Domingo IV da Páscoa (PDF) TEXTO
Seguir Jesus Cristo
Seguir Jesus Cristo é, para toda a Igreja, consequência da vocação à santidade nascida do Baptismo, mas principalmente os bispos e os presbíteros sejam, em primeiro lugar, as testemunhas da santidade no ministério recebido em dom.
Com a vida e o ensinamento mostrem a alegria de seguir Jesus, Bom Pastor, e a eficácia renovadora do ministério da sua Páscoa de redenção.
D. José Manuel Cordeiro, In “O Padre – Do mistério ao ministério”
Jesus, porta para a liberdade
Enzo Bianchi, In “Monastero di Bose”
«Ámen, ámen, Eu vos digo: quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas por outra parte, é um ladrão e um bandido». As solenes palavras de Jesus evidenciam uma oposição: há aqueles que entram no redil do rebanho não através da porta, que é vigiada, mas passando por cima da cerca.
Estes são os ladrões e os bandidos: as ovelhas não lhes pertencem, mas eles querem apoderar-se delas (…); na realidade são lobos, falsos pastores que não cuidam das necessidades das ovelhas mas só pensam em si próprios.
Ao invés, «o pastor das ovelhas entra através da porta» e o guarda colocado à entrada reconhece-o e abre-a; então «as ovelhas escutam a sua voz: Ele chama as suas ovelhas, cada uma pelo nome, e condu-las para fora». Jesus é este pastor e o Pai é o guardião que abre a porta. Foi o Pai que Lhe deu as ovelhas, que O enviou, que tudo colocou nas suas mãos. Por isso o Pai reconhece Jesus como único pastor do rebanho, e assim fazem também as ovelhas: reconhecem a sua voz, escutam-na e exultam, cada qual por Ele chamada com o próprio nome.
Jesus tem uma tarefa precisa: chamando as ovelhas pelo nome, fá-las “sair”, faz-lhes realizar um êxodo do redil para os pastos abertos, para a liberdade.
Esta acção é mais do que o fazer sair Moisés do Egipto para a terra prometida, porque é um fazer sair da escravidão para a liberdade, da morte para a vida para sempre. Nestas poucas palavras delineia-se todo o caminho do discípulo, ovelha do rebanho de Jesus: deve escutar a voz do pastor, deve reconhecê-la como palavra para si, deve por isso conhecer o pastor e, portanto, segui-l’O para os pastos da liberdade, em vista de uma «vida em abundância».
O pastor define-se depois como «porta». (…)Jesus não diz que é a porta do redil, mas a porta das ovelhas! Ele não é uma porta que faz aceder a um redil, a uma instituição, mas uma porta ao serviço das ovelhas.
No Antigo Testamento a imagem da porta é reveladora de uma passagem para o céu, de uma passagem para aceder à presença do Senhor; mas aqui é Jesus que Se torna porta pequena e estreita, único caminho de entrada e de saída para Deus, o Pai.
Chegada a plenitude dos tempos, quando «se adora em Espírito e Verdade», Jesus é agora o único acesso a Deus, a única via para fazer parte do rebanho do Senhor: é uma porta aberta para um espaço sem limites. Nos últimos discursos aos seus discípulos, dirá: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida», palavras que explicitam a afirmação: «Eu sou a porta», que exprimem e são o caminho que conduz ao conhecimento de Deus e, portanto, à vida para sempre.
Nós somos seus
Papa João Paulo II, 27 Abril 1980
Cristo, Bom Pastor, conhece cada um de nós de modo diversificado. No Evangelho de hoje diz a tal propósito estas palavras insólitas.
Olhemos para o Calvário, no qual foi elevada a Cruz. Naquela cruz morreu Cristo, e foi em seguida deposto no túmulo. Olhemos para a cruz, na qual se realizou o mistério do divino “legado” e da divina “herança”. Deus, que tinha criado o homem, restituiu esse homem, depois do pecado – cada homem e todos os homens – de modo particularizado a seu Filho.
Quando o Filho subiu à cruz, quando na cruz ofereceu o seu sacrifício, aceitou simultaneamente o homem que Lhe fora confiado por Deus, Criador e Pai. Aceitou e abraçou, com o seu sacrifício e o seu amor, o homem: cada homem e todos os homens. Na unidade da Divindade, na união com o seu Pai, este Filho tornado, Ele mesmo, homem – e ei-Lo agora na cruz tornado “nossa Páscoa” – restituiu cada um e todos nós ao Pai, como a Quem nos criou à sua imagem e semelhança e, à imagem e semelhança deste próprio eterno Filho, predestinou-nos “para sermos Seus filhos adoptivos por obra de Jesus Cristo”.
E por esta adopção mediante a graça, por esta herança da vida divina, por este penhor da vida eterna, lutou até ao fim Cristo “nossa Páscoa”, no mistério da Sua Paixão, do seu Sacrifício e da sua Morte. A Ressurreição tornou-se a confirmação da sua vitória: vitória do amor do Bom Pastor que diz: “elas seguem-Me. Dou-lhes a vida eterna, nunca hão-de perecer, e ninguém as há-de arrebatar da minha mão”.
Nós somos seus.
Cristo é o Bom Pastor pois conhece o homem: cada um e todos. Conhece-o com este único conhecimento pascal. Conhece-nos porque nos remiu e porque “pagou por nós”: estamos resgatados por alto preço.
Conhece-nos com o conhecimento e com a ciência mais “interior”, com o mesmo conhecimento com que Ele, Filho, conhece e abraça o Pai e, no Pai, abraça a Verdade infinita e o Amor. E, mediante a participação nesta Verdade e neste Amor, Ele de novo faz de nós, em Si mesmo, os filhos do seu Eterno Pai; obtém, de uma vez para sempre, a salvação do homem: de cada homem e de todos, daqueles que ninguém arrebatará da sua mão… Quem, na verdade, poderia arrebatá-los?
Quem pode aniquilar a obra do próprio Deus, que o Filho realizou em união com o Pai? Quem pode mudar o facto de estarmos remidos? Facto tão poderoso e tão fundamental como a criação mesma?
Não obstante toda a instabilidade do destino humano e a fraqueza da vontade e do coração, a Igreja ordena-nos hoje que olhemos para o poder e para a força irreversível da redenção, que vive no coração e nas mãos e nos pés do Bom Pastor.
Daquele que nos conhece…
Tornámo-nos de novo a propriedade do Pai por obra deste Amor, que não recuou diante da ignomínia da Cruz, para poder assegurar a todos os homens: “Ninguém vos arrebatará da minha mão”.
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