Domingo IV do Tempo Comum (PDF)     TEXTO

QUANDO SE DEVE FALAR E CALAR

Papa Francisco

Duccio di Buoninsegna, Jesus frente a Pilatos

A verdade é mansa, a verdade é silenciosa, pelo que com as pessoas que procuram apenas o escândalo, que procuram apenas a divisão, as únicas opções a seguir são as do silêncio e da oração.

Jesus é acolhido com suspeita pelos presentes numa sinagoga, ao declarar-Se o destinatário de uma profecia de Isaías, tendo por isso sido repelido e colocado no alto de uma colina, de modo a ser precipitado.

Não eram pessoas, era uma matilha de cães selvagens que o expulsaram para fora da cidade. Não raciocinavam, gritavam. Jesus calava. Levaram-n’O ao cume do monte para O atirar dali abaixo. Este passo do Evangelho termina assim: “Mas Ele, passando no meio deles, seguiu o seu caminho”.

Jesus, com o seu silêncio vence aquela matilha selvagem e vai-Se embora. Porque ainda não tinha chegado a hora. O mesmo acontecerá na Sexta-feira Santa: a gente que no Domingo de Ramos tinha feito festa para Jesus e lhe tinha dito “bendito és Tu, Filho de David”, dizia “crucifica-O”: mudaram. O diabo tinha semeado a mentira no coração, e Jesus fazia silêncio.
O silêncio que vence, mas através da Cruz. O silêncio de Jesus.

Mas quantas vezes nas famílias começam discussões sobre a política, sobre o desporto, sobre o dinheiro, uma e outra vez, e essas famílias acabam destruídas, nessas discussões nas quais se vê que o diabo quer destruir… Silêncio.

O Senhor nos dê a graça de discernir quando devemos falar e quando devemos calar. E isto em toda a vida: no trabalho, em casa, na sociedade, em toda a vida. Assim seremos mais imitadores de Jesus.

 

A UNIVERSAL LIBERDADE DE DEUS 

Pe. Jacques Fournier

Domenico Ghirlandaio

Aquele que pensa possuir direitos sobre Deus nunca O encontrará. Jesus vai dar aos habitantes de Nazaré dois exemplos de acção divina em favor de pagãos enquanto que o povo de Israel dela parecia excluída, como sucede em Nazaré.

Estes exemplos ligam-se a dois profetas muito unidos entre si: Elias e Eliseu. Eles falaram e agiram não longe da Galileia, no Reino do Norte. Os ouvintes de Jesus não podiam ser mais directamente atingidos pela evocação dos seus milagres, tanto mais que não podiam duvidar dos seus títulos de profeta, dado que Elias estava assinalado como devendo estar presente nos dias do Messias.

Não seria admissível conceber que Elias e Eliseu eram traidores ou indiferentes ao destino de Israel. Elias promete à mulher de Sarepta um alimento inesgotável «em nome do Senhor Deus de Israel».

Quando Naaman foi curado da lepra, depois de obedecer à ordem de Eliseu, professa a sua fé: «Reconheço agora que não há outro Deus em toda a Terra, senão o de Israel». Ele chega mesmo a guardar um pouco da terra de Israel para que os sacrifícios que a partir de então oferecerá a Deus sejam legítimos.

Se os dois outros Sinópticos, S. Mateus e S. Lucas, mencionam apenas a falta de fé dos habitantes de Nazaré, S. Lucas faz seguir imediatamente a rejeição de Jesus pela violência, uma tentativa de homicídio. A lógica espiritual do Evangelho é bem iluminada. A recusa da fé encerra nas trevas e só pode provocar o desejo de eliminação d’Aquele que escandaliza. S. Lucas experimentou-o muitas vezes com S. Paulo, durante as viagens missionárias que realizaram.

É Jesus que dá a sua vida ao Pai. Não é suicida. Levam-no «até ao cimo da colina sobre a qual a cidade estava edificada, a fim de O precipitarem dali abaixo», como um Gólgota prematuro fora de Jerusalém. «Mas Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho.» Ele é livre no meio deles.

No evangelho lucano saberemos depressa que este caminho é o que O conduz a Jerusalém, à Paixão e à Ressurreição. A sua morte é um mistério cuja última palavra está em Deus. Jesus «andou de lugar em lugar, fazendo o bem»