Domingo XXXI do Tempo Comum (PDF)     TEXTO

Abre!

Evelyn McPeters, Sicómoro

«Quero hoje comer em tua casa. Não ouves que bato à porta?» – Abre.

As lágrimas que Jesus chorará por mim, só por demorar em abrir.

Acontecerá por vezes e por minha culpa que aquilo que o Senhor tem para me dizer
não seja de agradável sabor…

D. Manuel Martins, In “Partilhar é bom”

 

Hoje quero ficar em tua casa

P. Dennis Clark, In Catholic Exchange

O chamamento de Zaqueu

Zaqueu era um dos homens mais ricos de Israel. Ocupava o cargo de chefe dos cobradores de impostos, movia-se nos círculos mais influentes e tinha poder – muito poder. Era também vigarista, colaborador do inimigo e alvo do ódio dos seus compatriotas.

Via-se como um homem de sucesso. Mas inesperadamente, no topo da carreira, apercebeu-se claramente que a sua vida não estava a resultar. Tinha um vazio no coração e há muito que não sabia o que era a alegria. Percebeu, intuitivamente, que nunca mais seria feliz se continuasse no mesmo caminho.

Ao contrário de muitos de nós, Zaqueu sabia que tinha de mudar. Por isso, quando ouviu que Jesus ia passar pela cidade, abandonou toda a dignidade de homem conceituado e subiu a um sicómoro para se assegurar que veria este homem santo, que talvez lhe pudesse dizer como encontrar a alegria que faltava à sua vida.

O resto é história. Jesus levantou a cabeça, olhou-o nos olhos e disse: “Deixa-Me ficar hoje em tua casa”. Jesus ficou e a vida de Zaqueu mudou para sempre quando finalmente encontrou a alegria que há muito procurava.

A história tem um final feliz, e é importante que compreendamos porquê e como é que se chegou a esse desfecho. O ponto de viragem aconteceu antes de Jesus oferecer o seu convite. Aconteceu quando Zaqueu reconheceu a sua infelicidade e decidiu fazer alguma coisa em relação a isso.
Em cada um de nós há lugares da vida que não funcionam, lugares mortos e sem alegria, muitas vezes há anos e anos. E a razão dessa infelicidade é porque persistimos em tentar acender a luz de uma lâmpada enroscada numa torneira. Continuamos à procura da alegria onde ela não pode ser encontrada.

Se nesses lugares ermos da nossa existência pudermos dizer a verdade autêntica que Zaqueu aprendeu a dizer, se conseguirmos ver que algo está errado e precisa de mudar, nesse momento escutaremos as palavras que Jesus nos tem dirigido, palavras que temos rejeitado com as seguranças ilusórias de que está tudo bem connosco.

Ouviremos então dizer: «Hoje quero ficar em tua casa. Quero viver no íntimo da tua vida». E então, com o nosso «sim» a Ele, virá a cura, a transformação e a alegria.

Encare hoje a verdade, diga-a a si mesmo e a Deus, e deixe que a sua cura comece!

Se rezamos, é porque acreditamos que Deus pode e quer
transformar a realidade

Papa Francisco, Audiência geral, Vaticano, 20.3.2019

«Seja feita a vossa vontade». Antes do cuidado do mundo da parte do ser humano, há o cuidado incansável que Deus usa em relação ao ser humano e ao mundo.

O pecador Zaqueu sobe a uma árvore porque quer ver Jesus, mas não sabe que, muito antes, Deus já Se tinha colocado à sua procura. Jesus, quando chega, diz-lhe: «Zaqueu, desce depressa, porque hoje tenho de ficar em tua casa». E no fim declara: «O Filho do homem, com efeito, veio para procurar e salvar o que estava perdido». Eis a vontade de Deus (…), incarnada em Jesus: procurar e salvar aquilo que está perdido.

E nós, na oração, pedimos que a procura de Deus chegue a bom porto, que o seu desígnio universal de salvação se realize. Primeiro em cada um de nós, e depois em todo o mundo. Deus procura cada um de nós, pessoalmente.

Não é ambíguo, não Se esconde por trás de enigmas, não planeou o futuro do mundo de maneira indecifrável. Ele é claro.
S. Paulo, na Primeira Carta a Timóteo, escreve: «Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade». Deus, com o seu amor, bate à nossa porta do coração, para nos atrair a Ele. Deus está próximo de cada um de nós com o seu amor, para nos levar pela mão. (…)

O Pai-nosso, de facto, é a oração dos filhos que conhecem o coração do seu pai e estão certos do seu desígnio de amor. Ai de nós se, pronunciando estas palavras, encolhêssemos os ombros em sinal de resignação perante um destino que nos repugna e que não conseguiremos mudar. Pelo contrário, é uma oração plena de ardente confiança em Deus, que quer para nós o bem, a vida, a salvação. Uma oração corajosa, combativa, porque no mundo há muitas realidades que não estão segundo o plano de Deus.

O cristão não acredita num “facto” inelutável. Não há nada de aleatório na fé dos cristãos: em vez disso há uma salvação que espera por se manifestar na vida de cada homem e mulher e de cumprir-se na eternidade.

Se rezamos, é porque acreditamos que Deus pode e quer transformar a realidade, vencendo o mal com o bem.
A este Deus faz sentido obedecer e abandonar-se, mesmo na hora da provação mais dura.

Assim aconteceu com Jesus no jardim do Getsémani, quando experimentou a angústia e orou: «Pai, se queres, afasta de Mim este cálice! Todavia, não seja feita a minha, mas a tua vontade».

Jesus está esmagado pelo mal do mundo, mas abandona-Se, confiante, ao oceano de amor da vontade do Pai. Também os mártires, na sua provação, não procuravam a morte, mas a ressurreição. Deus, por amor, pode levar-nos a caminhar por trilhos difíceis, a experimentar feridas e espinhos dolorosos, mas nunca nos abandonará. Estará sempre ao nosso lado, dentro de nós.

Para um crente, esta, mais do que uma esperança, é uma certeza: Deus está connosco. A mesma que reencontramos naquela parábola do Evangelho de Lucas dedicada à necessidade de orar sempre. Diz Jesus: «Deus não fará justiça aos seus eleitos, que gritam dia e noite a Ele? Far-lhes-á esperar muito? Eu digo-vos que lhes fará justiça prontamente.

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