma linguagem obsoleta, a surdez é certa – de “surdo” deriva “absurdo”. Hoje é considerado absurdo aquilo que as pessoas não conseguem aceitar no interior da concha da sua orelha, isto é, adaptada ao seu interesse.
Francisco compreendeu que agora é necessária a frase essencial, sem muitas subordinadas.
É indispensável adoptar, inclusive nos valores, o recurso à essencialidade para uma maior incisão.
O papa compreendeu depois que a cultura contemporânea está tendencialmente ligada às imagens. E usa-as: as “periferias”, o “cheiro das ovelhas”, a “Igreja hospital de campanha”, o “sudário não tem bolsos”…
Há, por fim , o terceiro elemento: a maneira como usa o corpo, a corporeidade. Nas audiências gerais fala durante uma vintena de minutos, depois está uma hora com a gente. Que assim encontra uma pessoa concreta, não envolvida numa auréola de luz e de distância.
Voltando aos bolbos de esperança.
Partirei da palavra diálogo. No sentido etimológico, é o cruzamento de dois “logoi”, dois discursos. O discurso não deve ser entendido só como um raciocínio, mas como uma experiência fundada, uma visão que dá um sentido. O debate com o outro pode ajudar a descobrir melhor o sentido último do ser e do existir. Na palavra “diálogo”, “dià”, em grego, quer dizer também em profundidade, “diabasi” significa descer.
E se se querem extrair os bolbos que estão sob o diálogo, é preciso ser sério, cansar-se.
Todos fazem o elogio da lentidão.
Eu quero fazer o do cansaço.
A segunda palavra é o “amor” autêntico, não o epidérmico, mas o profundo, capaz de unir sexo, eros e amor.
Se se está verdadeiramente enamorado, deve começar-se a compreender genuinamente o que significa dar-se ao outro.
É isto que temos de ensinar aos jovens, que reduzem a experiência ao sexo, enquanto que é também ternura, beleza, paixão, sentimento.
Um outro “bolbo” poderia ser precisamente o da busca, em todos os sentidos, inclusive científico. Nunca se contentar com aquilo que nos é dado.
TEMPO COMUM
Na maior parte do Ano Litúrgico, a Igreja vive o que se designa por Tempo Comum, não por ser um período menos importante na vida e na liturgia da Igreja, mas por decorrer fora dos dois pontos centrais: Advento-Natal e Quaresma-Páscoa.
O Tempo Comum, em que entrámos no dia 10 de Janeiro, é considerado um tempo de vigilância, de espera, de esperança, pelo que a cor litúrgica é o verde, patente nos paramentos envergados pelo sacerdote na celebração da Missa.
Sendo um período longo, de 33 ou 34 semanas, o Tempo Comum é subdividido em duas partes: A primeira parte começou no dia seguinte à festa do Baptismo de Jesus (neste ano de 2023 a 10 de Janeiro) e vai até 21 de Fevereiro, a terça-feira antes da Quarta-feira de Cinzas, quando tem início a Quaresma. A segunda parte do Tempo Comum deste Ano A recomeça na segunda-feira depois de Pentecostes (29 de Maio deste ano) e estende-se até 02 de Dezembro, o sábado que antecede o primeiro domingo do Advento, quando tem início um novo Ano Litúrgico, o Ano B.
Seremos auxiliados neste período pela leitura de um dos evangelhos sinópticos (São Mateus neste Ano A). Uma característica importante do Evangelho segundo Mateus reside na importância dada pelo evangelista aos “ditos” de Jesus.
Ao longo do Evangelho segundo Mateus aparecem cinco longos discursos (cf. Mt 5-7; 10; 13; 18; 24-25), nos quais Mateus junta “ditos” e ensinamentos provavelmente proferidos por Jesus em várias ocasiões e contextos.
É provável que o autor do primeiro Evangelho visse nesses cinco discursos uma nova Lei, destinada a substituir a antiga Lei dada ao Povo por meio de Moisés e escrita nos cinco livros do Pentateuco.
É o primeiro que foi escrito, em Israel, e em aramaico, por volta do ano 50. Serviu de modelo para os Evangelhos de São Marcos e São Lucas. O texto original de Mateus, que se perdeu, foi traduzido para o grego, tendo em vista que o mundo romano da época falava o grego.
Mateus escreveu para os judeus da sua terra, convertidos ao cristianismo. Era o único dos Apóstolos habituado à arte de escrever, a calcular e a narrar os fatos. Compreende-se que os próprios Apóstolos o tenham escolhido para essa tarefa.
O objectivo da narração foi mostrar aos judeus que Jesus era o Messias anunciado pelos profetas, por isso, cita, muitas vezes, o Antigo Testamento e as profecias sobre o Messias. Como disse Renan, o evangelho de Mateus tornou-se “o livro mais importante da história universal”.
O Evangelho de S. Mateus tem seis grandes partes: 1. A Infância de Jesus (caps. 1 e 2); 2. Começo da missão de Jesus (3-4); 3. o Sermão da Montanha; 4. Ministério de Jesus na Galileia (8 a 18), no cap. 13, Mateus narra sete Parábolas do Reino de Deus; 5. Ministério de Jesus na Judeia (19 a 25); 6. Paixão e Ressurreição de Jesus (26 a 28). É o Evangelho mais longo de todos, bem escrito e detalhado.
O 34º Domingo do Tempo Comum, que assinala o fim deste período, é substituído pela Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, entrando-se no Tempo do Advento, iniciando-se a 3 de Dezembro 2023 um novo Ano Litúrgico, o Ano B, em que seguiremos o Evangelho de S. Marcos.
São João Baptista
Reconheçamos na voz de João Baptista a recusa de todas as actuais formas de ambição, desigualdade social e de violência.
Reconheçamos a necessidade de derrubar todas as hierarquias para que toda a criatura veja a Salvação.
Luís Miguel Cintra 2021