Domingo XXVIII do Tempo Comum (PDF) TEXTO
Sabemos agradecer?
Na vossa relação, e amanhã na vida matrimonial, é importante ter viva a consciência de que a outra pessoa é um dom de Deus, e aos dons de Deus diz-se “obrigado”.
E nesta atitude interior dizer-se obrigado mutuamente, por cada coisa.
Não é uma palavra gentil a usar com os estranhos, para ser educado.
É preciso saber-se dizer “obrigado” para avançar bem em conjunto na vida matrimonial.
Papa Francisco, Catequese sobre Matrimónio,14 de Fevereiro de 2012
Reconhecer os dons de Deus
Dehonianos (resumo)
A leitura convida-nos, antes de mais, a tomar consciência de que é de Deus – desse Deus que tem um projecto de salvação para o homem – que recebemos a vida plena.
É em Deus que eu coloco a minha esperança de vida plena, ou há outros deuses que me seduzem, que dirigem a minha vida e que são a minha esperança de realização e de felicidade?
A proposta de salvação que Deus faz destina-se a todos os homens e mulheres, sem excepção. O nosso Deus não é um Deus dos “bonzinhos”, dos bem comportados, dos brancos, dos politicamente correctos ou dos que têm o nome no livro de registos da paróquia… O nosso Deus é o Deus que oferece a vida a todos e que a todos ama como filhos; o que é decisivo é aceitar a sua oferta de salvação e acolher o seu dom. Daqui resultam duas coisas importantes: a primeira é que não basta ser baptizado (e depois prescindir d’Ele e viver à margem das suas propostas); a segunda é que não podemos marginalizar ou excluir qualquer irmão nosso.
O número dez tem, certamente, um significado simbólico: significa “totalidade” (o judaísmo considerava necessário que pelo menos dez homens estivessem presentes, a fim de que a oração comunitária pudesse ter lugar, porque o “dez” representa a totalidade da comunidade). A presença de um samaritano no grupo indica, contudo, que essa salvação oferecida por Deus, em Jesus, não se destina apenas à comunidade do “Povo eleito”, mas se destina a todos os homens, sem excepção, mesmo àqueles que o judaísmo oficial considerava definitivamente afastados da salvação.
É preciso que nos apercebamos que tudo é dom do amor de Deus e não uma conquista nossa ou a recompensa pelos nossos méritos ou pelas nossas boas obras. Estou consciente de que é de Deus que recebo tudo e manifesto-Lhe a minha gratidão pela sua presença, pelos seus dons, pelo seu amor?
O acento do episódio de hoje é posto – mais do que no episódio da cura em si – no facto de que, dos dez leprosos curados, só um tenha voltado para trás para agradecer a Jesus e no facto de este ser um samaritano.
Lucas está interessado em mostrar que quem recebe a salvação deve reconhecer o dom de Deus e deve estar agradecido…
E avisa que, com frequência, são os hereges, os marginais, os desprezados, aqueles que a teologia oficial considera à margem da salvação, que estão mais atentos aos dons de Deus.
Aqueles que recebem de Deus carismas para pôr ao serviço dos irmãos sentem-se apenas instrumentos de Deus e procuram dirigir os olhares e a gratidão dos irmãos para Deus, ou estão preocupados em sublinhar os seus méritos e em concentrar em si próprios a gratidão que brota dos corações daqueles a quem servem?
Curiosamente, os dez “leprosos” não são curados imediatamente por Jesus, mas a “lepra” desaparece “no caminho”, quando iam mostrar-se aos sacerdotes. Isto sugere que a acção libertadora de Jesus não é uma acção mágica, caída repentinamente do céu, mas um processo progressivo (o “caminho” define, neste contexto, a caminhada cristã), no qual o crente vai descobrindo e interiorizando os valores de Jesus, até à adesão plena às suas propostas e à efectiva transformação do coração.
Assim, a nossa “cura” não é um momento mágico que acontece quando somos baptizados, ou fazemos a primeira comunhão ou nos crismamos; mas é uma caminhada progressiva, durante a qual descobrimos Cristo e nascemos para a vida nova.
Tomar consciência
P. Dennis Clark, In Catholic Exchange
Algumas feridas no nosso espírito são tão profundas que parecem estar além de qualquer cura. Mas Jesus assegura-nos que não é assim.
O Evangelho deste Domingo mostra-nos por onde começar: nomear as nossas feridas claramente e especificamente.
É o que dizem os leprosos: “Estamos a decompor-nos, Senhor. Cura-nos.”
Alguma vez chegámos a ser tão claros e específicos? Raramente.
O que é mau porque, a não ser que demos nome às nossas feridas e as assumamos como nossas, nunca seremos capazes de as entregar integralmente a Deus para que Ele as cure. Nunca estaremos prontos a trabalhar com Deus nesse longo e lento processo pelo qual somos tratados.
Deus quer que cada um de nós esteja curado e feliz. Porque havemos então de desperdiçar mais tempo? Porque não optamos antes por olhar cuidadosamente para dentro de nós, ver as feridas escondidas desde há muito, nomeá-las claramente, assumi-las e então entregá-las a Deus?
Não há dúvida de que esta atenção às nossas feridas pode entristecer-nos.
E entregar integralmente as dores e as feridas a Deus demorará muito tempo.
Elas fazem tanto parte de nós que é difícil deixá-las partir!
Mas a recompensa é uma vida inteiramente nova.
«Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos», diz Cristo.