Domingo V do Tempo Comum (PDF) TEXTO
NÃO TEMAS. DAQUI EM DIANTE
SERÁS PESCADOR DE HOMENS
Dehonianos
As últimas palavras do sacerdote na missa são palavras
de paz: “Ide em paz e o Senhor vos acompanhe!”
Eis-nos enviados entre os homens, nossos irmãos, como Isaías, como Simão, como Paulo…
E, como eles, não nos sentimos dignos de cumprir a missão que Deus nos confia em cada Eucaristia.
Mas, como a Isaías, a Simão, a Paulo, uma palavra forte é dita a cada um de nós: “Não tenhas medo…” Partamos, como Paulo… com a certeza de que não sou eu que trabalho sozinho, “é a graça de Deus, que está comigo!”
CONSEGUIREI RESPONDER SIM?
Enzo Bianchi , Prior do Mosteiro de Bose, Itália
Cada um de nós, sobretudo se é idoso, vive muitas vezes com as suas lembranças do passado, em particular aquelas que remetem para um início, o começo de uma sequência de acontecimentos importantes, um amor que marca para toda a vida.
Também o cristão realiza esta operação de procurar no passado, como que para o reviver, a hora da conversão; ou melhor, a hora da vocação, quando ele se tornou consciente, no seu coração, de que talvez Jesus desejasse um maior envolvimento na sua vida do que até então.
Começa esta vida de pregação e de itinerância depois que João foi metido na prisão com Herodes. É o fim de quem é profeta, e Jesus desde logo Se apercebe de que se quer continuar o caminho do seu mestre, mais cedo ou mais tarde conhecerá a perseguição e a morte violenta.
Jesus começa a proclamar a boa notícia, consciente de que o tempo da preparação, que o tempo da paciência de Deus chegou ao seu cumprimento, como o tempo de uma mulher grávida. No fim da gestação acontece o parto, e assim Jesus anuncia: «Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; convertei-vos e acreditai no Evangelho». Eis a síntese da sua pregação: é o início de um tempo novo em que é possível fazer reinar Deus na vida dos homens.
É preciso converter-se, voltar a Deus, e depois acreditar na boa notícia que é a presença e a palavra do próprio Jesus.
Estamos talvez a viver o nosso dia a dia dedicados ao nosso trabalho, ocupações quotidianas, quaisquer que sejam, para ganhar o sustento; ou estamos num momento de pausa; ou estamos a falar com outros… Não há uma hora pré-estabelecida. De repente, no nosso coração, sem que os outros se apercebam, acende-se uma chama. «Será? Será que escuto uma voz? Conseguirei responder “sim”? Será uma voz que me chama a partir? Para onde? A seguir quem? Jesus? E como faço? Será possível?»
Muitas perguntas que se intersectam, desaparecem e regressam; mas se são escutadas com atenção, pode acontecer que nelas se ouça uma voz mais profunda em nós mesmos, uma voz que vem de fora de nós mesmos e, todavia, através de nós mesmos: a voz de Jesus. É assim que se inicia uma relação entre cada um de nós e o Senhor, presença invisível mas viva, presença que não fala de maneira sonora, mas atrai…
A vocação é uma aventura repleta de grandeza, mas também de miséria. Para compreendê-lo, é suficiente seguir nos Evangelhos a vida dos primeiros quatro chamados.
O primeiro, Pedro, em quem Jesus muito confiou, vivendo próximo dele muitas vezes nada entende dele, ao ponto de Jesus o ter chamado de “Satanás”; chega a estar tão distante de Jesus que O contradiz; abandona-O para ir dormir; e, por fim, renega-O, diz que nunca O conheceu.
André, Tiago e João não compreendem Jesus em muitas situações, interpretam mal as suas palavras e desconhecem o seu coração; os dois filhos de Zebedeu, em particular, são asperamente criticados por Jesus quando invocam um fogo do céu para punir quem não os ouviu; e também eles, no Getsémani, adormecem juntamente com Pedro.
Mas há mais, e Marcos sublinha-o implacavelmente: aqueles que «abandonando tudo seguiram Jesus», na hora da paixão, «abandonando Jesus, fugiram todos»…
Pobre seguimento! Sim, o meu seguimento, o teu seguimento, caro leitor. Não teremos muito de que nos vangloriar. Devemos apenas invocar da parte de Deus muita misericórdia e agradecer-Lhe, porque, não obstante tudo, continuamos ainda atrás de Jesus, e tentamos ainda, dia após dia, viver com Ele.
SER PERSEVERANTES NO MOMENTO DA DESOLAÇÃO
Papa Francisco, 1 Fevereiro 2019
Todos atravessamos fases de desolação, momentos obscuros em que as coisas parecem perder o sentido, mas é ali que os cristãos devem perseverar para chegar à promessa do Senhor, sem se deixar abater ou retroceder.
O autor da Carta aos Hebreus fala aos cristãos que estão a atravessar um momento difícil, um momento de perseguição, assim como cada indivíduo atravessa fases de abatimento, quando não sente nada e há uma espécie de distanciamento na nossa alma. Momentos de desolação vividos pelo próprio Jesus.
A vida cristã não é um carnaval, não é festa e alegria contínua; a vida cristã tem momentos belíssimos e momentos maus, momentos de torpor, de distanciamento, onde nada tem sentido… E nesse momento, seja pelas perseguições internas, seja pelo estado interior da alma, o autor da Carta aos Hebreus diz: “Precisais de perseverança”. Sim. Mas perseverança para quê? Para cumprir a vontade de Deus e alcançar o que Ele prometeu. Perseverança para chegar à promessa.
Há uma espécie de receita contra a desolação: memória e esperança. É preciso antes de mais evocar na memória os momentos belos: os dias felizes do encontro com o Senhor, o tempo do amor. E, em segundo lugar, ter esperança em relação àquilo que nos foi prometido.
Opor, nos momentos maus, uma resistência da memória e da esperança, com o coração.
É isto que devemos fazer nos momentos de desolação para encontrar a primeira consolação e a consolação prometida pelo Senhor.