Domingo da Páscoa da Ressurreição do Senhor (PDF)     TEXTO

Enquanto durar a situação de pandemia, fica suspensa a edição da Folha Informativa em papel.

 

Ressurreição, Nolli mi tangere, Giotto

Estamos no mundo, para O amar, a Ele e aos outros:
o resto passa, isto permanece. O drama que estamos a atravessar neste período impele-nos a levar a sério o que é sério, a não nos perdermos em coisas de pouco valor; a redescobrir que a vida não serve, se não se serve.

Porque a vida mede-se pelo amor.

Então, nestes dias da Semana Santa, em casa, permaneçamos diante do Crucificado, medida do amor de Deus por nós. Diante de Deus, contemplando o Crucificado peçamos a graça de viver para servir.

Não pensemos só naquilo que nos falta; pensemos no bem que podemos fazer.

Papa Francisco, Domingo de Ramos, 2020

Mensagem de Páscoa do Prior aos paroquianos de São Francisco Xavier

Caríssimos paroquianos de São Francisco Xavier

O fecho das nossas igrejas, com a impossibilidade de participar presencialmente na Santa Missa, e também a suspensão de todas as reuniões e actividades paroquiais, devido à pandemia do Covid 19, criou uma inesperada distância física entre todos nós, que nos causa grande sofrimento e muita saudade!

Queremos, porém, superar esta distância física com um mais intenso sentido de pertença à Igreja Católica, peregrina e sofredora no mundo inteiro, e em particular à nossa paróquia de São Francisco Xavier.

Queremos intensificar – e de certeza que já o estamos a fazer – os laços espirituais que nos unem uns aos outros – sempre em união com o Papa, com o Senhor Cardeal Patriarca, com os sacerdotes ao serviço de todos e com cada um dos grupos, movimentos e serviços que são a expressão da fé e da caridade de toda a paróquia.

Esta união invisível, espiritual, mas sentida e “sofrida”, exprime-se de muitas maneiras.

A primeira de todas é a oração: peço que, na oração pessoal, em particular no Terço diário, cada um tenha pelo menos um momento para rezar pela paróquia e por todos os paroquianos, e em especial pelas famílias, pelos doentes, pelos nossos idosos, e por todos os que possam ter sido atingidos pela pandemia e eventualmente estejam hospitalizados ou em tratamento. Pedimos também pelas crianças e jovens, que estão em casa, pelos pais que os acompanham, e também pelos avós que se encontrem privados de verem e de estarem com os netos. E ainda por todos os que, no âmbito geográfico da paróquia, possam ter morrido, por efeito do Covid 19, e por todos os que, no mundo inteiro, e em número tão devastador, esta pandemia arrebatou da vida, para que sejam acolhidos pela misericórdia de Deus, no Reino da vida sem fim.

A segunda é união espiritual com a celebração da Santa Missa, em que, todos os dias, tanto o Sr. Pe. António Borges como eu, vos temos a todos presentes. Mesmo sem fiéis, a Missa tem um valor infinito, quanto aos seus fins de adoração e de acção de graças, e um valor imenso quanto aos seus fins de súplica e reparação, que estão dependentes das nossas disposições. Há muitas transmissões da Missa, a que todos podem unir-se, e haverá muitas oportunidades, ao longo do dia, de fazer, não só uma, mas muitas comunhões espirituais, que antecipam e preparam a comunhão sacramental, quando esta puder de novo ser feita.

Convido-vos em particular a uma intensa união espiritual com as celebrações do Tríduo Pascal – a Missa Vespertina da Ceia do Senhor, em Quinta-Feira Santa; a Comemoração da Paixão do Senhor, em Sexta Feira Santa; a Vigília Pascal na Noite de Sábado Santo; e o Domingo de Páscoa – que vão realizar-se nos horários previstos, na nossa igreja paroquial. A vossa presença física não será possível, mas a sintonia interior poderá ser plena e total, e assim cresceremos todos na união com Deus, pela celebração da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, e pela união de fé e caridade que é fruto dessa mesma celebração.

Em terceiro lugar, não posso deixar de apelar também, como vosso pároco, à generosidade de todos, para que, pelos meios divulgados no nosso site, ajudem a mitigar os efeitos da privação dos contributos que habitualmente são recolhidos nos ofertórios das missas, e que são indispensáveis para a amortização da dívida contraída com a construção da Igreja Paroquial e para os encargos fixos que se mantêm mesmo nas presentes circunstâncias.

Por fim, peço que continuamente façamos nossa esta súplica que recentemente, em Fátima, se elevou ao “Coração de Jesus Cristo, médico das almas, elevado no alto da cruz e tocado pelos dedos dos discípulos no íntimo do Cenáculo”:

“Nesta singular hora de sofrimento, ampara as crianças, os anciãos e os mais vulneráveis, conforta os médicos, os enfermeiros, os profissionais de saúde e os voluntários cuidadores. Fortalece as famílias, e reforça-nos na cidadania e na solidariedade, sê a luz dos moribundos, acolhe no teu reino os defuntos, afasta de nós todo o mal e livra-nos da pandemia que nos atinge. (…) Nesta singular hora de sofrimento, acolhe os que perecem, dá alento aos que a Ti se consagram e renova o universo e a humanidade. Ámen”.

