Domingo de Ramos na Paixão do Senhor (PDF) TEXTO
Senhor, colocámo-nos no lugar do Criador, e, sem humildade nem sabedoria, acreditámos que podíamos dirigir cada coisa seguindo o caminho do domínio e da posse.
Transformai-nos!
Faz com que o nosso rosto seja luz, que as nossas palavras sejam fortes, as nossas acções coerentes.
Mais do que nunca, precisamos da grandeza do teu sopro, precisamos que o teu coração se torne nosso, para nos recordar que também em nós vive a maravilhosa liberdade dos filhos de Deus.
Paul Claudel, Meditação da Via Sacra
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P. José Frazão Correia, sj
A fidelidade no anúncio joga-se na tensão entre conservação e mudança. Por isso, a transmissão da fé é necessariamente acto de tradução, mesmo que no risco de traição.
A mudança de olhar assinalou o Concílio Vaticano II (1962-1965). Por aqui se começou.
Por um lado, pela forma da Igreja olhar para o que estava fora de si, o “mundo” moderno que, particularmente desde a revolução francesa e com as revoluções liberais, passara a ser-lhe estranho e hostil. Por outro, pela disposição a deixar-se olhar por esse “outro” diferente de si e pela disponibilidade para aprender com ele. Foi a esta mudança radical que João XXIII iniciou na Igreja quando convocou o último concílio.
Por esta fidelidade à conversão do olhar – cremos – deverá continuar a passar, também hoje, o anúncio do Evangelho. Não é pouco. Não é imediato.
Pensemos, por exemplo, no modo de olhar e, sobretudo, de nos deixarmos olhar pela realidade da mulher, da sexualidade, das múltiplas periferias, da vida urbana ou das alterações climáticas.
Como se compreendem e se exprimem, hoje, na nossa cultura? O que contestam e em que feridas põem o dedo? O que reivindicam e a que bens anseiam? No modo como a Igreja tem lidado com estes dados, em palavras, actos e, eventualmente, omissões, o que nasce do coração do Evangelho e o que é fruto de processos históricos em contextos culturais particulares?
Haverá, certamente, muito a dizer, de modo crítico, sobre cada um deles, a partir do Evangelho. Mas haverá, também, muito a aprender – de forma discernida – sobre o Evangelho a partir deles, quais caminhos indirectos, mas incontornáveis, para que o mesmo Evangelho se alargue, se aprofunde, respire mais amplamente.