Solenidade da Ascensão (PDF) TEXTO

Johann Koerbecke, A Ascensão

A Ascensão completa a missão de Jesus entre nós.

Se foi por nós que Jesus desceu do céu, é sempre por nós que Ele sobe.

Depois de ter descido à nossa humanidade e de a ter redimido – Deus, o Filho de Deus, desce e faz-sS homem, assume a nossa humanidade e redime-a – agora Ele sobe ao céu, levando consigo a nossa carne.

É o primeiro homem que entra no céu, pois Jesus é homem, verdadeiro homem, é Deus, verdadeiro Deus; a nossa carne está no céu e isto dá-nos alegria.

À direita do Pai encontra-se agora um corpo humano, pela primeira vez, o corpo de Jesus, e neste mistério cada um de nós contempla o seu destino futuro. Não se trata de forma alguma de abandono, Jesus permanece para sempre com os discípulos, connosco. A oração de Jesus está ali, com a nossa carne: é um de nós, Deus homem, e reza por nós.

Papa Francisco, 2021

A Ascensão de Jesus ao profundo da minha existência

Ermes Ronchi, In Avvenire, 2023

Domingos Sequeira, Ascensão

Com a Ascensão, Jesus não vai para outro lugar ou para o alto, mas segue em frente e acende a sua sarça nos cantos de cada estrada. Sobe o Senhor, não ao ventre dos céus, mas ao profundo da minha existência, mais íntimo a mim do que eu próprio (cf. Santo Agostinho).

“A Ascensão não é um percurso cósmico, mas a navegação do coração que te conduz do fechamento em ti ao amor que abraça o universo” (Bento XVI).
A esta navegação do coração Jesus chama um grupinho de homens amedrontados e confusos, um núcleo de mulheres corajosas e fiéis, e confia-lhes o mundo.
Impele-os a pensar em grande e a olhar longe: o mundo é vosso. E fá-lo porque acredita neles, apesar de terem entendido pouco, apesar de terem traído e renegado, e muitos ainda duvidam.

E quanta alegria me dá sentir que confia em mim, nestas minhas mãos, neste meu coração, mais do que eu confio em mim próprio; sabe que também eu posso contagiar de céu e de natividades quem me é confiado.

Mas será tudo isto realmente possível? É-o, a acreditar no versículo conclusivo: eles partiram e pregaram em todo o lado, enquanto que o Senhor agia juntamente com eles.

Verbo extraordinário, que chega também até mim, aqui e agora: o Senhor agia em sinergia com eles, inseparáveis a sua energia e a do Senhor, uma só força, uma só linfa, uma só vida. Nunca sós. Última definição de Jesus: energia que opera contigo para a vida.

Jesus que nunca Se cansa de dar vida a toda a criatura, em todo o lugar da Terra, que não te deixa: está contigo em todos os teus gestos de bondade, quando ofereces uma palavra fresca e viva, quanto constróis a paz.

Nas tuas mãos, as suas mãos; Ele o Amor em cada amor; terra profunda das tuas raízes, céu do teu céu. Existir é coexistir, em sinergia com Cristo e para os outros.

Os apóstolos impuseram as mãos aos doentes e estes ficaram curados. Im-põe, põe as tuas mãos sobre alguém, como uma carícia, como um gesto de cura, com a arte da proximidade. Não se pode sequer começar a falar de moral, de ética, de Evangelho, se não se experimenta um sentimento de cura por alguma coisa ou por alguém.

Se te aproximas de quem sofre e tocas, com mãos e olhos que acariciam, essa carne em que arde a dor, poderás sentir uma divina sinergia, sentir que «Deus salva, e fá-lo através das pessoas» (R. Guardini).

 

Ver com o coração

D. José Tolentino Mendonça, 2019

Giotto, Ascensão

Hoje celebra-se a Ascensão de Jesus.
Os discípulos terão de aprender uma coisa que até então não sabiam, e que consiste em viver a presença de Jesus na sua ausência.

Viver em Jesus sem O ver, sem O encontrar no espaço físico e quotidiano do mundo.
Isto não significa que perderam Jesus.

Reencontrámo-l’O numa outra forma, e podemos reconhecer as novas modalidades da sua presença no meio de nós.

Por isso é tão importante aquilo que S. Paulo diz: «Deus ilumine os olhos do vosso coração, para voz fazer compreender a que esperança vos chamou». Precisamos dos olhos do coração para compreender a qualidade e a extensão da presença de Cristo na história.

Mas penso também naquele detalhe que o Evangelho de Mateus regista: no momento final da ascensão, alguns discípulos ainda duvidaram. Todavia, é curioso que essa dúvida não constitua um problema para Jesus. Ele investe os discípulos na missão, mesmo da dúvida.

Jesus não disse que aquela missão era apenas para aqueles que acreditaram solidamente.

Jesus confia a missão a todos.

As dúvidas e as dificuldades do caminho fazem parte da condição crente.

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