Domingo VI da Páscoa (PDF) TEXTO

É a Cristo que procuro

Mestre de Portillo, Última Ceia

De nada me valerão os confins do mundo nem os reinos deste século.

Maravilhoso é para mim morrer por Jesus Cristo, mais do que reinar até aos confins da terra.

A Ele é que procuro, que morreu por nós; quero Aquele que ressuscitou por nossa causa(…).

Não tenhais a Jesus Cristo na boca, para irdes desejar o mundo. Não habite inveja em vosso meio.

Meu amor está crucificado e não há em mim fogo para amar a matéria; pelo contrário, água viva, murmurando dentro de mim, falando-me ao interior: Vamos ao Pai!

Não me agradam comida passageira, nem prazeres desta vida. Quero pão de Deus que é carne de Jesus Cristo, da descendência de David, e como bebida quero o sangue d’Ele, que é Amor incorruptível.

Santo Inácio de Antioquia

 

 

Conversão à espiritualidade

Conferência Episcopal Italiana, Mensagem para a Quaresma 2022

George Frederic Watts, O bom samaritano

Permanecer fiéis à realidade do tempo presente não equivale, no entanto, a ficar pela superfície dos factos nem a legitimar cada situação em curso. Trata-se, antes, de colher «a plenitude do tempo» ou de vislumbrar a acção do Espírito, que torna cada época um «tempo oportuno».

A época em que Jesus viveu foi fundamental por via da sua presença no interior da história humana e, em particular, de quem entrava em contacto com Ele.

Os seus discípulos continuaram a viver a sua vida naquele contexto histórico, com todas as suas contradições e os seus limites: mas a sua companhia modificou o modo de estar no mundo.

O Mestre de Nazaré ensinou-os a serem protagonistas daquele tempo através da fé no Pai misericordioso, a caridade para com os últimos e a esperança num renovamento interior das pessoas. Para os discípulos, foi Jesus que deu sentido a uma época que, de outra forma, teria tido outros critérios humanos para ser julgada.

Após a sua morte, da ausência física de Jesus floresceu a vida eterna do Ressuscitado e a presença do Espírito na Igreja: «Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco, o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; vós é que o conheceis, porque permanece junto de vós, e está em vós. Não vos deixarei órfãos» (João 14, 16-18; cf. Atos 2, 1-13).

O Espírito pede ao crente para considerar ainda hoje a realidade em chave pascal, como Jesus testemunhou, e não como o mundo a vê.
Para o discípulo, uma derrota pode ser uma vitória, uma perda uma conquista.

Começar a viver a Páscoa, que nos atende no termo do tempo da Quaresma, significa considerar a história na óptica do amor, mesmo se este comporta carregar a cruz própria e do outro

 

O Espírito Santo recorda-nos o acesso ao Pai

Papa Francisco, 2020

Heinrich Hofmann, Oração de Jesus no Jardim das Oliveiras

Na despedida dos discípulos, Jesus dá-lhes tranquilidade e paz, com uma promessa: «Não vos deixarei órfãos».

Hoje, no mundo, há um grande sentimento de orfandade: tantos têm muitas coisas, mas falta o Pai. E isto repete-se na história da humanidade: quando falta o Pai, falta algo e há sempre o desejo de encontrar, de voltar a encontrar o Pai, até nos mitos antigos. Hoje podemos dizer que vivemos numa sociedade onde falta o Pai, um sentido de orfandade que diz respeito à pertença e à fraternidade.

É por isso que Jesus promete: «Rogarei ao Pai e Ele dar-vos-á outro Paráclito». “Vou-Me embora” – diz Jesus – “mas virá outro que vos ensinará o acesso ao Pai. Recordar-vos-á o acesso ao Pai”.

O Espírito Santo não vem para “ter os seus clientes”; vem para indicar o acesso ao Pai, para recordar o acesso ao Pai, aquele que Jesus abriu, aquele que Jesus mostrou. Não existe uma espiritualidade só do Filho, só do Espírito Santo: o centro é o Pai. O Filho é o enviado do Pai e volta para o Pai. O Espírito Santo é enviado pelo Pai para recordar e ensinar o acesso ao Pai.

Somente com esta consciência de filhos que não são órfãos podemos viver em paz entre nós. As guerras, tanto as pequenas como as grandes, têm sempre uma dimensão de orfandade: falta o Pai para fazer a paz.

Por isso, quando à primeira comunidade Pedro diz que respondam ao povo por que são cristãos, diz: «Fazei-o com docilidade e respeito. Tende uma consciência recwta», ou seja, a mansidão que o Espírito Santo dá. O Espírito Santo ensina-nos esta mansidão, esta docilidade dos filhos do Pai. O Espírito Santo não nos ensina a insultar. E uma das consequências do sentido de orfandade é o insulto, as guerras, pois se não há o Pai, não há os irmãos, perde-se a fraternidade. São – esta docilidade, respeito e mansidão – atitudes de pertença, de pertença a uma família que está certa de ter um Pai.

Temos um Pai que é o centro de tudo, a origem de tudo, a unidade de todos, a salvação de todos, porque enviou o seu Filho para salvar todos nós. E agora envia o Espírito Santo para nos recordar o acesso a Ele e, a partir desta paternidade, a atitude fraterna de mansidão, de docilidade e de paz.

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