X Domingo do Tempo Comum (PDF) TEXTO
O que significa esta palavra que os padres espirituais na Igreja usaram muito e nos ensinaram: a familiaridade com Deus?
Entrar na casa de Jesus, viver a atmosfera que aí existe.
Viver ali, contemplar, ser livre, ali. Estar com Ele, olhar para Ele, ouvir a sua palavra, procurar praticá-la, falar com Ele.
Um diálogo simples. Mas além do «estar com o Senhor», é importante «permanecer no Senhor»
Papa Francisco, 2017
Igreja Sinodal: Escuta mútua
Vatican News+Ecclesia
O Papa Francisco lembrou-nos várias vezes que uma Igreja sinodal é uma Igreja caracterizada pela escuta: pela escuta mútua na qual todos – fiéis, bispos e o bispo de Roma – aprendem uns com os outros; e sobretudo por uma escuta, todos juntos, do Espírito Santo.
Nos caminhos sinodais, a voz do Povo de Deus tem um lugar específico e é fundamental encontrar formas de incentivar neles uma participação efectiva de todos os baptizados.
Esta perspectiva tem caracterizado a maneira como o Papa Francisco interpretou o Sínodo ao longo do seu Pontificado. Vimos isso no Sínodo sobre os jovens e depois no Sínodo sobre a Amazónia: a escuta e a participação dos jovens e dos povos indígenas tiveram um impacto crucial na sua preparação e realização.
Um novo itinerário procura promover a «escuta real» das comunidades e a sua participação.
O Vaticano anunciou a realização da 16ª assembleia geral do Sínodo dos Bispos em Outubro de 2023, precedido por um processo inédito de consulta, com assembleias diocesanas e continentais. O percurso para a celebração do Sínodo será dividido em três fases, entre Outubro de 2021 e Outubro de 2023.
A assembleia de 2023, convocada pelo Papa Francisco, tem como tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.
A Secretária-Geral do Sínodo dos Bispos, Nathalie Becquart, fala numa modalidade inédita de preparação deste encontro mundial, que visa possibilitar a escuta real do Povo de Deus e garantir a participação de todos no processo sinodal. Não é apenas um acontecimento, mas um processo que envolve em sinergia o Povo de Deus, o Colégio Episcopal e o bispo de Roma, cada um segundo a sua função.
Em Setembro de 2018, o Papa publicou a constituição apostólica ‘Episcopalis Communio’ (Comunhão Episcopal) com a qual reforçou o papel do Sínodo dos Bispos, sublinhando a importância de continuar a dinâmica do Concílio Vaticano II (1962-1965).
Em mais de 50 anos, as assembleias sinodais foram sempre consultivas, mas o Papa recorda que, segundo o Direito Canónico, o Sínodo goza de poder deliberativo, quando lhe é concedido pelo pontífice.
A nova constituição apostólica promove uma aproximação das assembleias sinodais ao modelo dos concílios ecuménicos [mundiais], como o que foi realizado entre 1962 e 1965, em quatro sessões.
A abertura do Sínodo de 2023 acontece no Vaticano, sob a presidência do Papa, nos dias 9 e 10 de Outubro deste ano, e em cada diocese católica, a 17 de Outubro, sob a presidência do respectivo bispo. Estas celebrações dão início à “fase consultiva”, a partir de um documento preparatório, um questionário e um vademecum com propostas de consulta em cada diocese.
A consulta ao Povo de Deus em cada diocese terminará com uma reunião presidencial, que será o momento culminante do discernimento diocesano. As conclusões de cada diocese vão ser enviadas à respectiva Conferência Episcopal, para redacção de uma síntese que deve chegar ao Vaticano antes de Abril de 2022.
Os contributos alargam-se aos organismos da Cúria Romana, Universidades, Faculdades de Teologia, Uniões de Superiores e Superioras Gerais de Institutos Religiosos, Federações de Vida Consagrada e movimentos internacionais de leigos.