Peçamos, pois, a Deus, que passe quanto antes esta tremenda provação que se abateu sobre toda a humanidade, e que dela possamos sair convertidos, purificados, com uma fé mais intensa, com mais desejos de santidade e de apostolado, com um grande amor pela Igreja de Cristo, e com mais obras de verdadeira caridade para com todos, em especial os mais frágeis e carenciados deste mundo.

Com grande amizade em Cristo e a minha oração por todos

Cón. José Manuel dos Santos Ferreira
Pároco de São Francisco Xavier

 

Que sentido tem a Páscoa?

D. Tolentino de Mendonça, 2011

Quinta-feira Santa

Última Ceia, Duccio di Buoninsegna

Todas as vidas cabem na imagem quotidiana do pão que se parte e reparte. As vidas são coisas semeadas, crescidas, maturadas, ceifadas, trituradas, amassadas: são como pão. Não apenas degustamos e consumimos o mundo: dentro de nós vamos percebendo que o tempo também nos consome, nos gasta, nos devora. Somos uma massa que se quebra, uma espessura que diminui.

A questão é saber com que sentido e intensidade vivemos este tráfico inevitável. Todos nos gastamos, certo. Mas em que comércios? Todos sentimos que a vida se parte. Mas como tornar esse facto trágico numa afirmação fecunda e plena da própria vida?

Por isso espantam as palavras de Jesus. Ele pegou no pão e disse: “Tomem e comam, pois este pão é o meu corpo entregue por vós”. A Eucaristia, por vezes repetida como mero culto ou rotineiro signo de pertença sociológica, é, na verdade, o lugar vital da decisão sobre o que fazer da vida. Todas as vidas são pão, mas nem todas são Eucaristia, isto é, oferta radical de si, entrega, doação, serviço. Todas as vidas chegam ao fim, mas nem todas vão até ao fim no parto dessa utopia (humana e divina) que trazem inscrita. É destas coisas que a Quinta-feira Santa fala.

Sábado Santo

Ressurreição e as mulheres santas, Fra Angelico

O sábado santo não é apenas um dia imenso: é um dia que nos imensa.

Aparentemente representa uma espécie de intervalo entre as palavras finais de Jesus pronunciadas na Sexta-feira Santa, “tudo está consumado”, e a Insurreição da vida que, na manhã da Páscoa, Ele mesmo protagoniza.

O sábado tem assim um silêncio que não se sabe bem se é ainda o da pedra colocada sobre o túmulo, ou se é já aquele misterioso silêncio que prepara
“o grande levantamento” que a ressurreição significa.

Este “intervalo”, esta terra de ninguém, este tempo amassado entre derrotas e esperança, entre provação e júbilo é o da nossa vida.

O silêncio do sábado santo é o nosso silêncio que Jesus abraça. O silêncio dos impasses, das travessias, dos sofrimentos, das íntimas transformações.
Jesus abraça o silêncio desta sôfrega indefinição que somos entre já e ainda não.

 

Manhã de Domingo

omé, Master of the St. George Altarpiece

É quase paradoxal o modo como os Evangelhos contam a Ressurreição. Desconcerta que não exista, nos discípulos, uma crença imediata, que não considerem as provas avançadas sem refutação ou não tomem os primeiros testemunhos por inabaláveis.

A notícia da Ressurreição começa por ser vivida com suspeita, desconfiança, receio, distância.
A frase de Tomé, “Se eu não o vir não acredito”, é, no fundo, a posição de todos.

A notícia circulava em voz baixa, como uma insinuação que não era tomada muito a sério.
Os dois discípulos de Emaús já a tinham ouvido, mas mesmo assim estavam dispostos a abandonar tudo. Contudo, o anúncio da Ressurreição vai crescendo. Mesmo não acreditando nas mulheres, Pedro e João correm ao sepulcro. E João vê o silêncio dos sinais e acredita. Os dois discípulos foragidos reconhecem Jesus numa hospedaria de estrada e regressam a Jerusalém.

O próprio Ressuscitado vem ao encontro de Pedro e dos discípulos atravessando as portas que eles tinham fechado.
E Jesus estende as mãos às dúvidas de Tomé.
Pouco a pouco, é em torno àquilo que primeiro declararam impossível que eles se reúnem e vivem.

 

A Fé é concreta

Papa Francisco, 2017

Crucificação, Giotto

Para compreender este programa de vida é necessária uma «mudança de mentalidade», libertar-se dos laços do «racionalismo» e aderir à «liberdade» do Espírito.

Peçamos ao Senhor esta experiência do Espírito que vai e vem e que nos leva em frente, do Espírito que nos dá a unção da fé, a unção da solidez da fé.
Voltam a ressoar as palavras ditas a Nicodemos: «Não te admires se Eu te disse: “Tens de nascer do alto”.

“O vento sopra onde quer; ouves o seu ruído mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito”.

Quem nasceu do Espírito «ouve a voz, segue o vento, segue a voz do Espírito sem saber onde acabará. Porque fez uma opção pela solidez da fé e o renascimento no Espírito.

O Senhor nos conceda a todos este Espírito pascal, para irmos pelos caminhos do Espírito sem comprometimentos, sem rigidez, com a liberdade de anunciar Jesus Cristo como Ele veio: na carne.

 

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