Domingo VI do Tempo Comum (PDF) TEXTO

Sim, sim, não não

P. Verkade. Deposição da Cruz

O Senhor Jesus e a mãe Igreja pedem-nos para testemunhar com maior zelo e ardor as atitudes de santidade.

Por isso, amemos aqueles que nos são hostis; bendigamos quem diz mal de nós; saudemos com um sorriso quem talvez não o mereça; não aspiremos a fazermo-nos valer, mas contraponhamos a mansidão à prepotência; esqueçamos as humilhações sofridas.

Neste tempo, que somos nós, celebra-se uma liturgia existencial: a da bondade, do perdão, do serviço, numa palavra, a liturgia do amor.

A Igreja deve seguir uma rota que privilegie o encontro e a abertura, evitando uma visão apocalíptica da história marcada pelo conflito, isolamento, fuga e resignação.

Papa Francisco

Debaixo do mesmo céu

Papa Francisco, Dia Internacional da Fraternidade Humana, 2023

Plautilla Nelli, Última Ceia

Debaixo do mesmo céu
A pandemia demonstrou que ninguém se salva sozinho. Somos todos diferentes, mas todos iguais em dignidade e independentemente de onde e de como vivemos, da cor da pele, da religião, da classe social, do sexo, da idade, das condições de saúde e económicas, todos vivemos “Debaixo do mesmo céu”.

E por isso, devemo-nos reconhecer irmãos, sendo a fraternidade um dos valores fundamentais e universais na base das relações entre os povos.

Mas “debaixo do mesmo céu”, quem crê em Deus tem um papel a mais a desempenhar, que é ajudar os nossos irmãos a elevar o olhar e a oração ao céu.
Elevemos os olhos ao Céu, porque quem adora a Deus com coração sincero ama também o próximo.

Caminhar juntos
Caminhar juntos, porque hoje é o tempo oportuno, não é o tempo da indiferença nem do esquecimento.

Ou somos irmãos ou tudo desaba. E esta não é uma expressão meramente literária de tragédia, não, é a verdade! Ou somos irmãos ou tudo desaba, vemo-lo nas pequenas guerras, nesta terceira guerra mundial em pedaços, os povos destroem-se, as crianças não têm o que comer, diminui a educação… É uma destruição.

O percurso da fraternidade é longo e difícil, mas é a âncora de salvação para a humanidade. Aos muitos sinais ameaçadores, aos tempos sombrios e à lógica do conflito, é preciso responder com o sinal da fraternidade, convidando o outro a empreender um caminho comum. Não iguais, não, irmãos, cada um com a própria personalidade, com a própria singularidade.

Convido todos a empenharem-se pela causa da paz, respondendo aos problemas e às necessidades concretas dos últimos, dos pobres, de quem é indefeso.
A proposta é caminhar lado a lado, “fratelli tutti”, para sermos concretamente artesãos de paz e de justiça, na harmonia das diferenças e no respeito da identidade de cada um.

Quaresma, tempo de revisão

Adérito Gomes Barbosa, scj

Um pouco de História
Sabe-se que aproximadamente 200 anos depois de Cristo, os cristãos introduziram três dias antes da Páscoa dedicados à oração, à meditação e ao jejum como sinal de luto pela morte de Cristo.

Pensaram também que não deveria ser só preparada, mas era necessário encontrar também uma forma de prolongar a alegria e a riqueza espiritual da Páscoa.

Foram assim instituídas sete semanas depois da Páscoa, 50 dias de Pentecostes que deveriam ser celebrados com alegria. Durante os dias de Pentecostes rezava-se em pé, era proibido jejuar, administrava-se o Baptismo. Era como se o dia de Páscoa tivesse 50 dias.

Significado do número 40
Como outros números, o número 40 é simbólico. Indicava, entre outros significados, um período de preparação para um grande acontecimento.

O dilúvio durou 40 dias e 40 noites; 40 anos foi o tempo que passou o Povo de Israel no deserto, preparando-se para entrar na Terra Prometida. Os habitantes de Nínive fizeram 40 dias de penitência antes de receber o perdão de Deus. Moisés e Jesus fizeram 40 dias e 40 noites de jejum para prepararem a sua missão.

A Quaresma
Desde os tempos antigos, a Quaresma sempre significou um período de renovação da própria vida. As práticas a cumprir eram três: a oração, a luta contra o mal e o jejum.

A oração para pedir a Deus força para se converter e para crer no Evangelho. Aqui sublinha-se o aspecto da mudança, da consciência do próprio erro e a possibilidade de encetar um caminho diferente. O segundo aspecto sublinhado é rezar para ter a fé como dom de Deus. Quase que se poderá dizer que a Quaresma é um tempo de retiro vivido por toda a Igreja.

A luta contra o mal para dominar as paixões e o egoísmo, abrir-nos aos outros.

O jejum. Para seguir Jesus Cristo, o cristão deve ter a força de se esquecer de si mesmo, de não pensar nos próprios interesses, mas só no bem do irmão.
Assumir uma atitude constante, generosa e desinteressada não é fácil. É este o sentido do jejum. Também pode significar que para ajudar a quem se encontra em mais necessidade, é muitas vezes necessário renunciar àquilo de que se gosta e isso implica sacrifício. Não fazem assim as mães pelos seus filhos?

O fruto do jejum servirá para matar a fome e a sede a um necessitado. É este o sentido do jejum apresentado pelo Pastor de Hermas. O Papa Leão Magno referia: “Nós prescrevemo-vos o jejum, lembrando-vos não só da necessidade da abstinência, mas também das obras de misericórdia”.
A esmola também é uma forma de solidariedade, de partilha.

Quaresma, tempo de reconciliação
A Quaresma é tempo favorável para, através de diversas formas, renovarmos a nossa fidelidade cristã.

O gesto de imposição das mãos na Quarta-Feira de Cinzas leva-nos a tomar consciência da nossa condição de pecadores.

É tempo propício para o aprofundamento do desígnio de Deus sobre cada um.
É tempo de renunciar, de converter e de crer.

Ao longo destes 40 dias, as leituras sugerirão: sentido de jejum e da partilha, amor ao próximo, importância da oração, conversão, justiça de Deus, a sua misericórdia, o perdão e a reconciliação.

Estas leituras quaresmais levam-nos a interrogarmo-nos: como vivemos as exigências do nosso baptismo?

Sugere-se mais reflexão sobre a Palavra de Deus, mais oração e a Via-Sacra.

A Quaresma exige que façamos a revisão das nossas competências.
Se lutamos por ser competentes ou somos “do despacha”, porque custa.

Também exige que façamos a revisão da nossa moralidade: os nossos costumes, valores e acções.

Assim como diz o Catecismo da Igreja Católica, entremos numa linha de ascese (esforço, sacrifício) e deixemos de lado a acédia (preguiça espiritual).

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