No dia três de Dezembro, quinta-feira, celebrámos a memória litúrgica de São Francisco Xavier, o grande missionário do Oriente falecido em 1552, quando procurava entrar na China, e proclamado Padroeiro das Missões.Entre 1541 e 1552, partindo de Roma, Francisco Xavier passou por Portugal, chegou à Índia, percorreu o Extremo Oriente, evangelizou o Japão e morreu às portas da China.
O seu único objectivo: levar o Evangelho até aos confins do mundo que se abria diante dele com as navegações dos portugueses.
Hoje não há lugar para o estilo missionário de Francisco Xavier. Os tempos são outros e o anúncio do Evangelho conhece caminhos diferentes. Mas continua a ser necessário… e tu podes fazê-lo mesmo sem deixar a tua terra. Pede ao Senhor coragem para seres sua testemunha… e começa assim a tua oração.
in Breviary
Das cartas de São Francisco Xavier, presbítero, a Santo Inácio
(Cartas de 20 de Out. de 1542 e 15 de Janeiro de 1544: Epist. S. Francisci Xaverii aliaque eius scripta, ed. G. Schurhammer — I. Wicki,t. I: «Mon. Hist. Soc. Iesu» 67, Romae, 1944, pp. 147-148; 166-167)
Ai de mim se não anunciar o Evangelho
Viemos por povoações de cristãos, que se converteram há uns oito anos. Nestes sítios não vivem portugueses, por a terra ser muitíssimo estéril e extremamente pobre. Os cristãos destes lugares, por não terem quem os instrua na nossa fé, somente sabem dizer que são cristãos. Não têm quem lhes diga Missa e, ainda menos, quem lhes ensine o Credo, o Pai–Nosso, a Ave-Maria e os Mandamentos.
Quando eu chegava a estas povoações, baptizava todas as crianças por baptizar. Desta forma, baptizei uma grande multidão de meninos que não sabiam distinguir a mão direita da esquerda. Ao entrar nos povoados, as crianças não me deixavam rezar o Ofício divino, nem comer, nem dormir, e só queriam que lhes ensinasse algumas orações. Comecei então a saber por que é deles o reino dos Céus. Como seria ímpio negar-me a pedido tão santo, comecei pela confissão do Pai, do Filho e do Espírito Santo, pelo Credo, Pai-nosso, Ave-Maria, e assim os fui ensinando. Descobri neles grande inteligência. Se houvesse quem os instruísse na fé, tenho por certo que seriam bons cristãos.
Muitos deixam de se fazer cristãos nestas terras, por não haver quem se ocupe de tão santas obras. Muitas vezes me vem ao pensamento ir aos colégios da Europa, levantando a voz como homem que perdeu o juízo e, principalmente, à Universidade de Paris, falando na Sorbona aos que têm mais letras que vontade para se disporem a frutificar com elas.
Quantas almas deixam de ir à glória e vão ao inferno por negligência deles! E, se assim como vão estudando as letras, estudassem a conta que Deus Nosso Senhor lhes pedirá delas e do talento que lhes deu, muitos se moveriam a procurar, por meio dos Exercícios Espirituais, conhecer e sentir dentro de suas almas a vontade divina, conformando-se mais com ela do que com suas próprias afeições, dizendo: «Senhor, eis-me aqui; que quereis que eu faça? Mandai-me para onde quiserdes; e se for preciso, até mesmo para a Índia».