VI Domingo do Tempo Comum (PDF) TEXTO
Se vivo como Jesus pede, que ganho com isso? Não corro o risco de ser espezinhado pelos outros? A proposta de Jesus será conveniente? Ou é perdedora?
Não é perdedora, mas sapiente, porque o amor, que é o coração das bem-aventuranças, embora pareça frágil aos olhos do mundo, na realidade vence.
Viver as bem-aventuranças em tempos de crescente desigualdade inaceitável entre pobres e ricos, não exige o extraordinário, mas a consistência da mansidão e misericórdia: Para se tornar bem-aventurado, não é preciso ser herói de vez em quando, mas testemunha todos os dias.
Papa Francisco, Bagdade, 2021
A minha sede é a minha bem-aventurança
Tolentino de Mendonça, Pregação do retiro de Quaresma, 2018
As bem-aventuranças são mais do que uma lei, representando uma configuração da vida, um verdadeiro chamamento existencial.
Elas traçam a arte de ser aqui e agora, ao mesmo tempo que apontam para o horizonte da plenitude escatológica, ou seja, o tempo eterno após a morte, para o qual convergimos.
Por outro lado, as bem-aventuranças são igualmente o auto-retrato de Jesus mais exato e fascinante, a chave da sua vida, pobre em espírito, manso e misericordioso, sedento e homem de paz, com fome de justiça e com a capacidade de acolher todos.
As bem-aventuranças são a imagem de si próprio que Ele incessantemente nos revela e imprime nos nossos corações. Mas são também o seu retrato que nos deve servir de modelo no processo de transformação do nosso próprio rosto, no qual devemos aprofundar a “imagem e semelhança” espirituais que liga cada dia o nosso destino ao destino de Jesus.
A sede de Deus é fazer com que a vida das suas criaturas seja uma vida de bem-aventurança. Como? Resgatando as nossas vidas com um amor e uma confiança incondicionais. É este o seu método, é esta a bem-aventurança que nos salva.
É este espanto do amor que nos faz começar de novo, esta sede que nos consegue arrancar do exílio a que fizemos aportar a nossa vida.
Por isso não nos basta um cristianismo de sobrevivência, nem um catolicismo de manutenção. Um verdadeiro crente, uma comunidade crente, não pode viver só de manutenção: precisa de uma alma jovem e enamorada, que se alimenta da alegria da procura e da descoberta, que arrisca a hospitalidade da Palavra de Deus na vida concreta, que parte ao encontro dos irmãos no presente e no futuro, que vive no diálogo confiante e oculto da oração.
É urgente redescobrir a bem-aventurança da sede: a pior coisa para um crente é estar saciado de Deus. Pelo contrário, felizes aqueles que têm fome e sede de Deus: a experiência da fé, com efeito, não serve para resolver a sede, mas para dilatar o nosso desejo de Deus, para intensificar a nossa procura. Precisamos, talvez, de nos reconciliar mais vezes com a nossa sede, repetindo a nós próprios: “A minha sede é a minha bem-aventurança”.
EVOLUÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL À LUZ DA DOUTRINA CRISTÃ
Carta Encíclica Mater Et Magistra, João XXIII
1. Mãe e mestra de todos os povos, a Igreja Universal foi fundada por Jesus Cristo, a fim de que todos, vindo no seu seio e no seu amor, através dos séculos, encontrem plenitude de vida mais elevada e penhor seguro de salvação.
A esta Igreja, “coluna e fundamento da verdade” (cf. 1 Tm 3, 15), o seu Fundador santíssimo confiou uma dupla missão: de gerar filhos, e de os educar e dirigir, orientando, com solicitude materna, a vida dos indivíduos e dos povos, cuja alta dignidade ela sempre desveladamente respeitou e defendeu.
2. O cristianismo é, de facto, a realidade da união da terra com o céu, uma vez que assume o homem, na sua realidade concreta de espírito e matéria, inteligência e vontade, e o convida a elevar o pensamento, das condições mutáveis da vida terrena, até às alturas da vida eterna, onde gozará sem limites da plenitude da felicidade e da paz.
3. De modo que a Santa Igreja, apesar de ter como principal missão a de santificar as almas e de as fazer participar dos bens da ordem sobrenatural, não deixa de preocupar-se ao mesmo tempo com as exigências da vida quotidiana dos homens, não só no que diz respeito ao sustento e às condições de vida, mas também no que se refere à prosperidade e à civilização em seus múltiplos aspectos, dentro do condicionalismo das várias épocas.
4. Ao realizar tudo isto, a Santa Igreja põe em prática o mandamento de Cristo, seu Fundador, que se refere sobretudo à salvação eterna do homem, quando diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6) e “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12); mas noutro passo, ao contemplar a multidão faminta, exclamou, num lamento sentido: “Tenho pena de toda esta gente” (Mc 8,2); manifestando, assim, como se preocupa também com as exigências materiais dos povos. E não foi só com palavras que o Divino Redentor demonstrou esse cuidado: provou-o igualmente com os exemplos da sua vida, multiplicando, várias vezes, por milagres, o pão que havia de saciar a fome da multidão que o seguia.
5. E com este pão, dado para alimentar o corpo, quis anunciar e significar aquele pão celestial das almas, que iria deixar aos homens na véspera da sua Paixão.
6. Não é, pois, para admirar, que a Igreja católica, à imitação de Cristo e em cumprimento das suas disposições, tenha mantido sempre bem alto, através de dois mil anos, isto é, desde a instituição dos antigos diáconos, até aos nossos tempos, o facho da caridade, não menos com os preceitos do que com os numerosos exemplos que vem proporcionando. Caridade, que ao conjugar harmoniosamente os mandamentos do amor mútuo com a prática dos mesmos, realiza de modo admirável as exigências desta dupla doação que em si resume a doutrina e a acção social da Igreja.
Arquivo de Folhas Informativas anteriores a 25.11.2018