Domingo V do Tempo Comum (PDF)     TEXTO

Fra Angelico, Transfiguração de Cristo

A luz é assumida como símbolo da revelação de Deus e da sua presença na história. Deus é transcendente, e isto expressa-se pelo facto de a luz ser exterior a nós, precede-nos, excede-nos, supera-nos.

Porém, está também presente e activo na criação e na história humana, mostrando-Se imanente, e isto é ilustrado pelo facto de a luz nos envolver, distinguir, aquecer, invadir.

Por isso também o fiel se torna luminoso: Também o fiel justo se torna fonte de luz, uma vez que se deixa envolver pela luz divina, como afirma Jesus no seu célebre “discurso da montanha”: «Vós sois a luz do mundo…

Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens»

Cardeal Gianfranco Ravasi, no Ano Internacional da Luz

 

 

Ilumina e serás iluminado

P. Ermes Ronchi, In Lachiesa.it

Rembrandt, Apresentação de Jesus no templo

Jesus tinha acabado de proclamar o núcleo da sua mensagem, as bem-aventuranças, e acrescenta, dirigindo-Se aos seus discípulos e a nós: se as viverdes, sereis sal e luz da terra.

Uma afirmação que surpreende: que Deus é a luz do mundo já o tínhamos ouvido, o Evangelho de João repetiu-o, e nós acreditamos; mas ouvir – e crer – que também o ser humano é luz, que o somos também eu e tu, com todos os nossos limites e sombras, é surpreendente.

E não se trata de uma exortação de Jesus, “esforçai-vos por vos tornardes luz”, mas “sabei que já o sois”. A lâmpada, se estiver acesa, não tem de se esforçar por dar luz, porque é da sua natureza; assim também vós. A luz é o dom natural do discípulo.

É incrível a consideração, a confiança que Jesus comunica, a esperança que repõe em nós. E encoraja-nos a tomar consciência disso: não fiques na superfície de ti mesmo, na porosidade do barro, mas procura em profundidade, no reduto secreto do coração, desce ao centro de ti próprio e lá encontrarás uma lâmpada acesa, uma mão cheia de sal.

Vós que viveis segundo o Evangelho, sede luz no mundo. E sede-o não com a doutrina ou as palavras, mas com as obras: resplandeça a vossa luz nas vossas boas obras. Tu podes realizar obras de luz! E são as mansas, as puras, as justas e as pobres as obras alternativas às escolhas do mundo, a diferença evangélica oferecida à flor da vida.

Quando segues o amor como única regra, então és luz e sal para quem te encontra. Quando duas pessoas se amam, tornam-se luz na escuridão, lâmpada para os passos de muitos. Em qualquer lugar onde se quer o bem, é espalhado o sal que dá o bom sabor à vida.
Na primeira leitura, Isaías sugere a estrada onde a luz deve estar: «Reparte o teu pão com o faminto, dá pousada aos pobres sem abrigo, leva roupa ao que não tem que vestir e não voltes as costas ao teu semelhante. Então a tua luz despontará como a aurora e as tuas feridas não tardarão a sarar».
Ilumina os outros e serás iluminado, cura os outros e serás curado.

Não te curves sobre a tua história e sobre as tuas derrotas, mas ocupa-te da terra, da cidade do outro; senão nunca te tornarás um homem ou mulher radiosa.
Quem olha só para si nunca se ilumina. Então serás lâmpada sobre o candelabro, mas segundo a forma própria da luz, que não faz ruído e não violenta as coisas.  Acaricia-as e faz emergir o belo que existe nelas.

Assim também «nós do Evangelho» somos pessoas que a cada dia acariciamos a vida e revelamos a sua beleza oculta.

Jesus ilumina o espaço do coração

Hesíquio do Sinai, (séc. V?), monge

O sal sensível dá sabor ao pão e a todos os alimentos, impede certas carnes de apodrecerem, conservando-as durante muito tempo.
Considera que o mesmo acontece com a guarda da inteligência, pois ela cumula de sabor divino tanto o homem interior como o homem exterior, expulsa o odor fétido dos maus pensamentos e permite-nos perseverar no bem.

De uma sugestão nascem numerosos pensamentos e destes más acções sensíveis; mas quem, com Jesus, apaga imediatamente a primeira, evita as suas consequências e poderá enriquecer-se com o suave conhecimento divino pelo qual encontrará Deus, que está presente em toda a parte.

Estando o espelho da inteligência diante de Deus, é continuamente iluminado, à imagem do puro cristal e do sol sensível.
Então, tendo alcançado o cume definitivo dos desejos, a inteligência repousa nele de qualquer outra contemplação. […]

Quem olha o sol não pode deixar de ficar com os olhos inundados de luz.
Da mesma maneira, quem se debruça permanentemente sobre o espaço do seu coração não pode deixar de ficar iluminado. […]

Quando as nuvens se dissipam, o ar fica limpo; da mesma maneira, quando os fantasmas das paixões se dissipam diante de Jesus Cristo, o Sol da Justiça, nascem no coração pensamentos luminosos, semelhantes às estrelas.
Pois Jesus ilumina o espaço do coração.

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