Festa do Baptismo do Senhor (PDF)     TEXTO

 

Giotto, Baptismo do Senhor

Como Jesus após o seu Baptismo, deixemo-nos ser guiados pelo Espírito Santo em tudo o que fazemos.

Mas para isso, devemos invocá-l’O!
Aprendamos a invocar o Espírito Santo com mais frequência, nos nossos dias, para poder viver com amor as coisas ordinárias, e assim, torná-las extraordinárias.

A missão da Igreja e a de cada um de nós, para ser fiel e frutuosa, é chamada a inserir-se na de Jesus. Trata-se de regenerar continuamente na oração a evangelização e o apostolado, para dar um claro testemunho cristão, não segundo nossos projectos humanos, mas segundo o estilo de Deus”.

Papa Francisco, Festa do Baptismo do Senhor, 2019

 

 

Morrer para Si e viver do Espírito

Enzo Bianchi , In “Monastero di Bose” (excertos)

Bacchiacca, Baptismo de Jesus

Jesus, cujo nome significa “o Senhor salva”, é conotado através da sua proveniência de Nazaré, povoação da sua família e da sua infância.
Sim, Jesus de Nazaré é um nome humaníssimo, e é talvez por isso que no último século, no interior da espiritualidade cristã e não só, goza de uma sorte privilegiada em relação a outros títulos ou designações: isto não é um desconhecimento da sua divindade, mas responde à necessidade de afirmar a sua humanidade, que é antes de tudo solidariedade connosco, homens e mulheres.

E eis que aquele do qual é anunciado que baptiza, é agora baptizado, mergulhado por João. Seja dito com clareza: João imerge Jesus no Jordão, mergulha-O nas águas, e assim Jesus é como que imergido na morte, afogado e depois erguido, arrancado ao vórtice que submerge. É assim que Jesus desce, alcança o mais baixo do que é baixo, o último lugar que nunca Lhe será tirado.

Não podemos esquecer que esta primeira manifestação pública de Jesus surgiu como escandalosa para os primeiros cristãos, que, aclamando-O na fé como Senhor, temiam que neste acontecimento fosse percepcionado como inferior ao Baptista. Deste modo, progressivamente, deixar-se-á de recordar o facto de que foi João a imergir Jesus. Não é por acaso que, no Evangelho segundo Mateus, Jesus é apresentado como Aquele que tem de convencer o Baptista a mergulhá-l’O, vencendo a sua hesitação: «Deixa fazer por agora, porque convém que cumpramos toda a justiça».

*É precisamente nesta condição “baixa” que acontece para Jesus uma manifestação de Deus, uma teofania. Enquanto sobe da água, vê os céus rasgados e o Espírito descer sobre Ele como uma pomba. Vê o que os outros não vêem, recebe uma revelação que aos outros permanece oculta. Os céus rasgaram-se sobre Ele, Jesus tem plena comunhão com Deus, a Terra e o Céu estão em comunicação. E precisamente nesses céus abertos Jesus vê o Espírito de Deus – que muitas vezes tinha descido sobre os profetas, e constituía a unção do Servo-Profeta anunciado por Isaías – descer sobre Ele como uma pomba.

Nas páginas de Isaías lê-se: «Onde está aquele que tirou das ondas o pastor do seu reba­nho? Onde está aquele que pôs no meio deles o seu santo espírito?». É por isso que Jesus recebe o Espírito no momento de sair das águas. O Espírito que desce sobre Ele é o mesmo Sopro que pairava sobre as águas da primeira criação, e desce agora sobre Jesus, que se torna a Morada de Deus.

A acção de Deus, mediante a imagem da pomba, é acompanhada pela palavra pronunciada pela voz que chega do céu: «Tu és o Filho meu, o amado; em ti pus o meu comprazimento». É a palavra que revela Jesus na sua identidade mais profunda, palavra que Jesus deverá interiorizar na sua vida humana para responder plenamente à sua vocação, à sua missão, mas antes de tudo à sua verdade.
Esta voz implica a paternidade de Deus sobre Jesus e especifica que Ele é o único Filho, o Filho amado, como era Isaac para o seu pai Abraão.

A imersão nas águas da morte, da rejeição e da traição, Jesus vivê-la-á na sua paixão, que será a sua epifania sobre a cruz: Jesus crucificado entre dois pecadores, em plena solidariedade connosco, humanos, tal como começou o seu ministério. Então, quando os céus parecem fechados, ao seu expirar rasga-se o véu do templo, porque o Santo dos santos, o lugar da presença na Terra, do diálogo definitivo entre Terra e Céu, é precisamente Ele, Jesus. O véu rasgado é o sinal de que todo o ser humano poder ter comunhão com Deus através do corpo de Jesus, dador de Espírito e de vida

 

Viver o nosso Baptismo

São Josemaria E. Balaguer, É Cristo que passa

Cada um de nós tem que ser ipse Christus, o próprio Cristo. Ele é o único Medianeiro entre Deus e os homens ; e nós unimo-nos a Ele para com Ele oferecermos todas as coisas ao Pai. A nossa vocação de filhos de Deus, no meio do mundo, exige não apenas que procuremos atingir a nossa santidade pessoal, mas que avancemos pelos caminhos da terra, para convertê-los em atalhos que, através dos obstáculos, levem as almas ao Senhor; que tomemos parte, como cidadãos comuns, em todas as actividades temporais, para sermos levedura que informe a massa inteira.

A experiência da nossa fragilidade e dos nossos erros, a desedificação que pode causar o espectáculo doloroso da pequenez ou até da mesquinhez de alguns que se chamam cristãos, o aparente fracasso ou a desorientação de alguns movimentos apostólicos, tudo isso pode, no entanto, constituir uma prova para a nossa fé e fazer com que se insinuem a tentação e a dúvida: onde estão a força e o poder de Deus? É o momento de reagir, de pormos em prática com mais pureza e energia a nossa esperança e, portanto, de procurarmos que seja mais firme a nossa fidelidade.

Gostaria que considerássemos agora esse manancial de graça divina que são os Sacramentos, maravilhosa manifestação da misericórdia de Deus. Meditemos devagar na definição do Catecismo de São Pio V: determinados sinais sensíveis que causam a graça, e ao mesmo tempo a declaram, como que pondo-a diante dos olhos. Deus Nosso Senhor é infinito, seu amor é inesgotável, sua clemência e sua piedade para connosco não admitem limites.

E, embora nos conceda a sua graça de muitas outras maneiras, instituiu expressa e livremente – só Ele o podia fazer – esses sete sinais eficazes, para que de um modo estável, simples e acessível a todos, os homens pudessem participar dos méritos da Redenção.

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