Domingo III do Advento (PDF)  TEXTO

ADVENTO : Alegria

Pregação de S. João Baptista, Domenico Ghirlandaio

O “homem chamado João”, enviado por Deus “para dar testemunho da luz”, convida-nos a pensar sobre a forma de Deus actuar na história humana e sobre as responsabilidades que Deus nos atribui na recriação do mundo…

Deus não utiliza métodos espectaculares e assombrosos para intervir na nossa história e para recriar o mundo; mas Ele vem ao encontro dos homens e do mundo para os envolver no seu amor através de pessoas concretas, com um nome e uma história, pessoas “normais” a quem Deus chama e a quem confia determinada missão.

A todos nós, seus filhos, Deus confia uma missão no mundo – a missão de dar testemunho da “luz” e de tornar presente, para os nossos irmãos, a proposta libertadora de Jesus..

Dehonianos

 

É sempre possível recomeçar

Papa Francisco, 2013

Senhora do Parto, Piero della Francesca

Hoje é o terceiro Domingo do Advento, chamado também domingo Gaudete, isto é, Domingo da alegria. Na liturgia ressoa muitas vezes o convite ao júbilo, a alegrar-se; porquê? Porque o Senhor está próximo. O Natal está próximo.
A mensagem cristã chama-se “Evangelho”, isto é, “boa notícia”, um anúncio de alegria para todo o povo; a Igreja não é um refúgio para gente triste, a Igreja é a casa da alegria!
E aqueles que estão tristes encontram nela a alegria, encontram nela a verdadeira alegria.

Mas a alegria do Evangelho não é uma qualquer.
Encontra a sua razão no saber-se acolhido e amado por Deus. Como nos recorda o profeta Isaías, Deus é quem vem salvar-nos, e presta socorro especialmente aos errantes do coração. A sua vinda entre nós robustece, torna firme, dá coragem, faz exultar e florir o deserto e a estepe, isto é, a nossa vida quando se torna árida. E quando é que a nossa vida se torna árida? Quando está sem a água da Palavra de Deus e do seu Espírito de amor.

Por muito grandes que sejam os nossos limites e a nossa desorientação, não nos é consentido ser fracos e vacilantes diante das dificuldades e das nossas próprias fragilidades. Pelo contrário, somos convidados a robustecer as mãos, a tornar firmes os joelhos, a ter coragem a não temer, porque o nosso Deus mostra-nos sempre a grandeza da sua misericórdia. Ele dá-nos a força para avançar. Ele está sempre connosco para nos ajudar a avançar. É um Deus que nos quer muito bem, que nos ama, e por isso está connosco, para nos ajudar, para nos fortalecer e fazer andar para a frente. Coragem! Sempre para a frente!
Graças à sua ajuda, podemos sempre recomeçar do princípio.

Como? Recomeçar do princípio?
Alguém me pode dizer: «Não, padre, não posso fazer tanto… Sou um grande pecador, uma grande pecadora… Não posso recomeçar do princípio!». É um engano! Tu podes recomeçar do princípio! Porquê? Porque Ele te espera, Ele está próximo de ti, Ele ama-te, Ele é misericordioso, Ele perdoa-te, Ele dá-te força para recomeçar do princípio! A todos!
Então somos capazes de reabrir os olhos, de superar tristeza e pranto e entoar um cântico novo.
E esta alegria verdadeira permanece também na provação, também no sofrimento, porque não é uma alegria superficial, mas radica no profundo da pessoa que se confia a Deus e confia n´Ele.

A alegria cristã, como a esperança, tem o seu fundamento na fidelidade de Deus, na certeza que Ele mantém sempre a sua promessa.
Aqueles que encontraram Jesus ao longo do caminho experimentam no coração uma serenidade e uma alegria de que nada nem ninguém os poderá privar. A nossa alegria é Jesus Cristo, o seu amor fiel é inesgotável. Por isso, quando um cristão se torna triste, quer dizer que se distanciou de Jesus. Mas não é necessário deixá-lo só. Devemos rezar por ele e fazer-lhe sentir o calor da comunidade.

A Virgem Maria nos ajude a apressar o passo para Belém, para encontrar o Menino que nasceu para nós, para a salvação e a alegria de todos os homens.
A ela o anjo disse: «Alegra-te, cheia de graça: o Senhor é contigo». Ela nos conceda viver a alegria do Evangelho na família, no trabalho, na paróquia e em todos os ambientes. Uma alegria íntima, feita de deslumbramento e de ternura. Aquela que experimenta uma mãe quando olha o seu bebé recém-nascido e sente que é um dom de Deus, um milagre de que só há a agradecer.

João, a humilde testemunha da Luz

Enzo Bianchi, in Monastero di Bose

Ministério difícil, cansativo, que custou o preço da vida gasta e dada, o de João: na consciência de não ter luz própria, ele apenas ofereceu o rosto à luz, contemplou a luz, permaneceu sempre voltado para a luz, de maneira tão convincente e autorizada que quem olhava para ele sentia-se obrigado a voltar o olhar para a luz, para Aquele de quem João era apenas testemunha.
E o que faz, como se comporta uma verdadeira testemunha de Jesus Cristo, isto é, da «luz verdadeira, aquele que ilumina todo o homem»)?

Em primeiro lugar, descentra-se e dedica todas as suas forças ao serviço desse descentramento, dizendo constantemente: «Não eu, mas Ele; não a mim, mas a Ele vão o olhar e a escuta».
Esta é uma atitude de espoliação, de resistência a toda a tentação de olhar para si próprio, é verdadeiramente viver a adoração daquele que «é maior», que «é mais forte», que passa à frente.

João vive em si o ministério da percepção da presença de Deus, ao qual o tinha habituado o deserto em que tinha crescido, e agora percepciona esta presença de Deus em Jesus, que por agora é um homem entre os outros, está entre aqueles que vão até ele para se fazerem baptizar, é seu discípulo.

Perguntam então a João Baptista: «Quem és? Que coisas dizes de ti mesmo? Qual é a tua identidade?».
E ele responde: «Sou apenas uma voz, uma voz emprestada a um outro, eco de uma palavra que não é minha». Mesmo este ser voz é fruto da obediência completa deste homem à palavra de Deus anunciada pelo profeta Isaías. Apenas voz, que se sente, se escuta, mas não se pode ver, nem contemplar, nem deter.

Há quem está no centro e nós não O conhecemos, quem é Palavra a nós dirigida; é Jesus Cristo, sempre “in incognito”, sempre a procurar, mas nós não O procuramos e não O reconhecemos.

Talvez só no juízo final saberemos que quem está junto a nós, que quem está próximo… é Jesus Cristo – e então reconhecê-l’O-emos. Até lá, temos necessidade de João, de ouvir a sua voz, de ver o seu dedo que aponta para Jesus como aquele que nos imerge no Espírito Santo.

 

 

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