Domingo II da Páscoa ou da Divina Misericórdia (PDF) TEXTO
Quantos crentes não profeririam a mesma declaração que Tomé afirmou quando os outros discípulos lhe disseram que tinham visto Jesus ressuscitado?
Todos queremos provas, e a ousadia da exigência de Tomé aponta para o coração da questão: Cristo ressuscitado era, realmente, a mesma pessoa que o morto, crucificado, Jesus?
Uma leitura cuidadosa dos quatro Evangelhos mostra que os autores preservaram um espaço de mistério em torno de Jesus crucificado e ressuscitado.
Os discípulos encontraram um Ser divino transformado, não um cadáver ressuscitado. Reconheceram o seu amigo e mestre, Jesus de Nazaré, mas Ele era agora o seu Senhor na glória.
Tomé ajuda-nos a compreender que a nossa fé é um relacionamento vivo com Jesus, e não um problema a ser resolvido.
A vida cristã não é um programa a ser dominado, mas um mistério sem fim que nos guiará através desta vida para uma eternidade de descoberta e alegria.
Pat Marrin, National Catholic Reporter, 2023
Urbi et orbi
Papa Francisco, Março 2024
Hoje ressoa em todo o mundo o anúncio que partiu de Jerusalém há dois mil anos: “Jesus de Nazaré, o crucificado, ressuscitou!”.
A Igreja revive o espanto das mulheres que foram ao sepulcro na madrugada do primeiro dia da semana. O túmulo de Jesus tinha sido fechado com uma grande pedra; e assim, ainda hoje, pedras pesadas, demasiadamente pesadas, fecham as esperanças da humanidade: a pedra da guerra, a pedra das crises humanitárias, a pedra das violações dos direitos humanos, a pedra do tráfico de pessoas e outras. Nós também, como as mulheres discípulas de Jesus, perguntamo-nos uns aos outros: “Quem irá remover estas pedras para nós?”.
E eis a sua descoberta na manhã de Páscoa: a pedra, aquela grande pedra, já havia sido removida. O espanto das mulheres é o nosso espanto: o túmulo de Jesus está aberto e vazio!
É aqui que tudo começa. Através desse túmulo vazio passa o novo caminho, o caminho que nenhum de nós, mas somente Deus, poderia abrir: o caminho da vida no meio da morte, o caminho da paz no meio da guerra, o caminho da reconciliação no meio do ódio, o caminho da fraternidade no meio da inimizade.
Jesus Cristo ressuscitou, e somente Ele é capaz de remover as pedras que fecham o caminho para a vida. De fato, Ele mesmo, o Vivente, é o Caminho: o Caminho da vida, da paz, da reconciliação, da fraternidade. Ele nos abre a passagem, algo humanamente impossível, porque somente Ele tira o pecado do mundo e perdoa os nossos pecados.
E sem o perdão de Deus, essa pedra não pode ser removida. Sem o perdão dos pecados, não se consegue sair dos fechamentos, dos preconceitos, das suspeitas mútuas e das presunções, que sempre levam a absolver a si mesmo e acusar os outros. Somente o Cristo Ressuscitado, ao dar-nos o perdão dos pecados, abre o caminho para um mundo renovado.
Somente Ele nos abre as portas da vida, aquelas portas que fechamos continuamente com as guerras que se alastram pelo mundo. Não permitamos que ventos de guerra cada vez mais fortes soprem sobre a Europa e o Mediterrâneo. Não nos rendamos à lógica das armas e do rearmamento. A paz nunca é construída com armas, mas estendendo as nossas mãos e abrindo os nossos corações.
Que o Ressuscitado faça resplandecer a sua luz sobre os migrantes e aqueles que estão passando por dificuldades económicas, oferecendo-lhes conforto e esperança nos seus momentos de necessidade.
Que Cristo guie todas as pessoas de boa vontade para se unirem em solidariedade, para enfrentarem juntas os muitos desafios que as famílias mais pobres enfrentam na sua busca por uma vida melhor e pela felicidade.
Neste dia em que celebramos a vida que nos foi dada na ressurreição do Filho, lembremo-nos do amor infinito de Deus por cada um de nós: um amor que supera todos os limites e todas as fraquezas. No entanto, quão frequentemente a preciosa dádiva da vida é desprezada! Quantas crianças não conseguem sequer ver a luz? Quantas morrem de fome, ou são privadas de cuidados essenciais, ou são vítimas de abuso e violência? Quantas vidas são mercantilizadas pelo crescente comércio de seres humanos?
No dia em que Cristo nos libertou da escravidão da morte, exorto aqueles com responsabilidade política a não pouparem esforços no combate ao flagelo do tráfico humano, trabalhando incansavelmente para desmantelar as redes de exploração e trazer liberdade àqueles que são suas vítimas. Que o Senhor console as suas famílias, especialmente aquelas que aguardam ansiosamente notícias dos seus entes queridos, assegurando-lhes conforto e esperança.
Que a luz da ressurreição ilumine as nossas mentes e converta os nossos corações, consciencializando-nos do valor de toda vida humana, que deve ser acolhida, protegida e amada.