Domingo XXVII do Tempo Comum (PDF) TEXTO
Fizemos o que devíamos fazer
A vocação do cristão é «servir», nunca «servir-se de».
Gratuitamente recebestes, gratuitamente dai.
A vida cristã é uma vida de gratuidade.
Quando temos necessidade de algo espiritual ou de uma graça, dizemos: “farei jejum, uma penitência, uma novena…”.
Tudo isto está bem, mas fiquemos atentos: isto não é para “pagar” a graça, para “comprar” a graça; isto serve para alargar o teu coração para que chegue a graça.
Papa Francisco, Serviço e gratuidade,11 de Junho de 2019
Fé, entre fragilidade humana e força de Deus
Enzo Bianchi, In “Monastero di Bose”
A fé, que deve ser entendida em primeiro lugar como adesão, só pode estar presente onde existe uma relação pessoal e concreta com Jesus.
A fé não é um conceito de ordem intelectual, não é colocada antes de tudo numa doutrina ou numa verdade, muito menos em fórmulas, nos dogmas. A fé não é, antes de tudo, um “crer que” (por exemplo, que Deus exista), mas é um acto de confiança no Senhor.
Trata-se de aderir a Ele, de a Ele se ligar, de colocar n’Ele a confiança até ao abandono a Ele numa relação vital, pessoalíssima. A fé é reconhecer que da parte do ser humano há fragilidade, portanto não é possível ter fé-confiança em si próprio.
É verdade que a fé é um acto que se situa na fronteira entre fragilidade humana e força que vem de Deus, força que torna possível precisamente o acto de fé.
Não nos esqueçamos que a incredulidade ou a pouca fé denunciadas por Jesus caracterizam a situação do discípulo, não de quem não encontra ou não escuta Jesus.
Os apóstolos estão conscientes de ter uma fé pequena: gostariam de ser gigantes da fé, mas Jesus faz-lhes compreender que a fé, ainda que pequena, se é adesão real a Ele, é suficiente para alimentar a relação com Ele e acolher a salvação. É verdade, a nossa fé é sempre de curto prazo, mas basta ter em nós a semente desta adesão ao poder do amor de Deus operante em Jesus Cristo.
Crer significa, em última análise, seguir Jesus: e quando se O segue, caminha-se atrás d’Ele, muitas vezes vacilando, mas acolhendo a acção com que Ele nos reergue e nos apoia, para que possamos estar sempre onde Ele está.
Nós, cristãos, devemos olhar com frequência para o pequeno grão de mostarda, tê-lo na palma da mão, ter consciência de quanto é minúsculo; mas deveremos também vê-lo com semente semeada, morta debaixo da terra, germinada e crescida, até se tornar grande como uma planta que dá abrigo às aves do céu – imagem usada por Jesus para descrever o Reino de Deus – e, por isso, surpreender-nos. Assim é a nossa fé, pequeníssima, talvez; mas não temamos, porque se a fé existe, é suficiente, porque é mais forte de toda a nossa outra atitude. A fé é a fé: sempre, mesmo se pequena, é adesão a uma relação, é obediência.
A resposta de Jesus aos apóstolos prossegue com uma parábola que lhes diz particularmente respeito, enquanto enviados a trabalhar no campo, na vinha cujo proprietário é Deus.
Jesus adverte-os para o risco de confiarem em si próprios, porque esse é o pecado que se opõe radicalmente à fé.
Isto poderá acontecer também aos enviados que, conscientes de terem feito pontualmente a vontade de Deus, desejariam ser reconhecidos, premiados.
No seguimento de Jesus não se reivindica nada, não se pretendem reconhecimentos, não se esperam prémios, porque nem sequer a tarefa realizada se torna garantia ou mérito. O que se faz pelo Senhor, faz-se gratuitamente e bem, por amor e na liberdade, não para ter um prémio…