Domingo I da Quaresma (PDF)     TEXTO

JESUS, CHEIO DO ESPÍRITO SANTO, RETIROU-SE

Moretto da Brescia, Jesus no deserto

Jesus não escolhe partir para o deserto. É conduzido pelo Espírito Santo.

E aí, é afrontado pelo espírito do mal.

Também nós não escolhemos viver neste mundo em que Deus Se tornou desinteressante. Deserto para as nossas vidas de crentes… para a nossa Igreja… com todas as tentações ligadas às nossas faltas: lassidão, desencorajamento, desejo de nos retirarmos de uma Igreja que nos desconcerta e de abandonarmos Deus…

Por causa de Jesus sabemos que a travessia do deserto é possível.

A Quaresma, convite a reavivar a nossa esperança!

Dehonianos

 

QUARESMA, TEMPO PARA REENCONTRAR A ROTA DA VIDA

Papa Francisco, Março de 2019

Diego Velasquez, Jesus na cruz

«Toquem a trombeta em Sião, proclamem um jejum». Com este versículo do livro do Profeta Joel, o Papa Francisco iniciou a sua homilia, sublinhando que a “Quaresma tem início com um som estridente: o som de uma trombeta que não acaricia os ouvidos, mas proclama um jejum”.

Despertador da alma

É um som intenso, que pretende abrandar o ritmo da nossa vida, sempre dominada pela pressa, mas muitas vezes não sabe bem para onde vai. É um apelo a deter-se para ir ao essencial, a jejuar do supérfluo que distrai. É um despertador da alma. Ao som desse despertador, segue-se a mensagem que o Senhor transmite pela boca do profeta, uma mensagem breve e premente: «Voltem para Mim».

Rota da vida

Se devemos voltar, isso significa que a direcção seguida não era justa. A Quaresma é o tempo para reencontrar a rota da vida.

Com efeito, no caminho da vida, como em todos os caminhos, aquilo que verdadeiramente conta é não perder de vista a meta. Quando na viagem, o que interessa é ver a paisagem ou parar para comer, não se vai longe.

No caminho da vida, procuro a rota? Ou contento-me de viver o dia-a-dia, pensando apenas em sentir-me bem, resolver alguns problemas e divertir-me um pouco? Qual é a rota? Talvez a busca da saúde, que hoje muitos dizem vir em primeiro lugar, porém, mais cedo ou mais tarde faltará? Porventura a riqueza e o bem-estar? Mas não é para isso que estamos no mundo.

Voltem para Mim, diz o Senhor. Para Mim: o Senhor é a meta da nossa viagem no mundo. A rota deve ser ajustada na direcção d’Ele. Hoje, para encontrar a rota, é-nos oferecido um sinal: as cinzas na testa. É um sinal que nos faz pensar no que temos na cabeça. Os nossos pensamentos seguem coisas passageiras, coisas que vão e vêm. As cinzas que receberemos dizem-nos, com delicadeza e verdade, que das muitas coisas que temos na cabeça, atrás das quais corremos e nos afadigamos diariamente, não restará nada.

Cultura da aparência

As realidades terrenas dissipam-se como poeira ao vento. Os bens são provisórios, o poder passa, o sucesso declina. A cultura da aparência, hoje dominante e que induz a viver para as coisas que passam, é um grande engano. Pois é como uma fogueira: uma vez apagada, ficam apenas as cinzas.

A Quaresma é o tempo para nos libertarmos da ilusão de viver a correr atrás da poeira.
É redescobrir que somos feitos para o fogo que arde sempre, não para a cinza que imediatamente desaparece; para Deus, não para o mundo; para a eternidade do Céu, não para o engano da terra; para a liberdade dos filhos, não para a escravidão das coisas. Hoje, podemos perguntar-nos: De que parte estou? Vivo para o fogo ou para as cinzas?

Esmola, oração e jejum

Nesta viagem de retorno ao essencial, o Evangelho propõe três etapas que o Senhor pede para percorrer sem hipocrisia nem ficção: a esmola, a oração e o jejum, que nos reconduzem às únicas três realidades que não se dissipam.

A oração une-nos a Deus; a caridade, ao próximo; o jejum, a nós. Deus, os irmãos, a minha vida: eis as realidades que não terminam no nada e sobre as quais é preciso investir.

A Quaresma convida-nos a olhar para o Alto, com a oração, que liberta de uma vida aborrecida onde se encontra tempo para si, mas se esquece de Deus e depois a olhar para o outro, com a caridade, que liberta da nulidade do ter, de pensar que as coisas estão bem se para mim tudo vai bem.

A Quaresma convida-nos a olhar para dentro de nós mesmos, com o jejum, que liberta do apego às coisas, do mundanismo que anestesia o coração.

Oração, caridade, jejum: três investimentos num tesouro que dura. Ao longo do caminho da Quaresma, devemos fixar o olhar no Crucificado.

Jesus na cruz é a bússola da vida que nos orienta para o Céu.

O ESQUECIMENTO DIVINO

Hugo de Azevedo

“José, filho de David, não temas receber em tua casa Maria, tua esposa”.
Pobre José! Que aflição a sua, até que Deus o esclarece! Porque não lhe disse antes? Porque o deixou sofrer tanto? Não se queixa.
“Levanta-te! Toma o Menino e sua Mãe, foge para o Egipto e fica lá até que eu te avise”.
Não hesita.
“Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe e vai para a terra de Israel”.
Obedece. Para a Judeia? Não convém.
“Avisado por Deus, em sonhos” retira-se para Nazaré.
José: o homem de quem Deus “se esquece” e mantém perplexo até à última hora. O homem em que Deus tem absoluta confiança.

João Baptista, que cumpre a sua missão e que Deus “deixa esquecido” na prisão, à mercê dos caprichos de Herodes.

Maria, à espera incerta de uma espada que lhe trespassará o coração.

Jesus, crucificado: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”, o salmo da confiança no Pai e da vitória final.

Não há maior louvor do que o “esquecimento divino”, a sua confiança na nossa fidelidade, aconteça o que acontecer.

Saber que conta connosco em quaisquer circunstâncias, sejam êxitos ou fracassos pastorais, simpatias ou impopularidade.