Domingo da Santíssima Trindade (PDF) TEXTO

A unidade que nasce do amor

Santíssima Trindade, representação medieval

Há o Pai, a quem rezo com o Pai-Nosso; há o Filho, que me concedeu a redenção, a justificação; há o Espírito Santo, que habita em nós e na Igreja.

E isto fala ao nosso coração, porque o encontramos encerrado naquela expressão de São João, que resume toda a Revelação: «Deus é amor».

Jesus fez-nos conhecer o rosto de Deus como Pai misericordioso; apresentou-Se a Si mesmo, verdadeiro homem, como Filho de Deus e Verbo do Pai, Salvador que dá a sua vida por nós; e falou do Espírito Santo que procede do Pai e do Filho, Espírito da Verdade, Espírito Consolador e Advogado.

A festa de hoje faz-nos contemplar este maravilhoso mistério de amor e de luz, do qual derivamos e para o qual se orienta o nosso caminho terrestre.

Papa Francisco, 2021

 

Passear no coração de Deus

P. José Luís Coelho, CSh , 2020

Albrecht Dürer, Santíssima Trindade

Caminhar dentro de Deus, deixar Deus caminhar dentro de nós. Caminhar dentro do amor, no coração da Trindade, no coração do Amor.

Ser feliz, recrear-se no amor da Trindade, dar um passeio no coração de Deus, permanecer aí.
Deixar-se caminhar pelo amor da Trindade, deixar-se habitar pela Trindade, deixar-se amar na fonte do amor.
Entrar no círculo do amor da Trindade, na amizade de Deus, na Comunhão do Pai, do Filho e do Espírito.

Não existe fonte que não seja amada, e não existe sede que não seja saciada. O ser leva-te ao coração da Trindade, à fonte da vida.
Faz do Amor a tua fonte, Amor que tem nome, Amor de pessoas, Pai, Filho, Espírito Santo, Amor incriado, Amor fonte de todo amor, Fonte que tem nome.
Fica humilde, deixa o Ser enraizar dentro de ti, deixa-te organizar e construir pelo Ser. Não disperses energias buscando coisas. Fica humilde. Quem pode organizar a tua vida mora em ti.

«Como tu, Pai, estás em mim, e Eu em Ti, que eles estejam em nós» (Jo 17,21).
Somos convidados por Jesus a entrar no círculo da amizade da Trindade, para participar da sua vida de amor e aí permanecer.
O Pai ama Jesus, e Jesus ama o Pai, e, como Jesus nos ama, também o Pai nos ama; e o Espírito que é o amor amado do Pai e do Filho completa o fluxo da liberdade do amor de Deus, e também o Espírito nos ama nesse movimento da amizade do amor de Deus. Além de estar connosco, Jesus revela-nos que a nossa vida é estar na própria amizade de Deus. Somos convidados a entrar neste círculo de amor, para saborear a vida em abundância, para sabermos quem somos, para assumirmos a nossa identidade, o nosso ser, para sermos.
O Ser é Deus, é o Amor, é Trindade Santa, em contínuo amar, movimento e ação de amor.

«Quem Me ama será amado por meu Pai. Eu o amarei e Me manifestarei a ele» (Jo 14,21).
Procuramos permanecer no coração de Deus Trindade e vemos Deus intimamente envolvido na História humana. O seu olhar está voltado para nós.
A Criação inteira saiu, transbordou do Amor imenso de Deus, como se fosse a água de uma nascente sem fim. Percebemos Deus, Pai e Mãe, a chamar tudo à vida, na sabedoria do Filho, no qual todas as coisas foram criadas, com o sopro do Espírito que tudo vivifica. Percebo-me também criado por Deus, chamado à vida, feito ser e a ser ainda feito, num momento intenso de amor.

«Compreendereis que estou no Pai, e vós em mim e Eu em vós» (Jo 14,20).
Percebemos Deus, Trindade Santa, a olhar a criação oprimida, a presença do mal e a ausência da vida, a liberdade escrava, o pecado pessoal e o pecado social, estruturado em organizações de pecado, o sofrimento, os caminhos perversos da Humanidade, o beco de destruição em que a humanidade entrou. E vemos o movimento de amor da Trindade para a libertação e a salvação da Humanidade: Jesus encarna, pela vontade do Pai, oferece-Se para viver a nossa vida e realizar a redenção; o Espírito acompanha Jesus na realização do Reino e na sua entrega pela Humanidade. O Amor de Deus faz-se História, Deus revela-Se, na nossa carne, Deus connosco, amor libertador.
Percebemos todas as coisas, a Criação inteira habitada de amor. Em cada partícula, desde a mais minúscula, está a chama do Amor da Trindade, a iluminar o ser de tudo. O universo é a casa de Deus.

«Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 15,12).
Sentimo-nos na História, a respirar no meio de irmãos e irmãs, tendo tudo saído do amor de Deus e tudo fazendo-se da mesma raiz, da mesma verdade e liberdade, fraternidade radical.
O mundo transparece: a beleza, a verdade, a bondade, a ternura fizeram-se carne. A riqueza de Deus é acção criadora de amor: somos frutos dessa riqueza. Na Trindade somos irmãos, irmãs, vida que brota da Vida, a arte do Amor.

«Para que sejam um, como nós somos um: Eu neles e Tu em Mim, para que sejam perfeitos na unidade» (Jo17,23).
A contemplação da Trindade mostra que o interior de Deus é amor que flui, onde nada prende ou cria bloqueios. Tudo corre livre na liberdade do amor, como a alegria do ar que se expande.
Deus é amor livre, liberdade do Amor. Nasce e cresce dentro de nós o grande desejo de sermos livres,
de podermos caminhar na liberdade, no chamado do amor. Queremos trabalhar os nossos mecanismos interiores que nos colocam numa atitude defensiva frente à vida, os nossos bloqueios, os nossos medos, os nossos apegos que nos fazem girar à volta de nós mesmos e travam o fluir da vida de amor. Podemos auto transcender-nos no amor de Deus. Deixamo-nos amar, para saborearmos o amor e o amar.
Queremos centrar a nossa vida em Deus.

«Como o Pai Me amou assim também Eu vos amei. Permanecei no meu amor» (Jo 15,9).
Contemplando a Trindade, percebemos como as nossas escolhas influenciam a vida, e fazem a nossa vida ser rica de dons ou ser vazia e correr para a mediocridade ou o sem sentido.
Tantas energias investidas ao serviço de uma inteligência míope que não sabe distinguir o essencial; para satisfazer um coração cheio de ilusões que precisa de aprender a amar e que seja capaz de libertar e de amar o amor na nossa fome de amar; e tantas acções da nossa vontade fruto de escolhas equivocadas, iluminadas por modismos e dominadas por pressões de tantas circunstâncias perversas.
Se fazemos a vida ser alienada e alienante, se estamos fora da liberdade livre, se produzimos situações que nos desviam de uma vida digna e feliz, também é certo que podemos sair desse círculo fechado de desintegração.

 

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