Domingo II do Advento (PDF) TEXTO

Arrependei-vos

Jacopo del Casentino, São João Batista

 

Somos chamados a aterrar os vales produzidos pela frieza e pela indiferença, abrindo-nos aos outros com os mesmos sentimentos de Jesus, com cordialidade e atenção fraterna que se ocupam das necessidades do próximo.

Não podemos ter um relacionamento de amor, de caridade, de fraternidade com o próximo se há “buracos”, assim como é difícil percorrer uma estrada com muitos buracos. Isto exige que mudemos de atitude. E devemos fazer tudo com um zelo especial pelos mais necessitados.

Depois, é preciso aplainar as asperezas causadas pelo orgulho e pela soberba. Quantas pessoas, talvez até sem se dar conta, são soberbas, ásperas, não mantêm um relacionamento de cordialidade.

É necessário superar isto através de gestos concretos de reconciliação com os nossos irmãos, de pedido de perdão das nossas culpas.

Papa Francisco, 2018

 

Palavras de consolação

Nuno Romão, Celebração Litúrgica, 2023

O tempo de Advento, traz-nos, no seu final, a alegre notícia de um acontecimento que marca a história. O mundo não seria o mesmo sem este evento divino e humano: o nascimento de Cristo.

No caminho para a alegria do encontro com o Senhor, a Liturgia da Palavra do 2º Domingo do Advento, convida-nos a abrir dois livros inspirados: o Livro da Consolação de Isaías e o Evangelho de Marcos. E assim poderemos falar ao coração, dizer palavras de consolo, anunciar as melhores notícias, levantar o ânimo abatido… Abrir caminhos de liberdade, assegurar que não haja vales que não possam ser elevados, nem montanhas que não possam ser baixadas; perceber que as curvas se podem endireitar e que, de qualquer labirinto se pode sair… E assim poderemos acender a esperança e anunciar claramente que Deus não nos abandonou, que nunca Se pode esquecer de nós… mas vem criar um mundo novo.

Consolai, consolai o meu povo. Assim começa o chamado “Livro da Consolação” do profeta Isaías, cujo prólogo lemos na 1ª leitura. Quase a terminar o exílio da Babilónia o profeta proclama bem alto que o tempo da servidão acabou e que a culpa do povo foi perdoada…
Não eram circunstâncias fáceis as que então se viviam: entre os exilados misturavam-se sentimentos de culpa e de injustiça, a resignação e o pessimismo era o sentimento mais generalizado.

Mas Deus, que não está ausente da nossa história, decide que este povo deve ser levantado e curado. Decide trazer luz à sua noite, e oferecer-Se para o conduzir, com amor e solicitude ao encontro da verdadeira vida e liberdade. Por isso, diz o profeta, é possível voltar a sonhar. Deus está aí e vem com poder. E assim, a paz e a justiça, a misericórdia e a fidelidade podem voltar a encontrar-se.
Que extraordinário capital de esperança o profeta Isaías faz chegar até nós: Deus vem sempre ao nosso encontro e oferece-Se para nos conduzir.

Por isso, não fiquemos instalados e acomodados nas nossas misérias ou pecados, não percamos a capacidade de arriscar e a vontade de começar um novo caminho com Deus; não fiquemos resignados a uma vida banal, vazia. Saibamos abrir o coração à novidade do Pastor que vem para nos reunir, para nos mostrar o seu amor e a sua salvação.

No vasto deserto da solidão, que hoje se vive, seja no isolamento de quatro paredes sem calor humano, seja na confusão anónima das ruas, em que nos tocamos e cruzamos, sem nos vermos, sem chegarmos a sentir nada uns pelos outros, tornemo-nos sinal de consolação e esperança, falemos ao coração dos que lutam sozinhos, dos que combatem sem apoios, dos que falam sem nunca serem ouvidos, dos que caminham, pelo mundo, sem estrelas, nem companhia!

Assim se apresentou João Batista ao trazer-nos a boa notícia da proximidade do Senhor, já presente no meio de nós (Evangelho).
Centrado no essencial, figura despojada e sóbria, à espera d’Aquele que batiza no Espírito Santo, João é o mensageiro que antecede o Esperado. O seu grito de sentinela não deixa ninguém indiferente, mas envolve a todos um itinerário de conversão: preparai, no deserto, o caminho do Senhor.

Nos desertos da solidão e do abandono, do medo e da desesperança, do desencanto e do cansaço, é preciso preencher os vazios da nossa vida, reservando neste Advento mais tempo para rezar com mais intensidade; para reservar à vida espiritual o lugar importante que lhe compete… que pode ser o vazio da falta de caridade para com o próximo, sobretudo para com as pessoas mais necessitadas de ajuda não só material, mas também espiritual.

Que a Virgem Maria, que preparou a vinda de Cristo com a totalidade da sua existência, nos ajude a viver o Advento como o tempo para escutarmos a voz que clama no deserto: preparai os caminhos do Senhor…

As palavras e testemunho de João Batista

Dehonianos, 2023

Pieter Brueghel, o Jovem: A pregação de S. João Batista

Qual é a missão de João? Ser o mensageiro que prepara o caminho para o “Messias”.

A propósito da apresentação da missão de João, o autor apresenta uma citação que é um conjunto de afirmações retiradas do Êxodo, de Isaías e de Malaquias: “Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho. Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas”. A

acumulação de citações tiradas da Tora e dos Profetas sugere que João é esse mensageiro de Deus do qual falavam as promessas antigas, e que devia vir anunciar e preparar o Povo de Deus para acolher a intervenção definitiva de Javé na história humana.

Em que consistia a pregação de João? Ele “apareceu no deserto a proclamar um batismo de penitência para remissão dos pecados”. De acordo com a catequese judaica, o Messias só chegaria quando Israel fosse, na verdade, a comunidade santa de Deus. Antes de o Messias chegar, o Povo devia, portanto, realizar um caminho de purificação e de conversão, de forma a tornar-se um Povo santo. O “batismo de penitência” (literalmente, “batismo de conversão”) proposto por João deve ser entendido neste contexto e representa um convite à mudança radical de vida, de comportamento, de mentalidade.

A pregação de João é feita “no deserto”, que é, no contexto da catequese judaica, o lugar onde o Povo de Deus realizou uma caminhada de purificação e de conversão. Foi aí que os israelitas libertados do Egito passaram de uma mentalidade de escravos a uma mentalidade de homens livres, do egoísmo à partilha, de uma atitude descomprometida a uma Aliança com Javé, da desconfiança em relação à proposta libertadora que Moisés lhes apresentou à confiança total num Deus que cumpre as suas promessas e que é fonte de vida e de liberdade para o seu Povo.

A pregação de João lembrava aos israelitas a necessidade de voltar ao “deserto” e de percorrer um caminho semelhante àquele que os antepassados tinham percorrido.

O estilo de vida de João – sóbrio, desprendido, austero, simples – é um convite claro à renúncia aos valores do mundo. É a aplicação prática dessa austeridade de vida que João pede aos seus conterrâneos.

O que é que João diz sobre esse Messias libertador, do qual ele é o arauto e o mensageiro? Fala da “força” do Messias e define a sua missão como “batizar no Espírito”. O Messias terá, portanto, a força de Deus e a sua missão será comunicar esse Espírito de Deus, que transforma, renova e recria os corações dos homens.

 

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