Domingo XXVIII do Tempo Comum (PDF) TEXTO
A liturgia do 28º Domingo do Tempo Comum utiliza a imagem do “banquete” para descrever esse mundo de felicidade, de amor e de alegria sem fim que Deus quer oferecer a todos os seus filhos.
Na primeira leitura, Isaías anuncia o “banquete” que um dia Deus vai oferecer a todos os Povos. Acolher o convite de Deus e participar nesse “banquete” é aceitar viver em comunhão com Ele. Dessa comunhão resultará, para o homem, a felicidade total, a vida em abundância.
O Evangelho sugere que é preciso “agarrar” o convite de Deus. Os interesses e as conquistas deste mundo não podem distrair-nos dos desafios de Deus.
A opção que fizemos no dia do nosso baptismo não é “conversa fiada”; mas é um compromisso sério, que deve ser vivido de forma coerente.
DEHONIANOS
Fratelli Tutti
Otávio Carmo, Agência Ecclesia
Francisco de Roma deixou-se inspirar por Francisco de Assis e colocou-se na esteira do futuro propondo um caminho de fraternidade. O Papa assinou em Assis neste sábado, dia 3 de Outubro, a Encíclica “Fratelli Tutti”, “Todos Irmãos”. Um documento sobre “a fraternidade e a amizade social”.
O desafio da fraternidade
Desde o primeiro dia do seu pontificado, que o Papa Francisco se apresentou ao mundo com a palavra “irmãos”. Logo ali na noite da sua eleição, em Roma, a 13 de Março de 2013 disse: “Irmãos e irmãs, boa noite!”. E lançou um desafio: “Comecemos este caminho, bispo e povo, um caminho de fraternidade e de confiança entre nós.”
Depois da Encíclica “Lumen Fidei”, em 2013 e da “Laudato Si”, em 2015, Francisco dirige-nos um grande desafio. O desafio da fraternidade proposta por Jesus: amar o próximo como a mim mesmo.
“De Lampedusa a Assis, passando por Paris e Abu Dhabi. ‘Fratelli Tutti’ deve ser a encíclica menos romana de que tenho memória, em quase 20 anos de profissão e outros mais de estudo, nesta área.
Tal como a Laudato Si’, em 2015, procurou responder com o conceito de ecologia integral aos desafios das alterações climáticas, em pleno debate que levaria ao Acordo de Paris, a encíclica sobre a fraternidade e a amizade social quer propor valores fundamentais num mundo marcado pela pandemia.
E oferecer uma resposta à questão inicial de todo o edifício ético ocidental, vinda do próprio Deus: Onde está o teu irmão?
Como vimos com a trágica crise dos últimos meses, acima da dignidade humana têm estado valores económicos, jogos políticos e interesses partidários. Mas a vida nunca é relativa.
A este respeito, recordo as perguntas que surgem no primeiro livro da Bíblia, o Génesis, que me parecem fundadoras da ética ocidental: “Onde está o teu irmão?” e “Que [lhe] fizeste?”.
O “interrogatório” de Deus a Caim, após a morte do seu irmão Abel, condensa o apelo fundamental que viria a ser sintetizado no ensinamento de Jesus Cristo: amar o próximo como a si mesmo.
Outro momento central do pontificado parece evidente na escolha do tema da nova encíclica: a fraternidade humana.
Na histórica viagem a Abu Dhabi, a 4 de Fevereiro de 2019, onde assinou com o imã de Al-Azhar uma declaração que condena a violência em nome da religião, o Papa deixou uma frase que define a sua visão do diálogo entre religiões e destas com a sociedade: “Hoje também nós, em nome de Deus, para salvaguardar a paz, precisamos de entrar juntos, como uma única família, numa arca que possa sulcar os mares tempestuosos do mundo: a arca da fraternidade”.
A pandemia devolveu-nos a percepção de limite. Não estávamos prontos para isso, no frenesim de 2020. Temos diante de nós o desafio de retirar consequências éticas e antropológicas da passagem por esta situação: o que somos, quando chega o fim?
A transformação dos mais vulneráveis em sujeitos dispensáveis é uma das marcas mais negativas (e temo que seja permanente) deste tempo. Caímos na globalização da indiferença, que o Papa denunciava na sua primeira viagem, carregada de simbolismo, em 2013, à ilha de Lampedusa.
Habituamo-nos ao sofrimento do outro. Uma crítica terrível, de Francisco, que nos convida agora a redescobrir a amizade social, um conceito que une sujeitos e instituições na construção de uma nova sociedade, marcada pela fraternidade.
Fratelli Tutti, como pedia São Francisco de Assis, irmão de todos.”
Temperança (para além da escassez)
Luigino Bruni
Temperança é palavra que está a sair do nosso vocabulário quotidiano. Do económico já saiu há muito tempo, para deixar espaço ao seu contrário.
Com a temperança está todo o léxico da ética das virtudes que tende a desaparecer da gramática da vida em comum.
Quando não se consegue ver o positivo do limite é impossível compreender e apreciar as virtudes, de modo especial a temperança, que consiste precisamente em dar valor ao limite que, ao mesmo tempo que restringe o horizonte de visão (como a “sebe da colina do Infinito” de Leopardi), abre «intermináveis espaços que estão para além dela».
Sem temperança não há partilha de bens, não existe a alegria da comunhão. Se não nos educarmos continuamente a delimitar as fronteiras do eu, partilharemos com os outros apenas as migalhas de refeições exageradas; assim não experimentaremos a verdadeira fraternidade, que é fruto de escolhas difíceis de quem sabe limitar razões e âmbitos do “eu”, para edificar as do “nosso”, e as de todos.
Enquanto ontem existia uma relação clara entre a minha temperança e o meu bem-estar pessoal e o nosso bem comum, hoje na era da complexidade este nexo ofuscou-se. Já não é imediato associar o uso do ar condicionado na minha casa ao aumento da temperatura nas cidades.
A racionalidade económica por si só não ajuda a esta tomada de consciência (pelo contrário); seria necessário o registo lógico da virtude que nos leva a praticar uma acção por termos interiorizado o seu valor intrínseco.
Por isso, se não desmercantilizarmos a sociedade, isto é, se não libertarmos importantes áreas da vida civil, hoje ocupadas e colonizadas pela lógica do preço e do incentivo, cada vez menos entenderemos o valor da sobriedade, da abstinência, do controlo de si mesmo, e cada vez menos o entenderão as crianças.