Domingo VIII do Tempo Comum (PDF) TEXTO
DO BOM TESOURO DO SEU CORAÇÃO TIRAR O BEM
O bom tesouro do coração: uma definição tão bela, tão plena de esperança, daquilo que somos no nosso íntimo mistério.
Todos temos um tesouro bom guardado em vasos de argila, ouro fino a distribuir.
Melhor, o primeiro tesouro é o nosso próprio coração.
A nossa vida é viva se cultivámos tesouros de esperança, a paixão pelo bem possível, pelo sorriso possível, a boa política possível, uma casa comum onde seja possível viver melhor para todos.
A nossa vida é viva quando tem coração.
Ermes Ronchi , In Avvenire
A PÁSCOA APROXIMA-SE
Enzo Bianchi, In “Monastero di Bose”
A Igreja convida-nos a meditar no grande sinal da ressurreição de Lázaro, profecia da ressurreição de Jesus. Lázaro, precisamente, irmão de Maria e de Marta, estava doente. Jesus gostava muito destes amigos, que frequentava nos períodos de paragem em Jerusalém. Na casa de Betânia podia usufruir do acolhimento cuidadoso de Maria, da escuta atenta de Maria e do afecto fiel de Lázaro.
As irmãs mandam avisá-l’O da doença de Lázaro, mas Ele está longe. Como pode Jesus permitir que um seu amigo adoeça, sofra e morra? Que sentido tem? São perguntas que emergem dentro da rede de amizade de Jesus, mas que ainda hoje ressoam quando nas nossas relações surgem a doença e a morte; é a hora em que a nossa fé e o nosso sermos amados por Jesus parecem ser desmentidos pelos sofrimentos da vida…
Jesus diz: «Essa doença não levará à morte, mas é para a glória de Deus, a fim de que por meio dela o Filho de Deus seja glorificado».
Jesus comove-se, vibra interiormente. Diante da morte de um amigo, de uma pessoa por Ele amada, a primeira reação é o frémito que nasce do constatar a injustiça da morte: como pode morrer o amor?
Jesus chega com os seus discípulos a Betânia quando «Lázaro já está há quatro dias no sepulcro». Sabendo da sua chegada, Marta vai ao seu encontro e dirige-Lhe palavras que são ao mesmo tempo uma confissão de fé e uma censura: «Senhor, se Tu estivesses estado aqui, o meu irmão não estaria morto». Depois acrescenta: «Mas sei que, mesmo agora, o que queres que peças a Deus, Ele Te a concederá». Marta é uma mulher de fé e confessa que onde está Jesus não pode reinar a morte.
Ela crê em Jesus e confessa a própria fé na ressurreição final da carne. Mas Jesus convida-a a dar um passo posterior: «Eu sou a ressurreição e a vida; quem acredita em mim, mesmo que morra, viverá; quem vive e acredita em mim, não morrerá eternamente».
Também Maria, chamada pela irmã, corre ao encontro de Jesus. Não dá sinais de uma fé que possa vencer o seu sofrimento: é inteiramente definida pela sua inconsolável dor. As suas lágrimas são contagiosas: choram os judeus presentes e chora o próprio Jesus.
No duelo entre vida e morte, entre amor e morte, vence o amor vivido por Jesus.
Se Jesus ama e tem como amigo quem acredita nele, não permitirá a ninguém, nem sequer à morte, que o rapte da sua mão!
«Muitos dos judeus acreditaram nele».
A fé não consente escapar à morte física: todos os seres humanos têm de passar através dela, mas para quem adere a Jesus, a morte já não é a última e definitiva realidade.
O amor a Jesus vence a morte. Se somos capazes de colocar a nossa fé-confiança n´Ele, esta página revela-nos que não estamos sós e que mesmo na morte Ele estará junto a nós para nos abraçar na hora em que atravessarmos aquele umbral obscuro e para nos chamar definitivamente à vida com o seu amor.
Eis o dom extremo feito por Jesus a quantos se deixam implicar pela sua vida: a morte não tem a última palavra e aquele que adere a Ele, O ama e por Ele se deixa amar, não morrerá eternamente.
COMO VIVEMOS A FÉ E QUE TESTEMUNHO DAMOS?
Dehonianos
Todos somos chamados a dar testemunho da nossa fé e da proposta de Jesus. Esta reflexão sobre os verdadeiros e falsos “mestres” não é algo que apenas diga respeito à hierarquia da Igreja, mas a todos. Trata-se de uma reflexão sobre a verdade ou a mentira do nosso testemunho.
Como é o nosso testemunho? Identifica-se com a proposta de Cristo?
Pode acontecer que a radicalidade do Evangelho de Jesus seja viciada pela nossa tendência em “suavizar”, “atenuar”, “adaptar”, de forma a que a mensagem seja mais consensual, menos radical, mais contemporizadora… Não estaremos, assim, a retirar à proposta de Jesus a sua capacidade transformadora e a escolher um caminho de facilidade?
Também pode acontecer que anunciemos as nossas teorias e as nossas perspectivas, em lugar de anunciar Jesus e as suas propostas. Isto tem acontecido, com frequência, ao longo da história da Igreja…
É preciso, pois, um permanente confronto do nosso anúncio com o Evangelho e com o sentir da Igreja, a fim de que anunciemos Jesus e não traiamos a verdade da sua proposta libertadora.
Podemos correr o risco de deixar que o sentimento da nossa importância nos suba à cabeça, convencidos de que somos os únicos senhores da verdade. Sempre que isso acontecer, convém interrogarmo-nos acerca da forma como estamos a exercer o nosso serviço à comunidade: estaremos a veicular a proposta de Jesus?
A história da trave e do cisco convida-nos a reflectir sobre a hipocrisia… É fácil reparar nas falhas dos outros e enveredar pela crítica fácil; é difícil utilizar os mesmos critérios de exigência quando estão em causa as nossas pequenas e grandes falhas… Somos tão exigentes connosco como somos com os outros? Temos consciência da nossa necessidade permanente de conversão e de transformação?