Domingo XXXII do Tempo Comum (PDF)  TEXTO

Georges de La Tour | Madalena Arrependida

 

 

Os cristãos dizem que esperam o Senhor, e esperam-n’O como se espera o eléctrico.

E todavia bastaria estarmos mais atentos ao ler a vida que passa, a própria e a daqueles próximos de nós, para nos darmos conta de como em cada dia, se não estamos distraídos, somos inexoravelmente reconduzidos ao acontecimento que nos espera: o encontro com o Senhor.

Enzo Bianchi, Mosteiro de Bose, 2016

 

 

O risco de adormecer mesmo quando se anda apressado

Ermes Ronchi , In “Avvenire”

Andrea Mantegna | Agonia no Horto

Acautelai-vos, tende atenção.
A atenção, primeira atitude indispensável para uma vida não superficial, significa-se colocar-se em modo “acordado” e ao mesmo tempo “sonhador” diante da realidade.
Nós pisamos tesouros e não nos apercebemos, caminhamos sobre jóias e não nos damos conta.

Viver atentos: atentos à Palavra e ao grito dos pobres, atentos ao mundo, ao nosso planeta bárbaro e magnífico, às suas criaturas mais pequenas e indispensáveis: a água, o ar, as plantas. Atentos ao que acontece no coração e no pequeno espaço de realidade em que me movo.

Vigiai, com os olhos bem abertos.
O vigiar é como olhar em frente, um escrutinar a noite, o espiar o lento emergir da aurora, porque o presente não basta a ninguém.

Vigiar tudo o que nasce, os primeiros passos da paz, a respiração da luz, os primeiros vagidos da vida e dos seus rebentos.

O Evangelho entrega-nos uma vocação ao despertar: que não chegue aquele que se espera encontrando-nos adormecidos.

O risco do dia-a-dia é uma vida adormecida, que não sabe ver a existência como uma mãe à espera, prenhe de Deus, grávida de luz e de futuro.

 

Vigilantes contra a mundanidade

Papa Francisco, 13 de Outubro de 2017 (excertos)

Tentações de Jesus

Cuidado com os demónios educados, que bem disfarçados propõem astutamente tentações e seduções com as boas maneiras, acabando por fazer pressões de salão, às quais sugiro que se responda com a vigilância, que significa oração, exame de consciência e obras de caridade, para não cair na mundanidade.

Muitas vezes Jesus, nas suas pregações, nos admoesta para que sejamos vigilantes, que permaneçamos em expectativa. Numa ocasião, disse para vigiar porque não conheceis a hora na qual virá o filho do homem. Com efeito, a vigilância deve ser preparada em função da vinda do Senhor. Noutras ocasiões Jesus faz esta recomendação frisando que se preparem: é o caso das dez virgens, as prudentes e as insensatas, que não estavam preparadas. As primeiras tinham tudo pronto; as segundas estavam ali à toa, sem pensar em se preparar.

Vigiai, portanto, é a sugestão de Jesus que, outras vezes, o faz aconselhando a oração, a vigilância para não cair em tentação. Por exemplo, di-lo aos seus discípulos no jardim das Oliveiras: eles adormeceram devido ao medo e Ele recomendava: rezai e vigiai para não caírdes em tentação.

(…) O Senhor surpreende-nos com outra vigilância que não é fácil compreender mas é tão comum.
Na prática, Jesus expulsa um demónio e a seguir fizeram um debate. Quando isso terminou, detém-se e diz-nos, em forma de parábola, mas não uma parábola, uma verdade.

Quando o espírito impuro sai do homem, vagueia por lugares desertos, procurando alívio, mas não o encontrando, diz: “voltarei para a minha casa da qual saí”. Quando chega, encontra-a limpa e adornada. O homem que ali vive é livre. Então vai, toma outros sete espíritos piores do que ele, entram nela e habitam-na.

A condição daquele homem antes que o demónio fosse expulso da sua vida era melhor do que esta.

O que significam estas palavras de Jesus e quando acontecem estas coisas? É uma figura. E o Senhor usa a figura dos demónios que sofrem no deserto, que vagueiam. Pensemos em quando Jesus expulsa aqueles demónios que se chamam “legiões”, porque são tantos e eles pedem para estarem com os porcos, porque não querem vaguear no deserto.

Mas eis a surpresa de voltar para casa e encontrá-la limpa, embelezada: a alma daquele homem estava em paz com Deus e ele não entra. Então procura outros sete, piores do que ele.

Aquela palavra – piores – tem tanta força, neste trecho. E depois entra, diz Lucas. Mas como entra? Entra suavemente: bate à porta, pede autorização, toca a campainha, volta educadamente. E esta segunda vez são os diabos educados. Assim o homem não se dá conta: entram pela surdina, começam a fazer parte da vida, com as suas ideias e com as suas inspirações ajudam também aquele homem a viver melhor e entram na vida dele, entram no seu coração e de dentro começam a mudar aquele homem, mas tranquilamente, sem dar nas vistas.

Todo este modo é diferente da possessão diabólica que é forte: esta é uma possessão diabólica quase “de salão”, digamos. E é isto que o diabo faz lentamente na nossa vida para mudar os critérios, para nos conduzir à mundanidade: mimetiza-se no nosso modo de agir e dificilmente nos damos conta disto. Assim aquele homem, libertado por um demónio, torna-se maldoso, oprimido pela mundanidade. É precisamente isto que o diabo quer: a mundanidade.

Assim tornamo-nos cristãos tíbios, cristãos mundanos e fazemos esta mistura, esta salada de fruta entre o espírito do mundo e o espírito de Deus.

Como se faz para não cair e sair disto? A resposta é clara: Antes de tudo, retomando a palavra “vigilância”, não nos assustemos. Porque vigiar significa compreender o que acontece no meu coração, significa parar um pouco e examinar a minha vida.

Cristo crucificado salvar-nos-á destes demónios educados, deste escorregamento lento para a mundanidade. O exame de consciência ajudar-nos-á a ver se há estes aspectos. E as obras de caridade, as que custam, levar-nos-ão a ficar mais vigilantes.

 

 

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