Domingo XXIII do Tempo Comum (PDF) TEXTO
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A liturgia deste domingo sugere-nos uma reflexão sobre a nossa responsabilidade face aos irmãos que nos rodeiam. Afirma que ninguém pode ficar indiferente diante daquilo que ameaça a vida e a felicidade de um irmão e que todos somos responsáveis uns pelos outros.
O Evangelho deixa clara a nossa responsabilidade em ajudar cada irmão a tomar consciência dos seus erros. Trata-se de um dever que resulta do mandamento do amor. Jesus ensina, no entanto, que o caminho correcto para atingir esse objectivo não passa pela humilhação ou pela condenação de quem falhou, mas pelo diálogo fraterno, leal, amigo, que revela ao irmão que a nossa intervenção resulta do amor.
Dehonianos
A actual pandemia e o novo ano pastoral
Cón. José Manuel dos Santos Ferreira
A actual pandemia, mesmo que por ora seja ainda muito “suave” em comparação com os flagelos que dizimaram o império romano nos primeiros séculos depois de Cristo ou a cristandade medieval no séc. XIV (como observou recentemente o historiador Roberto di Mattei), não deixou de, desde já, abalar profundamente a vida social, política e económica do mundo inteiro, e também a vida da Igreja em toda a terra. O egoísmo e arrogância que até há bem pouco tempo marcavam os nossos dias, estão postos em questão, e as certezas em que muitos se apoiavam, revelaram ser um castelo de areia.
O novo ano lectivo e pastoral que está a começar vem envolvido por uma densa nuvem de preocupações, que não podemos fazer de conta que não vemos ou não sentimos, e por isso não podemos agir de modo irresponsável ou irreflectido.
Mas a pandemia, com o seu poder à escala global, não nos pode impedir de manter, com toda a intensidade, cinco atitudes essenciais:
1. Uma intensa vida de oração, pessoal e familiar.
2. Uma fiel participação na Missa dominical e um recurso regular à Confissão sacramental, porque os sacramentos são para nós um alimento indispensável e vital, e nas nossas igrejas não há certamente menos segurança sanitária do que em muitos espaços que frequentamos, designadamente os centros comerciais.
3. Uma participação nos espaços de formação paroquial, quer se realizem presencialmente, quer com recurso às plataformas de video-conferência. A Catequese e os grupos juvenis vão recomeçar, e tudo se fará com extremo cuidado, para que as nossas crianças, adolescentes e jovens possam voltar a participar nos seus grupos e a encontrar os seus catequistas e os seus amigos de que há muitos meses se separaram. Os nossos catequistas estão a preparar o novo ano com grande empenho e enorme esperança.
4. Uma generosa prática de partilha dos bens materiais, não descurando os ofertórios das missas diárias e dominicais, dos quais dependem quase inteiramente as nossas paróquias, e também a ajuda – directa ou através de instituições de solidariedade social – a pessoas ou famílias em necessidade.
5. Um redobrado carinho pelos nossos doentes e idosos, procurando vencer e superar a solidão que sobre eles tão dolorosamente se abateu.
As respostas à pandemia não são apenas as que as que provêm das regras sanitárias ou dos estímulos económicos. A resposta decisiva é a que provém da fé, que, diante da fragilidade da existência humana, tão evidenciada nas inúmeras perdas de vidas que a pandemia já provocou, revela como é inadiável a nossa conversão, aquela mudança de vida que a fará sintonizar e identificar-se com a luminosa embora também misteriosa sabedoria divina, única fonte de sentido na dúvida e de luz na escuridão.
O que importa é a quem se pertence
Ir. Lara , In “Monastero di Bose”
Jesus mostra que a oração é a fonte do discernimento. No diálogo com Deus Pai, ao longo de toda uma noite, deixa que seja o Espírito Santo a iluminar a escolha daqueles que se tornarão os seus apóstolos.
A comunidade é o lugar preferencial para procurar viver o Evangelho. Jesus dirá: «Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» (Mateus 18, 20). É graças à presença real de Jesus, para nós hoje, na fé, que um grupo de homens tão diferentes podem viver juntos.
Jesus escolhe um pequeno grupo cujo número é simbólico: doze era o número de tribos de Israel. Escolhe-os para os formar e enviar.
Porque escolhe Ele precisamente estes discípulos? Não porque sejam melhores do que outros, mas porque intui que podem empreender um caminho de humanização e realizar a primeira evangelização: harmonizar as luzes e as trevas do próprio coração. Só a partir daí é que nos poderemos tornar missionários e anunciar o Evangelho com a própria vida.
As condições para este seguimento são o deixar-se trabalhar pela força do Espírito Santo, abandonar as ideologias (a imagem de um Messias real que reine sobre a Terra), rejeitar o fundamentalismo que divide o mundo em bons e maus, combater o inexorável instinto de conservação que é fonte de prepotência ou de medo (o próprio Pedro, na hora da Paixão, trairá Jesus).
Neste ensinamento os discípulos aprenderão a reconhecer-se imperfeitos, cairão muitas vezes, mas a maior parte deles aprenderá a ter fé, ou seja, a confiar em Jesus, e já não nas próprias forças.
Cada um de nós é um chamado por Cristo: é alguém que funda a própria existência naquela voz que ouviu pronunciar o próprio nome e convidou: «Segue-me!»; é alguém que avança a tactear nesta vida, mas tem a meta clara. Aquele que nos chamou espera-nos de braços abertos no Reino dos Céus (cf. Mateus 11, 28).
Permanece um chamado diante da hostilidade do mundo. As perseguições, a doença não poderão eliminar a marcha indelével do amor de Cristo no coração (cf. Romanos 8, 35-37).
Se, ao contrário, percorrer um caminho de grandeza e de poder que o afastará de si próprio, permanecerá um chamado, alguém pelo qual ressoa constantemente a pergunta de Deus Pai: homem, «onde estás?» (Génesis 2, 9) e a possibilidade de conversão.
O erro ou o sucesso não tem importância, o que conta é a quem se pertence: «Não vos alegreis se os demónios se submetem a vós, mas por os vossos corações estarem escritos nos céus» (Lucas 10, 20).