Domingo III da Páscoa, Dia da Mãe (PDF)  TEXTO

Albrecht Dürer, A Virgem e o Menino

Ó Virgem Maria, volvei para nós os vossos olhos misericordiosos (…)e confortai a quantos se sentem perdidos e choram pelos seus familiares mortos e, por vezes, sepultados de uma maneira que fere a alma (…).

Mãe de Deus e nossa Mãe, alcançai-nos de Deus, Pai de misericórdia, que esta dura prova termine e volte um horizonte de esperança e paz. Como em Caná, intervinde junto do vosso Divino Filho, pedindo-Lhe que conforte as famílias dos doentes e das vítimas e abra o seu coração à confiança (…).

Mãe amadíssima, fazei crescer no mundo o sentido de pertença a uma única grande família, na certeza do vínculo que une a todos, para acudirmos, com espírito fraterno e solidário, a tanta pobreza e inúmeras situações de miséria. Encorajai a firmeza na fé, a perseverança no serviço, a constância na oração.

Papa Francisco, Oração para o mês de Maio 2020 (Excertos)

Precisamos de uma fé em primeira mão

Tolentino de Mendonça

Rapahel, Pesca milagrosa

A fé, manifestada em Jesus, ensina-nos a viver neste mundo. O nosso ponto de partida pode ser a passagem da Carta a Tito (Tt 2, 12), onde se diz a propósito de Jesus: «a graça de Deus, fonte de salvação, manifestou-se a todos os homens, ensinando-nos a viver neste mundo».

Esta frase é um desafio, antes de tudo, a tomarmos a sério a humanidade de Jesus como narrativa de Deus e do Homem. Nessa humanidade temos o caminho, a verdade e a vida.

Hoje sentimos a necessidade muito grande de uma fé orientada para a vida. De uma fé que possa constituir uma arte de viver, um laboratório para uma existência autêntica e não apenas para a manutenção de um conjunto de práticas fragmentárias.

E precisamos reencontrar ou reinventar, a partir da fé, uma gramática do humano. A fé é um exercício muito concreto de confiança na narrativa de Deus que Jesus nos relata com a sua própria vida, com o seu próprio corpo, os seus gestos, o seu silêncio, a sua história, a poética da sua humanidade.

Que se pode concluir então? Que Deus, por exemplo, não bate a uma porta que nós não temos, mas está à nossa porta e bate; que Deus não está numa época passada ou futura simplesmente, mas Deus emerge no nosso presente histórico e é aí (é aqui!) que o encontro com Ele se torna para nós decisivo.

Há um ensaio literário de uma grande autora americana, Susan Sontag, onde ela se levanta contra a interpretação, porque diz, «O mundo encheu-se de comentários, já só vivemos de coisas em segunda mão».

De facto, cada vez estamos mais distantes da fonte, do original, do acontecimento, porque vivemos na novela dos comentários e das interpretações. Há sempre mais uma interpretação que se sobrepõe, à maneira de cascas de cebola. Mas o que é a essência do (nosso) problema? O que é o núcleo fundamental? Isso como que nos escapa.

E Sontag dizia que o que temos a fazer é ensinar a ver melhor, a ouvir melhor, a saborear melhor, a tocar melhor. No fundo, a exercitar melhor a nossa humanidade.

Uma fé vivida aqui e agora é também uma fé que não se deixa capturar pelo labirinto epidérmico dos meros comentários, mas arrisca-se a construir como uma aventura na ordem do ser.

As nossas fraquezas tornam-se lugar da acção prodigiosa do Senhor

Pe. Sérgio Diz Nunes e Pe. Adroaldo Palaoro, sj

Konrad Witz, a Pesca milagrosa

O amor que os apóstolos manifestam por Jesus, uma alegria que transborda e se torna impossível de conter, não acontece por acaso.

É fruto de uma vida partilhada, de muitos momentos vividos em conjunto. Em todos esses momentos, eles foram percebendo que o Senhor nunca deixava de estar com eles, que sempre os acompanhava.
Experimentavam, na relação com Jesus, o que era serem amados.

A comunidade é o lugar privilegiado para aprender a descobrir os sinais do Ressuscitado no meio de nós. A união de esforços e de vontades é, habitualmente, sinal claro de que aquilo que nos mobiliza é muito maior que nós.

As nossas fraquezas tornam-se lugar para a acção prodigiosa do Senhor. Sentimo-nos irmanados por um apelo comum.
Lançar as redes, confiando n’Aquele que tudo torna possível.

Vivemos a Ressurreição quando ajudamos os outros a encontrar razões para viver e alimentamos os sonhos por dias melhores, com pão na mesa de todos e com dignidade garantida.

A Ressurreição acontece nos pequenos e simples gestos de partilha, de perdão sincero e de confiança alegre.
Ela está presente nos corações que mantêm viva a novidade da vida. E revela-se na capacidade de ver o mundo e as pessoas com olhar de misericórdia, que reconstrói a existência fragmentada.

Eis por que é fundamental o exercício do olhar transparente, da escuta atenta, da sensibilidade atenta… Importa contemplar o amor entre as pessoas, o cuidado do planeta, o sorriso das crianças, o sofrimento e as limitações humanas, a festa e a alegria, os rostos marcados pelo desgaste do caminho, bem como as lutas e as conquistas quotidianas.

Tudo é mensagem, tudo se reveste de sentido.

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