XXVII Domingo do Tempo Comum (PDF) TEXTO

Senhor, aumenta a nossa fé

Paul Bril, Jesus caminha sobre as águas

Meditemos nas palavras de Cristo e convençamo-nos de que, se não permitirmos que a nossa fé se torne morna ou mesmo fria, que perca a sua força dispersando-se por pensamentos fúteis, deixaremos de dar importância às coisas deste mundo e concentrá-la-emos num cantinho da nossa alma.

Então, depois de termos arrancado todas as ervas daninhas do jardim do nosso coração, semeá-la-emos como o grão de mostarda, e o rebento crescerá.

Com uma firme confiança na palavra de Deus, removeremos uma montanha de aflições; ao passo que, se a nossa fé fosse hesitante, não deslocaria nem um montículo de toupeira.

Para finalizar esta dissertação, digo-vos que, uma vez que toda a consolação espiritual pressupõe uma base de fé – e só Deus a pode dar –, devemos pedir-lha sem cessar.

São Tomás Moro, Chamamento para uma coragem invulgar

Características da Fé

São Máximo de Turim (?-c. 420), bispo, Sermão 40

Hendrik ter Brugghen, Lázaro

À primeira vista, um grão de mostarda é pequeno, vulgar e desprezível; não tem sabor, não exala cheiro, não deixa presumir doçura.

Depois de ser triturado, contudo, difunde o seu odor próprio, dá mostras do seu vigor, tem um gosto de chama e queima com ardor tal, que a gente se espanta por encontrar tão grande fogo em grão tão pequeno. […]

Assim também a fé cristã parece, à primeira vista, pequena, vulgar e frágil; não demonstra o seu poder, não faz alarde da sua influência.

Mas, depois de ter sido triturada por várias provas, dá mostras do seu vigor, faz brilhar a sua energia, exala a chama da sua fé no Senhor.

O fogo divino fá-la vibrar com um fulgor tal que, ardendo ela própria, aquece os que dela partilham, como disseram Cléofas e o companheiro quando o Senhor conversou com eles após a Paixão:
“Não estava o nosso coração a arder cá dentro, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” (Lc, 24, 32) […].

O poder da Fé

S. Serafim de Sarov (1759-1833), monge russo, Conversa com Motovilo

Desde que amemos verdadeiramente o nosso Pai celeste como filhos, o Senhor escuta de igual modo um monge e um homem do mundo, um simples cristão. Desde que ambos tenham a verdadeira fé, amem a Deus do fundo do coração e possuam uma fé “grande como um grão de mostarda”, “ambos deslocarão montanhas”.

O próprio Senhor diz: “Tudo é possível àquele que crê”. E o santo apóstolo Paulo exclama: “Posso tudo em Cristo que me dá forças”. Mais maravilhosas ainda são as palavras do Senhor a propósito dos que crêem nele: “Aquele que acredita em Mim fará também as obras que Eu faço e fará ainda maiores, porque eu vou para o Pai. Tudo o que pedirdes em meu nome, Eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, Eu a farei”.

E é mesmo assim, ó amigo de Deus. Tudo o que pedirdes a Deus, obtê-lo-eis, desde que o vosso pedido seja para glória de Deus ou para o bem do vosso próximo.

 

Cristo transforma-nos

Papa Francisco, 6 Outubro 2019 e 14 Junho 2015

A página do Evangelho de hoje apresenta o tema da fé, introduzido pela pergunta dos discípulos: «Aumenta a nossa fé!». Uma bela oração, que devemos recitar muito durante o dia: «Senhor, aumenta a minha fé!».

«Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a essa amoreira: “Arranca-te daí e planta-te no mar”, e ela havia de vos obedecer». A amoreira é uma árvore forte, bem enraizada na terra e resistente aos ventos. Portanto, Jesus quer fazer compreender que a fé, ainda que pequena, pode ter a força de erradicar até mesmo uma amoreira. E depois transplantá-la no mar, o que é algo ainda mais improvável: mas nada é impossível para aqueles que têm fé, porque eles não confiam nas suas próprias forças, mas em Deus, que tudo pode.

A fé comparável com o grão de mostarda é uma fé que não é soberba nem autoconfiante; não pretende ser a de um grande crente, por vezes fazendo má figura! É uma fé que na sua humildade sente uma grande necessidade de Deus e na sua pequenez abandona-se com plena confiança a Ele. É a fé que nos dá a capacidade de olhar com esperança para os altos e baixos da vida, que nos ajuda a aceitar até mesmo as derrotas e os sofrimentos, sabendo que o mal nunca teve, nunca terá, a última palavra.

Como podemos compreender se realmente temos fé, isto é, se a nossa fé, ainda que pequena, é genuína, pura, direta? Jesus no-lo explica indicando qual é a medida da fé: o serviço. (…) o homem de fé comporta-se assim em relação em Deus: rende-se completamente à sua vontade, sem cálculos nem pretensões.

Esta atitude para com Deus reflecte-se também na forma como nos comportamos em comunidade: reflecte-se na alegria de estarmos ao serviço uns dos outros, encontrando já nisto a nossa recompensa e não nos reconhecimentos nem nas vantagens que disto podem derivar. É o que Jesus ensina no final deste relato: «quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”».

Servos inúteis, ou seja, sem pretensão de ser agradecidos, sem reivindicações. «Somos servos inúteis» é uma expressão de humildade e disponibilidade que faz tanto bem à Igreja e recorda a atitude correcta de trabalhar nela: o serviço humilde de que Jesus nos deu o exemplo, lavando os pés dos discípulos.

A Palavra de Deus faz crescer, dá vida.
E aqui gostaria de vos recordar mais uma vez a importância de ter o Evangelho, a Bíblia, ao alcance — o Evangelho pequeno na bolsa, no bolso — e de nos alimentarmos todos os dias com esta Palavra viva de Deus: ler todos os dias um excerto do Evangelho, um trecho da Bíblia. Nunca vos esqueçais disto, por favor. Porque é esta a força que faz germinar em nós a vida do Reino de Deus.

A mostarda, apesar de ser a mais pequenina de todas as sementes, está cheia de vida e cresce até se tornar «a planta mais frondosa do horto».
É assim o Reino de Deus: uma realidade humanamente pequena e de aparência irrelevante. Para fazer parte dele é preciso ser pobre de coração; não confiar nas próprias capacidades, mas no poder do amor de Deus; não agir para ser importante aos olhos do mundo, mas precioso aos olhos de Deus, que tem predilecção pelos simples e humildes. Quando vivemos assim, através de nós irrompe a força de Cristo e transforma o que é pequenino e modesto numa realidade que faz fermentar toda a massa do mundo e da história.

O Reino de Deus requer a nossa colaboração, mas é sobretudo iniciativa e dom do Senhor.
A nossa obra frágil, aparentemente pequenina face à complexidade dos problemas do mundo, se for inserida na de Deus não receia as dificuldades. A vitória do Senhor é certa: o seu amor fará germinar e crescer todas as sementes de bem presentes na terra. Isto abre-nos à confiança e à esperança, não obstante os dramas, as injustiças, os sofrimentos que encontramos. A semente do bem e da paz germina e desenvolve-se, porque o amor misericordioso de Deus a faz amadurecer.

 

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