O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa de ajudar o Papa no governo da Igreja.
A economia de Francisco
D. Erio Castellucci, Arcebispo de Modena, Itália, 2020
O futuro da fé cristã está ligado à capacidade das comunidades cristãs darem corpo ao sonho de Jesus, o sonho do Reino de Deus. As intuições e provocações devem tornar-se educação, sob pena de o cristianismo se tornar insignificante.
Hoje, as nossas comunidades jogam a sua força profética na relação com os bens. É indispensável intensificar a acção formativa a partir dos adolescentes e jovens, integrando aquela relação no itinerário normal da iniciação cristã e da catequese. Os percursos sobre a educação afectiva e sobre a educação económica andam de mão dada, porque se tratam de dimensões do mesmo estilo de dom e partilha, reciprocidade e gratuidade.
A catequese cristã não pode ignorar a atitude evangélica que está na base dos dois braços da ética, a individual e a social: distinção que tem de ser superada, porque é “social” também a educação sexual, e é “individual” também a educação económica e ecológica.
O respeito pela vida nascente e morrente deve andar a par com o respeito pela vida marginalizada e indigente; a paz e a não-violência nas relações entre homem e mulher vão de mão dada com a paz nas relações sociais e internacionais; a castidade – isto é, o respeito pelo outro e a recusa da exploração – nas relações sexuais é simultânea à castidade nas relações sociais, étnicas, ambientais e inter-religiosas.
Uma das experiências pastoralmente mais dolorosas é ver as nossas comunidades cristãs divididas naquilo sobre o qual deveriam manter-se unidas, melhor, profundamente enlaçadas. Feria-me, primeiro como pároco e agora como bispo, registar no povo de Deus – inclusive em nós, ministros – uma espécie de fractura vertical entre quem leva por diante os valores da pessoa e da família, e quem empunha o porta-estandarte da sociedade e do ambiente natural. Se somos verdadeiramente católicos, não podemos adoptar a disjunção, mas a conjunção.
Enquanto a vigília pela paz for de esquerda, e rigorosamente frequentada exclusivamente por católicos “progressistas”, e a vigília pela vida for de direita, e reservada de facto aos católicos “tradicionalistas”, a Igreja permanecerá dividida.
A divisão tira força interior à evangelização. Tudo está ligado, tudo está em relação, numa espécie de fraternidade universal, como repete a Laudato si.
No caso específico da formação respeitante à economia, é preciso educar para o dever e para o interdito: os deveres derivam de um uso casto dos bens, que são sempre meios, e nunca fins, e da necessidade da sua partilha, do controlo dos investimentos para que não favoreçam transacções ilícitas e imorais, como as de armas, a proibição da especulação e do jogo, o dever de pagar os impostos, o dever do respeito pela criação, a par de uma visão crítica da denominada meritocracia, do “deus incentivo”, do dogma da eficiência, produtividade, rendimento e competitividade, os quais produzem os “descartados”; para afirmar, em vez disto, a cultura da honestidade, do dom e da misericórdia, que dá espaço também àqueles que não são vencedores e não são capazes de competir.
Competitividade, lucro, competências: estas palavras, que em conjunto formam o conceito de meritocracia, não são, decerto, iníquas, mas tornam-se quando se proferem fora do contexto concreto. Uma certa dose de competitividade é necessária e favorece a qualidade; o lucro, quando é proporcional ao trabalho, representa um elemento da sua dignidade, porque «o trabalhador é digno do seu salário»; a competência, que se apoia nos talentos de cada pessoa, é essencial para uma reta e ordenada distribuição e eficácia do trabalho.
O problema surge quando estas palavras se tornam discriminatórias para aqueles que não estão em condições de competir, não usufruem de lucro algum, e não têm os meios para desenvolver os seus talentos.
E é a fraternidade que faz a ponte entre uma pobreza a combater e uma pobreza a resgatar.