II Domingo do Advento (PDF)     TEXTO

 

Joan de Joanes, Imaculada Conceição

 

 

É através de homens e mulheres atentos

aos projectos de Deus e de coração disponível

para o serviço dos irmãos que Deus actua no mundo,

que Ele manifesta aos homens o seu amor,

que Ele convida cada pessoa a percorrer

os caminhos da felicidade e da realização plena.

Dehonianos

 

 

 

 

 

 

Eis-me é a palavra-chave da vida!

Papa Francisco, 2018

Assinala a passagem de uma vida horizontal, centrada em nós e nas nossas necessidades, para uma vida vertical, projectada para Deus.
Eis-me significa estar disponível para o Senhor, é a cura para o egoísmo, mas é o antídoto contra uma vida insatisfeita, à qual falta sempre algo.

Eis-me é o remédio contra o envelhecimento do pecado, é a terapia para permanecer jovem dentro. Eis-me significa acreditar que Deus conta mais que o meu ego. Significa escolher apostar no Senhor, dócil às suas surpresas.

Por isso, dizer-Lhe eis-me é o maior louvor que Lhe podemos oferecer. Por que não começar assim os dias, com um “eis-me, Senhor”? Seria bom dizer todas as manhãs: “Eis-me, Senhor, que hoje se cumpra em mim a tua vontade!”.
Maria acrescenta: «Faça-se em mim segundo a tua palavra». Não diz: “Faça-se em mim segundo a minha vontade”, mas “segundo a tua”. Não põe limites a Deus. Não pensa: “Dedico-me um pouco a Ele, despacho-me e depois faço o que eu quiser”. Não, Maria não ama o Senhor quando lhe apetece, de modo descontínuo. Vive confiando completamente em Deus.
Eis o segredo da vida. Tudo pode quem confia totalmente em Deus.

Deus é Pai, o mais terno dos pais, e deseja a confiança dos filhos. No entanto, quantas vezes suspeitamos d’Ele! Pensamos que possa mandar-nos alguma provação, privar-nos da liberdade, abandonar-nos. Maria vence esta primeira tentação com o seu eis-me! E hoje olhemos para a beleza de Nossa Senhora, que nasceu e viveu sem pecado, sempre dócil e transparente a Deus.
Isto não quer dizer que para Ela a vida foi fácil, não! Permanecer com Deus não resolve magicamente os problemas.

Eis a atitude sábia: não viver dependendo dos problemas – quando um acaba, apresenta-se outro – mas confiando em Deus, fiando-se d’Ele todos os dias: Eis-me!

Como vivem os Cristãos a passagem do tempo?

Alfonso Berlanga, Celebração Litúrgica (adaptado)

 

Fra Angelico, Natividade

Chega o Advento, tempo de gozo e de espera contemplativa.

O Ano Litúrgico volta a reiniciar-se, subindo a espiral com uma nova volta.

O tempo litúrgico ficou suspenso com a Solenidade de Cristo, Rei do Universo e Rei do tempo. E, em poucas horas, a Igreja recomeça o seu modo particular de viver o tempo, adiantando-se ao novo ano civil.

O tempo do Advento tem uma dupla índole: é o tempo de preparação para as solenidades do Natal, nas quais se comemora a primeira vinda do Filho de Deus aos homens e é o tempo em que, por esta recordação, se dirigem as mentes para a espera da segunda vinda de Cristo no fim dos tempos.

Para potenciar a espera messiânica definitiva, a liturgia no seu Leccionário dá voz a certos personagens que a encarnaram e proclamaram: Isaías, profeta do anseio pela chegada do Messias; João Baptista, modelo do itinerário para chegar ao Emanuel; e Maria, aurora que anuncia a iminente chegada do Esperado do povo hebreu e das nações. Junto às figuras do profeta e do Baptista encontra-se Maria, a virgem prudente que aguarda a promessa de Israel.

O eco mariano destes dias ressoa como um cântico discreto: Maria é a cheia de graça, a bendita entre as mulheres, Virgem e Esposa de José, Escrava do Senhor. É a nova Eva que restabelece o desígnio de Deus com a sua obediência. É a filha de Sião, representante do antigo e do novo Israel. Virgem fecunda do “faça-se”, virgem da escuta e do acolhimento: antecipa, porque acolhe, o Vem, Senhor Jesus! Nela o povo cristão encontra uma presença materna e serena e um exemplo de atitude espiritual.

Neste sentido, a solenidade da Imaculada não representa uma ruptura, mas uma parte do mistério: Maria é o fruto eminente da vinda redentora de Cristo, protótipo da humanidade redimida e “começo da Igreja, sua bela esposa, sem mancha nem ruga”.

O Missal matiza em cada um dos quatro domingos do Advento o tom espiritual de cada semana na sua oração colecta: oscila-se entre o desejo de sair ao encontro de Cristo glorioso com as boas obras (Domingos I e II), até à espera jubilosa do seu nascimento (Domingo III), para terminar com a contemplação unitária da sua vida, orientada desde o começo para o mistério pascal (Domingo IV).
A selecção de textos bíblicos, a leitura continuada de Isaías, assim como os textos patrísticos, suscitam uma espiritualidade característica “que transporta aos diferentes momentos do dia o louvor e a ação de graças, assim como a recordação dos mistérios da salvação, as súplicas e o saborear antecipado da glória celeste, que se nos oferece no mistério eucarístico”. As sete antífonas do Magnificat nas ferias prévias ao Natal têm uma estrutura comum, formada por um título cristológico seguido da invocação “vem!” e de uma petição que ajuda a entender o sentido da Encarnação do Verbo.

Os sinais litúrgicos anunciam, ocultam e preparam
A assembleia durante este tempo omite o canto do Glória. Este silêncio não busca um fim penitencial, mas pedagógico. Calamo-nos à espera da aclamação angélica na noite de Natal. O roxo das vestes litúrgicas reforça esse mesmo significado.

Com os sinais litúrgicos próprios do tempo treinamos os nossos sentidos para o assombro perante os planos divinos. Deus Pai volta a sair ao encontro do homem através do seu Filho; as promessas cumpridas avivam o desejo de Deus entre os baptizados e chama-os com o sinal dado aos pastores: um Messias – menino entre as palhas.

As distintas presenças de Cristo na liturgia da Igreja e a espera escatológica têm o seu fundamento na irrupção de Deus na história humana (a Encarnação), nas promessas de Jesus e no seu cumprimento eucarístico. Por isso, são respeitáveis – acima de certas sensibilidades ou preferências pessoais – as manifestações artísticas ou da devoção popular que encontramos noutras culturas ou lugares: o Menino Jesus dormindo sobre uma cruz ou com os elementos da paixão, o Crucificado vivo na cruz e coroado (a maiestas Christi), ou a fé – que procede de alguns Padres – da presença de Anjos adorando junto ao tabernáculo, precisamente porque estão na presença real-sacramental do Ressuscitado.

 

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