III Domingo do Advento (PDF) TEXTO
No meio dos problemas e dos sofrimentos, a certeza de que Deus acompanha os seus filhos alimenta a esperança e a coragem.
Mas, para acolher o convite do Senhor à alegria, é preciso sermos pessoas dispostas a interrogar-se.
Assim como aqueles que, após terem ouvido a pregação de João Baptista, lhe perguntam: tu pregas, e nós, o que devemos fazer?
O que devo fazer? Essa pergunta é o primeiro passo para a conversão que somos chamados a fazer neste tempo do Advento.
Alegrai-vos, porque (…) teceis com paciência, com textura de paz, não seguis os poderosos do momento, mas permaneceis fielmente ao lado dos pobres. E assim não tendes medo de nada, mas vosso coração é a alegria.
Papa Francisco, 2018
Que devemos fazer?
Enzo Bianchi , In Monastero di Bose
Como Jesus tinha sido gerado por Maria, educado por ela e por José, assim precisou de um “tempo obscuro” no deserto para ser iniciado à sua missão.
A fim de que o povo seja preparado para o encontro com Aquele que Vem, João não pede que se façam sacrifícios e holocaustos, não pede para que se vá mais vezes ao templo para participar nas liturgias solenes, para respeitar calendários litúrgicos ou fazer jejuns especiais, mas pede acções humaníssimas. Eis, portanto, as suas respostas às perguntas que as multidões lhe colocavam, perguntas que todo o ser humano, de todas as gerações, renova sempre na história: «Que devemos fazer? O que fazer?».
Antes de tudo, ele diz às multidões: «Quem tem duas túnicas dê uma a quem não tem, e quem tem de comer faça o mesmo».
Eis o que é preciso fazer em vista da vinda do Senhor: partilha o essencial, isto é, alimento, roupa, casa. Isto é suficiente para dizer que alguém se converteu, mudou a sua vida na iminência do encontro com o Senhor que vem. João espanta-nos porque não pede aquilo que ainda hoje uma certa pregação eclesiástica pede: liturgia, novenas, exercícios pios…
Estes, com efeito, são apenas instrumentos para adquirir uma caridade maior, para se ser mais facilmente capaz de partilhar os bens elementares necessários para viver.
No caso dos publicanos, cobradores de impostos em parceria com o poder imperial e frequentadores de pagãos, o Baptista não pede coisas extraordinárias, não pede sequer que abandonem as suas profissões, mas que as vivam na justiça. Para estes funcionários tentados pelo abuso de poder, pela vexação financeira, pelo roubo ao exigir os impostos, basta praticar uma grande virtude: a justiça.
Também os militares atraídos por João, destinado a ser morto precisamente por eles, executores das ordens dos poderosos deste mundo, de quantos oprimem e dominam a pobre gente.
E que pede ele aos militares? Não que desertem, porque na sua função há uma tarefa necessária, a de garantir a liberdade e a ordem de toda a convivência social. Não: pede que renunciem à violência.
Como é fácil a violência para quem tem armas, como é fácil fazer denúncias fáceis, como é fácil – dado que os salários são normalmente baixos – prevalecer sobre as pessoas, usando a imunidade profissional concedida à polícia e às forças da ordem: quando se é mais forte, torna-se facílimo esmagar os pobres…
João prega portando uma conversão que pede uma mutação concreta do viver quotidiano, que transforme profundamente as relações interpessoais, e ninguém está excluído deste caminho de conversão.
João, anuncia a mesma boa notícia de Jesus. Seja porém dito que Jesus, por ele anunciado e apresentado a Israel, desiludi-lo-á ao realizar a sua missão: será diferente e não será aquele juiz que João tinha previsto. Então João enganou-se? A sua pregação foi uma ilusão? Não, mas Deus realizá-la-á só no final dos tempos: por agora cabe a João cumprir toda a justiça, a Jesus cabe anunciar e fazer misericórdia.
E João, na prisão, aceita mais uma vez, em plena obediência, renovar a sua aventura da fé. Sim, como dirá Jesus, «entre os nascidos de mulher nenhum é maior do que João».
Não nos esqueçamos, por fim, que este domingo, a metade do tempo do Advento, é chamado de “Gaudete”, a primeira palavra que ressoa para a assembleia ao início da liturgia eucarística. “Gaudete”, isto é, «alegrai-vos», é o convite, melhor, a ordem afirmada pelo apóstolo Paulo aos cristãos de Filipos: «Alegrai-vos sempre no Senhor; repito-o, alegrai-vos! (…) O Senhor está próximo!».
Se tivermos esta fé sólida, então a nossa vida fica inundada de alegria e exultação. Haverá porventura alguma coisa de mais feliz do que o encontro com o Senhor Jesus Cristo?
Não, Ele é a alegria, é o nosso futuro, é a vida eterna!
Arquivo de Folhas Informativas anteriores a 25.11.2018