Domingo XXVII do Tempo Comum (PDF)  TEXTO

Hans Leonard Schäufelein, Parábola dos vinhateiros

A urgência de responder com bons frutos à chamada do Senhor, que nos convida a tornar-nos sua vinha, ajuda-nos a compreender o que há de novo e de original na fé cristã.

Ela não é tanto a soma de preceitos e normas morais mas, antes de tudo, uma proposta de amor que Deus, através de Jesus fez e continua a fazer à Humanidade.

É um convite a entrar nesta história de amor, tornando-nos uma vinha vivaz e aberta, rica de frutos e de esperança para todos.

Somos chamados a sair da vinha para nos pormos ao serviço dos irmãos que não estão connosco, para nos despertarmos reciprocamente e nos encorajarmos, para nos recordarmos que devemos ser vinha do Senhor em todos os ambientes, mesmo naqueles mais longínquos e difíceis.

Papa Francisco

 

O meu compromisso com o Reino de Deus

Dehonianos

Parábola dos vinhateiros, Codex aureus Epternacensis

A “vinha” de que Jesus fala é Israel – o Povo de Deus.
O dono da “vinha” é Deus.
Os “vinhateiros” são os líderes religiosos judaicos – os encarregados de trabalhar a “vinha” e de fazer com que ela produzisse frutos.
Os “servos” enviados pelo “senhor” são, evidentemente, os profetas que os líderes da nação, tantas vezes, perseguiram, apedrejaram e mataram.
O “filho” morto “fora da vinha” é Jesus, assassinado fora dos muros de Jerusalém.

É um quadro de uma gravidade extrema. Os “vinhateiros” não só não entregaram ao “senhor” os frutos que lhe deviam, mas fecharam todos os caminhos de diálogo e recusaram todas as possibilidades de encontro e de entendimento com o “senhor”: maltrataram e apedrejaram os servos enviados pelo “senhor” e assassinaram-lhe o filho.
Diante deste quadro, Jesus interpela directamente os seus ouvintes: “quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?”

A comunidade cristã primitiva encontrou facilmente resposta para esta questão.
Na perspectiva dos primeiros catequistas cristãos, a resposta de Deus à recusa de Israel foi dada em dois movimentos.
Em primeiro lugar, Deus ressuscitou o “filho” que os “vinhateiros” mataram, glorificou-O e constituiu-O “pedra angular” de uma nova construção; em segundo lugar, Deus decidiu retirar a “vinha” das mãos desses “vinhateiros” maus e ingratos e confiá-la a outros “vinhateiros” – a um povo que fizesse a “vinha” produzir bons frutos e que entregasse ao “senhor” os frutos a que ele tem direito.

Entretanto, a Mateus não interessa tanto a questão do filho – ressuscitado, exaltado e colocado como pedra angular da nova construção – quanto a questão da entrega da “vinha” a um outro povo.
Ao sublinhar este aspecto, Mateus tem em vista uma dupla finalidade…

Em primeiro lugar, ele explica dessa forma porque é que, na maioria das comunidades cristãs, os judeus – os primeiros trabalhadores da “vinha” de Deus – eram uma minoria: eles recusaram-se a oferecer frutos bons ao “senhor” da “vinha” e recusaram sempre as tentativas do “senhor” no sentido de uma aproximação e de um compromisso.
Logicamente, o “senhor” escolheu outros “vinhateiros”. O que é decisivo, para a escolha de Deus, não é que os novos trabalhadores da “vinha” sejam judeus ou não judeus; o que é decisivo é que eles estejam dispostos a oferecer ao “senhor” os frutos que lhe são devidos e a acolher o “filho” que o “senhor” enviou ao seu encontro.

Em segundo lugar, Mateus exorta a sua comunidade a produzir frutos verdadeiros que agradem ao “senhor” da “vinha”. Estamos no final do séc. I; passou já o entusiasmo inicial e os crentes da comunidade de Mateus instalaram-se num cristianismo fácil, sem exigência, descomprometido, instalado.

O catequista Mateus aproveita a oportunidade para exortar os irmãos da comunidade a que despertem, a que saiam do comodismo, a que se empenhem, a que dêem frutos próprios do Reino, a que vivam com radicalidade as propostas de Jesus.

O problema fundamental posto por este texto é o da coerência com que vivemos o nosso compromisso com Deus e com o Reino.
Deus não obriga ninguém a aceitar a sua proposta de salvação e a envolver-se com o Reino; mas uma vez que aceitamos trabalhar na sua “vinha”, temos de produzir frutos de amor, de serviço, de doação, de justiça, de paz, de tolerância, de partilha…

O nosso Deus não está disposto a pactuar com situações dúbias, descaracterizadas, amorfas, incoerentes, mentirosas; mas exige coerência, verdade e compromisso.
A parábola convida-nos, antes de mais, a não nos deixarmos cair em esquemas de comodismo, de instalação, de facilidade, de “deixa andar”, mas a levarmos a sério o nosso compromisso com Deus e com o Reino e a darmos frutos consequentes.

O meu compromisso com o Reino é sincero e empenhado? Quais são os frutos que eu produzo?
Quando se trata de fazer opções, ganha o meu comodismo e instalação, ou a minha vontade de servir a construção do Reino?

Fazer frutificar a vinha

Ermes Ronchi, in Avennire

Parábola dos vinhateiros, Codex aureus Epternacensis (pormenor)

A parábola é transparente: a vinha é Israel, os vinhateiros ávidos são as autoridades religiosas, que matarão Jesus como blasfemo. A motivação é a mesma: interesse, poder e dinheiro, ficar com a colheita e a herança. É a voz obscura que grita em cada um de nós: sê o mais forte, o mais astuto, não te importes com a honestidade e serás tu o chefe, o rico, o primeiro. Esta embriaguez por poder e dinheiro é a origem de todas as vindimas de sangue da terra.

O que fará o proprietário? A resposta das autoridades é uma vingança exemplar, novos vinhateiros, novos tributos. A sua ideia de justiça funda-se na eliminação de quem comete erros. Jesus não está de acordo. Ele não fala de fazer morrer, nunca. O seu propósito é fazer frutificar a vinha: será dada a um povo que produza frutos.
A história perene de amor e traição entre Deus e o homem não terminará nem com um fracasso nem com uma vingança, mas com a oferta de uma nova possibilidade: dará a vinha a outros.

Entre Deus e o homem as derrotas servem apenas para realçar melhor o amor de Deus. O sonho de Deus não é nem o tributo finalmente pago nem a condenação a uma pena exemplar para quem errou, mas uma vinha, um mundo que não amadureça mais cachos vermelhos de sangue e amargos de lágrimas, que não seja uma guerra perene pelo poder e pelo dinheiro, mas que amadureça uma vindima de justiça e de paz, a revolução da ternura, a tríplice cura de si, dos outros e da criação.

 

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