Ignaz Dullinger, A pobre viúva
A Igreja «em saída» é uma Igreja com as portas abertas.
Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido.
Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho.
(…) Quando se lê o Evangelho, encontramos uma orientação muito clara: (chegar) não tanto aos amigos e vizinhos ricos, mas sobretudo aos pobres e aos doentes, àqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos, «àqueles que não têm com que te retribuir».
Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta mensagem claríssima. Hoje e sempre, «os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho», e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres.
Não os deixemos jamais sozinhos!.
Papa Francisco, Evangelii gaudium
Sementes da generosidade
Luigino Bruno
As empresas e todas as organizações serão lugares de vida boa e plena desde que deixem viver virtudes não económicas ao lado das económicas-empresariais.
Exige que os dirigentes estejam dispostos a relativizar até mesmo a eficiência, que se está a tornar o verdadeiro dogma da nova religião do nosso tempo.
A generosidade é uma destas virtudes não económicas, mas também essenciais para todas as empresas e instituições.
A raiz da generosidade encontra-se na palavra latina “genus”, “generis”, um termo que lembra raça, família, nascimento – é este o primeiro significado da palavra “genere”
Esta etimologia recorda-nos que a nossa generosidade tem muito a ver com a transmissão da vida: com a nossa família, com as pessoas à nossa volta, com o ambiente em que crescemos e aprendemos a viver.
A generosidade forma-se dentro de casa.
A que temos dentro depende muito da generosidade dos nossos pais, de como e quando se amaram antes de nós nascermos, das escolhas de vida que fizeram e das que fazem quando nós começamos a olhá-los. Da sua fidelidade, da sua hospitalidade, da sua atitude para com os pobres, da sua disponibilidade em “gastar” o tempo para ouvir e ajudar os amigos, do seu amor e do reconhecimento para com os seus pais.
O depósito de generosidade duma família, de uma comunidade, de um povo, é uma espécie de soma da generosidade de cada um.
Cada geração desenvolve o valor deste depósito ou o reduz, como está a acontecer, hoje, na Europa, onde a nossa geração, empobrecida de grandes ideais e paixões, está a delapidar o património de generosidade que herdou.
A lição de gratuidade de Charles de Foucauld
Pablo d’Ors, 2016
Um olhar mesmo superficial aos escritos de Charles de Foucauld, sobretudo diários espirituais e cartas, faz-nos compreender como ele atravessou a vida escrutinando a própria consciência, entrando nas motivações dos próprios atos, revendo as intenções, examinando minuciosamente o mínimo detalhe, como tinha aprendido de Santo Inácio, projetando sonhos com os quais dar corpo a uma intuição, observando-se no espelho de Jesus Cristo, o seu Bem-amado, estudando o que seria mais aconselhável e oportuno, censurando-se as falhas, agradecendo os dons recebidos, louvando por tanto bem e bondade, programando o impossível… (…)
A certo ponto da sua vida, esmagado por tanto amor, Foucauld cozeu um coração vermelho no seu hábito branco, dando uma clara prova de como aquele coração o tinha atado. Foucauld foi certamente um sentimental, mas no interior de uma personalidade poliédrica de incomparável riqueza. Ainda que a sua fosse uma vocação à oração contemplativa e silenciosa, nunca abandonou a oração afetiva, alimentada por palavras e imagens que a mantiam acesa.
Praticou a custódia do coração: sentir a vida, oculta e frágil, em cada palpitação; sentir a Vida com maiúscula nesta nossa vida, tão limitada e intensa, tão humana e tão divina.
No termo da vida, pouco antes de ser assassinado, Foucauld encontrou-se – serviram-lhe décadas inteiras para chegar a isto – com as mãos felizmente vazias.
Poder-se-ia dizer que ao longo da sua existência recolheu um fracasso após o outro: último da sua classe no exército, no qual esteve várias vezes para ser expulso por causa dos seus escândalos e indisciplina.
Foucauld é um dos mais conseguidos ícones do fracasso. Porque preferiu os últimos lugares aos primeiros, a vida oculta à pública, a humilhação à elevação.
Por tudo isto, Foucauld é a imagem em que podem reconhecer-se todos os fracassados da história. Não é, todavia, o único; há outros com ele, todos solitários, todos loucos.
«Pai meu, eu me abandono a Ti.
Faz de mim aquilo que quiseres.
O que quer que faças de mim,
eu Te agradeço.
Estou pronto para tudo, aceito tudo,
desde que a tua vontade se cumpra em mim
e em todas as tuas criaturas.
Não desejo nada mais, meu Deus.
Entrego a minha alma nas tuas mãos,
dou-ta, meu Deus,
como todo o amor do meu coração,
porque Te amo.
E é para mim uma exigência de amor o dar-me, o entregar-me nas tuas mãos sem medida,
com uma confiança infinita,
porque tu és o Pai meu».
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